sábado, 7 de abril de 2007

Torres del Paine

Acordo cedo no sábado, afinal, hoje é o dia de visitar as famosas Torres del Paine. Aqui do refúgio Torres tem-se uma visão linda da bela face sudeste do cerro Almirante Nieto, um pouco mais adiante estão as Torres Central e Norte, além dos Cerros Peineta e Nido de Condor. Tudo isto vejo agora sentada a uma mesa do refeitório degustando o meu desayuno de huevos revueltos, mingau, torradas, manteiga, geléia, suco, e chá com leite. Enquanto comemos, Daniel satisfaz minha curiosidade sobre os glaciares, esclarecendo que os há de dois tipos: os secos e os úmidos. Os primeiros são extensões de gelo oriundos dos campos de gelo, enquanto os segundos são resultado da precipitação de neve sobre as montanhas como os que avisto sobre o cerro Almirante Nieto. Às 9 da manhã, tomamos a trilha que segue o vale Ascencio, ladeada, à esquerda pelo onipresente cerro Almirante Nieto com seus belos glaciares colgantes, e, à direita, do outro lado do rio, impõem-se outros cerros riscados de branco em seus flancos por canaletas de neve. A vegetação na beira da trilha é de matorrales, sendo encontrada no chão outra frutinha rasteira muito gostosa, o mirtilo, semelhante à chaura. Quando meus olhos se elevam pelas encostas dos cerros, a ausência de vegetação denuncia a coloração árida do deserto marginal de altura. Durante boa parte do trajeto até o refúgio Chileno sobe-se, sobe-se e sobe-se, nada de muito difícil, até porque ver e ouvir o rio Ascencio serpenteando lá embaixo, soa como música aos meus ouvidos. Atravessamos a pontezinha que cruza o rio e alcançamos a margem oposta onde se encontra o refúgio Chileno já fechado a esta época do ano. Sento-me num dos bancos que ficam atrás do refúgio e tiro a jaqueta, o esforço da subida, afinal foram mais de 2 horas de caminhada, se faz sentir. Aproveito e desço até o rio pra encher minha garrafa com a água que sinto geladinha através do plástico do recipiente. Após o refúgio Chileno, entra-se nos bosques magalhânicos, um lugar de conto de fadas, onde imperam as lindas faias cujas folhas já exibem a coloração amarelada, típica do outono, pedaços de troncos de árvores servem de pontilhões para se atravessar os córregos de espumantes águas cristalinas que sulcam o terreno coberto de folhas, galhos de árvores caídos no solo formam bizarras esculturas naturais. O rio Ascencio acompanha meu trajeto até o momento em que nos desviamos à esquerda, pra iniciar a ascensão sobre a morena, uma íngreme ladeira formada por rochas de tamanho médio a grande, que conduz ao mirador de onde se avistarão as torres. Este trajeto, sim - embora dure apenas 50 minutos - é bem puxado! Afinal percorre-se um desnível de 350 metros até se atingir o topo da elevação onde, enfim, podem ser admiradas as três agulhas de granito: a Sul, a Central e a Norte que, para os desavisados, parecem duas pois apresenta duplas pontas. Aos pés das Torres bóia um lago de serenas águas verdes. Não entendi, até porque nem questionei, as torres significarem, apesar de sua cor rosa, azul na linguagem indígena. Ao lado da Torre Norte, vêem-se os cerros Peineta e o Nido de Condor, uma formação rochosa magnífica, pontiaguda, formato retangular, colorida de preto no topo e cinza claro na base. No lado oposto, a face nordeste do Cerro Almirante Nieto. Sento-me e fico apreciando aquele lindo anfiteatro de rochas. O dia, soberbo, céu, azul, desembaraçado de nuvens. Um passarinho pousa perto de mim, foco a câmera e disparo, aprisionando a ave na memória digital da máquina. Apesar do bom tempo, começa a cair águanieve, como chamam aqui a neve em flocos diminutos. Tudo é tão bom, a vida é bela e eu me sinto viva demais. Descemos do mirador e atravessamos o acampamento Torres na intenção de alcançarmos o vale do Silêncio, situado no final do vale Ascencio, à esquerda. Ambos os vales, apesar da pequena altitude, são considerados de alta montanha devido a similaridade das condições climáticas. Avisto no fundo do vale Ascencio os cerros Cabeça de Índio e o Oggioni. Embora pequenos, estes dois vales são morenas e portanto nada fáceis de caminhar, em sendo assim, desisto: além de passar das 4 da tarde já me sinto bem cansada. Daniel e eu retornamos, chegando ao refúgio Las Torres às 19 horas, já sem luz do sol. Sinto-me bem contente, afinal havia percorrido 22 km, e a janta é tudo de bom: sopa de verduras, merluza coberta com cebola e uma fatia de tomate com orégano sobre um colchão de acelga e, de sobremesa, um flan de leite. Se a comida nos outros refúgios for tão boa, quanto a servida neste, vou acabar engordando!

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