segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Los Macho...Cados

Bueno, lá vou eu junto com Fernando no carro de Raul, amigo do guia, rumo à Bolívia. Após rodarmos 60 km deixamos pra trás a província de Salta, penetrando na província de Jujuy. A partir de Volcán, a paisagem começa a mudar porque já se pode perceber melhor a quebrada de Humahuaca, um vale profundo e estreito por onde corre o rio Grande, nesta época do ano apenas um fio de água. Paramos na estrada pra curtir o belíssimo cerro de Los 7 Colores situado em frente a Purmamarca, vilarejo fincado a 2.130 metros. Como não podia deixar de ser, entramos na pitoresca e turística vila cujas casas, algumas de arenito rosado, dão um toque caliente às ruelas. Aproveito, enquanto os demais amigos de Fernando não chegam, pra dar um rolê pelo pueblito. Lojas, cafeterias e restaurantes, além de dezenas de bancas, onde as índias expõem seus artesanatos, circundam a praça. No canto leste, cercada por um muro branco, a igrejinha de Santa Rosa de Lima, igualmente caiada de branco, registra em sua frontaria a data da construção: 1648. Subo ao mirador El Porito donde se avistam de perto os multicoloridos cerros e a vila abaixo. Encontro então no restaurante onde iremos almoçar os homens que irão também subir o Licancabur. Pertencentes à conservadora sociedade saltenha, economicamente muito bem de vida, todos são sessentões salvo um, de 40 anos, chamado Manoel, que se revela o engraçadinho do grupo. Chega falando em voz alta, tratando os amigos "carinhosamente" de pelotudos e disparando no me rompan los huevos quando contrariado. Consciente de que falar mal das mulheres arrancará riso fácil, em especial se for da sua, é o que faz assim que senta à mesa, garantindo dessa forma a atenção geral. Autodenomina-se un pentejo gracioso, quando na verdade não passa dum tipo vulgar. A partir de Purmamarca, seguimos pela ziguezagueante e empinada Cuesta de Lipán onde do alto de seu mirador, a 4.170 metros, posso admirar a linda e sinuosa RN 52 que liga a quebrada de Humahuaca a puna de Jujuy. A caminho de Alfarcito, a paisagem econômica, composta por gramíneas espinhentas, comíveis apenas por lhamas e vicunhas, é abruptamente interrompida pela brancura da planície de Salinas Grandes, um deserto de sal explorado por particulares. Situada no altiplano, a 3.600 metros, Alfarcito de la Puna ou San Francisco de Alfarcito, embora não conte com mais que 150 almas espalhadas em casas de pedra, palha e barro, tem - eba! - wifi coletivo, pousada e restaurante. Venta pra caramba o que não me impede de subir ao mirador de La Cruz donde avisto a laguna Guayatayoc em cujas margens as aves saciam a sede, em especial, após as chuvas intensas que caem no verão, amenizando assim o teor de salinidade de suas águas salobras. Domingo, rumo a Paso de Jama, entramos brevemente em Susques, pueblo maior que Alfarcito, em cuja arborizada avenida destaca-se, além do busto dum general, a simpática igrejinha com telhado de palha. Mulheres aproximam-se do templo para assistir à missa matutina. Os demais homens do grupo, em número de 3, vão na camionete pertencente a Manoel. Decorridos 106 km, rodando ainda pela RN 52, alcançamos os 4.200 metros do Paso de Jama, fronteira da Argentina com Chile. Muito rápido os trâmites burocráticos de saída da Argentina e de entrada no Chile porque tanto aduana quanto imigração são compartilhadas, localizando-se no mesmo prédio, em guichês contíguos. Andamos mais 120 km até Hito de Cajon, outro passo da cordilheira dos Andes, que divide dessa feita Chile da Bolívia. A obsoleta Bolívia não adota o compartilhamento de fronteiras, motivo pelo qual, após carimbarmos nossa saída do Chile, temos de rodar alguns kms até o posto boliviano, finalizando – ufa! - nossa entrada na Bolívia. Na aduana, em frente ao refúgio Laguna Verde, se paga 25 dólares a título de entrada na Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa onde se situam vários vulcões, destacando-se Sairecabur e Putana a oeste, já do Licancabur, que iremos subir amanhã, só se vê seu cume escondido pelo flanco norte do Juriques. De alguns vulcões inativos, como Suzana, é possível a extração de enxofre. O refúgio Laguna Verde, situado a não desprezíveis 4.450 metros de altitude, em realidade, se queda diante da laguna Blanca, separada por estreita faixa de terra da laguna Verde, mais ao sul. Às suas margens, flamingos e outras aves aquáticas dão o ar de sua graça. No meio da tarde, o vento começa a se fortificar e a poeira levantada tal qual uma echarpe bege esvoaça pelo ar. O espetacular pôr do sol, colorindo a paisagem dum rosa metálico, me consola um pouco do ataque que sofrera de Manoel durante o almoço. Abruptamente, o homem virara-se pra mim e declarara solene Beatriz eres divina (pausa sádica) cuando quedas de boca cerrada. Impactada, a pateta não enfrentou a ofensa, deixando prevalecer, infelizmente, a baixa autoestima inculcada em nós, mulheres pelo depreciativo e velhaco discurso masculino de menos valia desde tempos imemoriais. Confesso que ainda sinto raiva de mim – olha só que loucura! - por ter deixado passar em brancas nuvens a grosseria gratuita daquele boçal que queria se fazer de humorista, a minha custa, pros amigos. À mulher, na perspectiva dos macho...cados, como denomino este tipo de homem, só é permitido abrir a boca pra dizer como o pau deles é gostoso, como são geniais e maravilhosos. Então sim, ella es hermosa hablando. Consigo agora entender às ganhas porque muita mulher apanha e nem consegue denunciar seus agressores. O baixo autoquerer-se, adquirido em séculos de submissão, reforça os laços de aceitação da violência masculina. Pensam que alguém na mesa reagiu? Nem percebi se sorriram ou riram tão atordoada me senti. Todos permaneceram calados, inclusive Fernando. Mas a implicância não parou porque pouco depois, em comentários sobre futebol, o homem observa que o Brasil está liquidado neste esporte. Ele realmente estava a fim de me provocar duma forma sórdida tanto é que o golpe final foi desferido quando ele grita “Bolsonaro, Bolsonaro”, sabedor de minha aversão ao então candidato a presidente do Brasil. Finalmente, esboço uma reação e levantando da mesa, num tom indignado, brado basta, tudo tem limite!, conseguindo enfim calá-lo. Porra, viajara até o país deles pra participar do que imaginara ser uma agradável aventura e estava sendo gratuitamente maltratada, atacada de forma covarde. Foram todos omissos e, portanto, cúmplices desse ataque misógino e, porque não, xenófobo que sofri. Prevalece, mais uma vez, o tal "espírito de corpo", inventado pelos homens de modo a arranjarem álibis fajutos pros seus desmandos. A viagem perdera a graça. Tanto que, dia seguinte, enquanto estou subindo a face norte do Lica, lá pelos 5.100 metros resolvo descer. Não foi por cansaço físico, já que me mantinha sempre à frente de todos, atrás apenas do guia. Acontece que fiquei enojada, farta até os gorgomilhos de conviver com essa gente. Enfatizo, contudo, que o pior de todos foi o Senhor Fernando Santamaria. O papel desempenhado por ele, ou melhor, que não desempenhou como guia, foi desprezível. Explico. Quando decido não mais continuar a subir o vulcão, ele todo pimpão segue com os amigos ao invés de descer comigo, sua cliente! Abraça-me todo emocionado e elogia minha generosidade de permitir que continue a caminhada rumo ao cume (espertamente, ele se antecipou a qualquer reivindicação que porventura eu pudesse fazer, tornando meu silêncio atônito como sinal de consentimento). Mas sua atitude descortês não tem limites. À noite, quando estamos em San Pedro de Atacama me deixa ir jantar sozinha porque prefere acompanhar Seus Amigos! E no dia seguinte, durante o café da manhã, se eu não o tivesse chamado, ele teria se sentado a outra mesa com Seus Amigos!! E eu pagando por isso!! 300 dólares pra que o chupaculos desfrute do convívio dos a-mi-gos, esquecendo-se de que está a trabalhar!! Tô me sentindo a otária. A cara de pau desse senhor é inigualável. Bueno, nada como uma boa noite de sono pra restaurar a autoestima abalada por tanta rejeição. Assim, na terça, no retorno a Salta, até porque seria uma imbecilidade de minha parte deixar que essa gente me impedisse de desfrutar a beleza do cenário durante o trajeto de San Pedro a Paso de Sico, mergulho encantada o olhar na paisagem. São dezenas e dezenas de vulcões, alguns com os cumes nevados, sobressaindo no árido altiplano chileno. Numa curva de estrada, eis que surge o lindo salar de Talar tendo diante de si uma fulgurante laguna de coloração turquesa. Pouco antes de Sico, Las Barrancas, impressionantes paredões rochosos, semelhantes aos muros dum castelo medieval. A partir da Argentina, a paisagem continua exibindo a aridez da puna entremeada aqui e acolá por salares, destacando-se o de Rincon. Em Abra Chorillos, situada a 4.475 metros, começa-se a descer uma fantástica estrada de chão batido com curvas deliciosamente fechadas até a empoeirada San Antonio de los Cobres onde paramos pra almoçar no restaurante Huayra Huasi em cujo cardápio o destaque são empanadas fritas. Chego enfim a Salta e, dia seguinte, quarta-feira, pico a mula de volta pro Brasil. Durante a viagem chego à conclusão que com esse grupo de argentinos pra lá de pelotudos pari uma montanha mais alta que o Licancabur! 

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Retorno a Salta, La Linda

Mazaaahhhh guria, de novo pegando a estrada?!! Mal esquento assento em casa e me mando pra Argentina. Por qual fronteira entrar, então, hein senhorinha? Unidunitê, salame, minguê, a escolhida é você, São Borja. Afora 60 km rodados, inicialmente, na BR 386, o restante transcorre na BR 287. Tanto uma rodovia quanto a outra apresentam asfalto deteriorado em largos trechos, exigindo atenção redobrada desta motorista que vos escreve, já que o perigo é constante ao dirigir em estradas tão precárias. Uma vergonha a maneira como nossos impostos NÃO estão sendo bem empregados em infraestruturas básicas como as vias terrestres. E deixo passar o motivo de o sistema ferroviário ter sido impiedosamente desmontado no país! Desculpem o desabafo, sei que este blogue não se presta a tal tipo de reivindicações, mas às vezes sinto muita raiva pelo modo como os governantes tratam mal o Brasil...arghhh!!! Bueno, à medida que me aproximo de São Borja, o relevo pontuado por leves ondulações, exibindo horizontes a perder de vista, indica a presença do pampa. Ocupando inacreditável porção do território gaúcho - 63%!! –, RS é o único estado brasileiro, juntamente com Uruguai e Argentina, em abrigar tal bioma no planeta Terra! A pequena São Borja, com pouco mais de 60 mil habitantes, situa-se à margem do rio Uruguai, sendo considerada o 1º assentamento dos 7 Povos das Missões. Nos dias que correm, vive mais das memórias dos ilustres nativos Getúlio Vargas e Jango Goulart, emblemáticos presidentes brasileiros. Apesar de modesto, o hotel é limpo e tem garagem. Todo cuidado é pouco nestes tempos violentos em que vivemos no Brasil onde os assaltos à mão armada não são mais exceção. Dia seguinte, sábado, após o café da manhã, atravesso a ponte Internacional da Integração sobre o rio Uruguai que liga Brasil à Argentina. O pedágio é caro, 50 reais! Pode-se pagar em reais ou pesos. Resolvo fracionar os 1.800 km até Salta em 3 dias. Ontem foram 585 km de POA até São Borja, hoje será o dia mais longo, 650 km até Pampa del Infierno onde vou dormir. Sigo pela Ruta Nacional 12 até Corrientes, cidade grandota com 320 mil habitantes, vendo de relance ruas arborizadas, muitos edifícios e uma praia cheia de gente à margem do Paraná quando cruzo a ponte sobre o rio. Após Corrientes, a Ruta Nacional passa a ser a 16. Bem boas as rodovias e embora tenham apenas uma pista, a velocidade máxima permitida é 110 km. Bastante controle da gendarmeria, tanto que me param 2 vezes para revistar o carro. Buscam drogas. Pampa del Infierno pertence à província de Chaco e sua alta temperatura justifica porque é assim chamada. Os poucos hotéis são modestos e o escolhido por mim hospeda em sua maioria trabalhadores braçais. Dou um rolê na cidade em busca de algo pra comer já que o hotel não tem restaurante. Uma gracinha Pampa del Infierno com sua calmaria de cidade pequena e ruas arborizadas. Encontro uma panaderia cheia de gostosuras salgadas e doces onde compro algumas delícias engordantes. Retorno ao hotel e na recepção peço um copo. Já no quarto encho pela metade o copo com vinho que trouxera de POA acompanhado pelos petiscos comprados há pouco. Durmo que nem uma angelita! No domingo, saio cedinho de Pampa, às 8, e após Mato Quemado tanto a RN 16 quanto a paisagem mudam. A rodo torna-se esburacada num trecho de 40 km. Já o cenário mostra uma natureza mais áspera com toques de aridez, afinal estamos na região do chaco, constituída por distintos climas e ecossistemas que abrangem além do pampa, florestas e também o semiárido. Cartazes advertem “atese a la vida use cinturón de seguridad”. Paro em Quebrachal e almoço deliciosas empanadas num despretensioso quiosque. Não há viva alma nas ruas, pudera, o calor é de antecâmara de inferno. No final da RN 16 já avisto o perfil de alguns picos da cordilheira dos Andes. Ao dobrar na RN 9 constato com alegria ser uma via duplicada e piso forte no acelerador, chegando em Salta às 15 e 45 depois de 574 km. Pego um hotel perto da Plaza 9 de Julio, centro da cidade, onde há diversos restaurantes com menu turístico cuja comida é bem ruinzinha. Nem o torrontés se salva, tanto que deixo um tanto de vinho na taça. Desapontada volto ao hotel e pouca demora pego no sono tão cansada estou depois de 3 dias viajando. Na segunda-feira, descanso no hotel até umas 11 horas, afinal, o tirão de 3 dias na estrada está cobrando seu preço. Resolvo ir a pé ao cerro San Bernardo cuja distância é ninharia. Resolvo subir até o topo do cerro de teleférico donde desfruto duma visão legal de Salta. A cidade situa-se no vale de Lerma, rodeado pela cordilheira dos Andes cujos picos nesta região não ultrapassam os 4 mil metros. Compro uma salada de frutas deliciosa e desço as escadarias mastigando devagarinho a refrescante iguaria. Durante a descida vejo muita gente subindo. A maioria, caminhando, enquanto um e outro galgam correndo os degraus. Haja fôlego pra tal façanha! Almoço num restaurante em frente ao convento de San Bernardo cujo wifi é uma boa bosta. Salta com suas ruas arborizadas, lindas igrejas, rodeada por cerros andinos e clima ameno, realmente, faz jus ao apelido La Linda. Retorno ao hotel no meio da tarde onde permaneço o resto do dia vendo televisão e bebendo, agora sim, um torrontés saltenho de boa qualidade, comprado no supermercado. Enquanto beberico o vinho assisto ao programa de variedades apresentado por Moria Casán, setentona, super plastificada, cujas feições envoltas por compridos e lisíssimos cabelos lembram Morticia Adams. Divirto-me a beça com a argentina que encerra a atração convocando as convidadas a que “levanten las patitas”, o que elas fazem erguendo as pernas como se estivessem num show de cancan. Moria, por sua vez, dirige-se até a câmera como se fosse adentrar no dispositivo, despedindo-se com o alegre bordão “estoy ahora salindo de sua casa”.....hahahaha....muito hilário!!! Quando estive em Salta em 2016 fazendo o trek de Las Nubes contratara como guia, Fernando, mendocino, aquerenciado há anos aqui já que é casado e tem um filho com uma saltenha. O argentino me agradara bastante por sua gentileza e conhecimento da região. Quando vi no Face que ele estava organizando uma expedição ao Licancabur, resolvo ir junto também. Por que não subir aquele vulcão, onipresente em todos os pontos onde se esteja em San Pedro de Atacama, cidade que conheci em 2007 escalando o Laskar, não é mesmo? Como estou meio fora de forma, combino com ele, antes de partirmos pra Bolívia, caminhadas pelos morros dos arredores. Então na terça, a primeira pernada é o ascenso ao cerro Elefante (1.910 metros) e desnível de 466 metros com 3,5 km de trilha situado na Quebrada de San Lorenzo. A trilha até o topo percorre a yunga, mata nativa com centenas de variedades de vegetação, destacando-se orquídeas, bromélias e cactus. Dia ensolarado, sem nuvens no céu e temperatura atingindo picos de 34ºC, o que deixa a caminhada bem pesada considerando não só a acentuada aclividade como o terreno coberto com pedrinhas soltas, tipo cascalho. Do alto do cerro se enxerga o centro de Salta e seus diversos bairros constituídos por condomínios públicos e privados. À direita, o cerro San Lorenzo e à frente, abraçando o vale de Lerma, a Cordilheira dos Andes. Lá no fundão, o cerro San Bernardo onde ontem estivera. Na quarta-feira, lá vamos nós, subir o cerro San Lorenzo situado na quebrada de mesmo nome. A temperatura mudou completamente: céu coberto de nuvens e temperatura em torno de 22º C. Com 2.220 metros e desnível de 893 metros, o cerro San Lorenzo tem distância de 10 km. A trilha, paralela ao agora minguado San Lorenzo, rio que somente no verão exibe volume considerável, também percorre a yunga, Contudo, não é tão exposta e íngreme quanto a do cerro Elefante porque se dá praticamente dentro da mata e 60% do percurso se desenrola em terreno de suave aclividade. Apenas perto do cume rola uma subida um pouco mais exigente mas nada que se compare à do dia anterior. Chega-se a um platô donde se avistam os cerros Lajas, Lesser, Medano e Yacones. Após uma subidinha amena de 15 minutos, pronto, eis o cume! Caminhamos até a outra ponta do cerro donde se avista Salta. Ali almoçamos, nos demorando pouco porque começa a esfriar e a ventar o que nos obriga a descer. Terminamos o trek comendo no Kiosco La Quebrada, situado no início da trilha, deliciosas empanadas feitas pelo atencioso dono. A caminhada mais linda inegavelmente é a do canyon do rio Lesser, realizada na quinta-feira, apesar da garoa e do céu totalmente nublado. Uma parte da trilha se dá em terreno plano cruzando potreiros. Na vegetação da yunga, destacam-se os ceibos, árvore nacional da Argentina, cujas flores fazem um contraponto vermelho entre a verdejante e farta copa. Há variedades de pequenas e delicadas flores, cuja coloração ora se mostra branca, ora lilás ou então amarela. E renques de copos de leite!! À medida que se avança, as flores rareiam e já se veem os paredões do canyon. No início, ambas as margens do rio apresentam-se recobertas de pedras miúdas. Bastante musgo nos troncos das árvores e poucas flores quanto mais se penetra no canyon. É necessária uma travessia no rio e logo se entra num bosque cerrado ganhando-se altura. Lá embaixo o rio começa a se estreitar e as pedras vão se tornando matacões. As subidas são suaves debaixo dum dossel formado por luxuriante vegetação. São 4 as travessias até se alcançar a cascata cuja altura não ultrapassa 50 metros com pouca água despencando paredão abaixo porque a estação chuvosa ocorre no verão. E o céu nublado se mantém na sexta durante o curto passeio de 5,5 km a Las Costas. As retamas, arbustos de cheirosa floração, estão a mil, atapetando o chão com suas pétalas amarelas. O terreno plano cede lugar a subidas amenas terminando no topo da colina onde mais uma vez me deparo com a visão, dessa feita, enevoada de Salta, esparramada no vale abaixo.