segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Aurora

Saindo de Natividade, eu resolvo passar por Aurora já que bem pouco se afasta do trajeto de meu retorno ao Sul (em 2021 eu ainda não morava em Palmas). Já sabia da existência dos diversos atrativos naturais de Aurora, sendo o mais famoso os 143 metros de extensão do Rio Azul, o 3º menor rio do planeta, segundo o Google. Então, no 1º dia na cidade, vou sozinha conhecer o rio, sem guia porque o passeio dispensa condutor. Cheia de expectativas porque vira fotos lindíssimas de suas águas cristalinamente azuladas, tomo um susto: dia 2 de agosto é feriado (dia do Evangélico) em Luiz Eduardo Magalhães (BA), daí que os baianos se mandaram pro balneário. O resultado? Lotadaço, som de batidão sertanejo e de piseiro no mais alto volume, uma tortura. Afora isso, restaurantes quase à beira d’água e feias construções a 100 metros do diminuto do rio. Entro vapt vupt no rio e trato de me mandar rapidinho do lugar sem deixar saudades. Pra não dizer que só botei defeito no atrativo, a bela coloração do rio Azul continua a mesma das fotos, só que turvada por um mundaréu de gente. À semelhança de São Domingos e Guarani, em Goiás (Parque Estadual de Terra Ronca), a região das Serras Gerais neste cantão do Tocantins apresenta também um complexo de mais de 200 cavernas além de vestígios de fósseis da idade do Gelo e pinturas rupestres, sem, contudo, muita divulgação sobre o assunto. Pra ser precisa, apenas o rio Azul e a cidade dos Tótens ficam em Aurora; o restante das atrações localiza-se em Lavandeira, município colado em Aurora. Pra compensar a fracassada experiência no rio Azul, sou premiada enquanto dirijo até a pousada com a visão da paisagem a minha frente: a monumentalidade das Serras Gerais, a coloração avermelhada de seus paredões de rocha sedimentar e seus morros testemunhos me deixam deslumbrada, sem exagero. Esse conjunto de serranias passa pelo Maranhão, Piauí, Tocantins, Bahia, Goiás e MG. Considerando a formação sedimentar das rochas e a constante erosão por elas sofridas, há formação de dunas nas encostas das Serras Gerais. Pois é: não é só o Jalapão a exibir dunas! Ao redor de Aurora há 4 espécies de araras: canindé, vermelha, azul e ararinha verde da cara branca afora a tiriba, um periquito de peito vermelho, que se encontra em extinção.
Bem baixada numa pousada perto da cidade, saio no dia seguinte com o guia que contratara para os restantes 3 dias de passeio. Fomos então, no 2º dia, conhecer as praias do Pequi e do Puçá, o poço Paraíso e a cachoeira do Sombra. Exceto a trilha até o poço Azul e a pernada à cidade dos Tótens, o restante dos passeios foi de poucas caminhadas, mais entrando e saindo do carro. Desnecessário veículo traçado, ao contrário do Jalapão, em quaisquer dos passeios. A caminho da praia do Pequizeiro, se cruza o rio Palma que, posteriormente, irá engrossar o volumoso Tocantins. A praia do Pequizeiro, quando eu fui em 2019, mantinha sua feição de praia intocável, como se fosse um paraíso a la Caribe, perdido no meio do cerrado. A água dum azul claro em contraste com a areia branca da prainha e o verde da mata ao redor é um deleite aos olhos. Fico sabendo pelo meu filho - há pouco ele esteve lá - que já foi construído um restaurante. Uma pena, nem precisaria, já que a praia do Puçá, a 2 minutos de distância, dispõe de toda uma infra com comida, quiosques e redes penduradas nas árvores à margem do córrego Ribeirão, o mesmo que passa pelo Pequizeiro. O que estragou um pouco o sossego do Puçá foi o som de música eletrônica rivalizando com o ruído bom das corredeiras do riozinho. Tomo uma caipirinha antes do almoço (peixe com arroz, feijão, mandioca e vinagrete), e após um descanso pra facilitar a digestão vamos até o Poço Paraíso. Pra mim, o menos impactante, se bem que a Curva do Desejo é bem lindinha. Claro está que eu poderia ter escolhido ficar em algum dos lugares, de boa, mas naquele momento estava super a fim de conhecer tudo o que eu pudesse, motivo por que seguimos até a Cachoeira do Sombra. Seguimos o curso do rio Sombra que cavou na rocha uma canaleta por onde a água escoa com força despencando alguns metros adiante na pequena cachoeira cujos degraus produz farta espuma branca que termina no poço mais abaixo. Um lugar bem agradável rodeado de vegetação. No fim de tarde que se avizinha, tomo mais um banho, deve ser o 4º ou 5º do dia. A temperatura é absolutamente morna, uma delícia. Recosto-me numa reentrância de rocha pra usufruir da massagem proporcionada pelo jorro de água que desce vigoroso do alto das pedras. Durante a volta pra pousada, meu guia esboça em linhas gerais o processo artesanal da elaboração do óleo de coco de babaçu: quebra-se a casca, pilando as sementes e fritando-as para obtenção do óleo. Parece simples mas é demorado porque são milhares de coquinhos para se extrair alguns litros de óleo. Haja paciência e braço!
E no 3º dia, graças a deus, aquela caminhadaça cuja ida e volta registrada no Strava somou pouco mais de 7 km. No início da pernada, dá pra perceber a formação semicircular da Serra Geral, destacando-se de seu extenso paredão uma arredondada formação rochosa que remete à proa dum gigantesco navio. Nas suas partes erodidas a rocha ora avermelhada ora preta cede vez a um tom esbranquiçado. Com o tempo, a ação erosiva da natureza transforma as encostas da serra em bancos de areia, já visíveis em certos trechos. No topo da serra, a planície baiana com suas plantações. Quando venta muito, palhas de milho são arrastadas até o solo tocantinense. Veredas de buritis, vistas aqui e acolá, anunciam terreno úmido, aglomerando-se, portanto, em seu entorno arbustos e árvores de pequeno porte. Afora isso, é campina, tipo savana, pontuada por vegetação rasteira e modestos renques de diminutas flores aflorando do solo. Durante a caminhada, o som das curicacas, das seriemas, das falantes araras, dos picapaus de cabeça amarela e dos periquitinhos é música ao vivo uhuu!! O poço Azul, banhado pelo córrego Ribeirão, é um encanto, sua água de um azul claríssimo chega a ser transparente perto da margem. Rodeado de farta vegetação, o poço assim fica resguardado dos rigores da canícula que beira uns 35ºC no meio da manhã. Me deixo levar pela correnteza flutuando algumas dezenas de metros leito abaixo. Refrescada pelo banho, enfrento alegremente o retorno até o ponto onde deixáramos o carro sob o calor intenso. Depois da revigorante caminhada, eu nem me importo de pegar o carro e dirigir até a fazenda Bartolomeu, cujo dono, Seu Joelino, nos espera com delicioso almoço caseiro feito pela filha. A refeição é entremeada de conversê sobre política e boas risadas. De pancinha cheia, vou até a margem do rio Bartolomeu – pertinho da sede da fazenda – conhecer as corredeiras. Ao longo de seu curso forma pequenas quedas d'água, recebendo a maior o nome, por óbvio, de cachoeira do Bartolomeu. E o último passeio do dia é visitar o Mirante das Andorinhas donde se vê a sudoeste GO, a leste BA e lá embaixo a cachu das Andorinhas formada pelo rio Bacupari. Descemos até a cachoeira (foi a mais sem graça de todas) e o que valeu a pena foi saber que o nome Andorinhas se deve ao fato destas aves se abrigarem entre a água e a pedra, mal se distinguindo suas cabecinhas contra a rocha escura. Perfeito esconderijo contra seus predadores naturais, as cobras.
No último e 4º dia em Aurora, pernada à cidade dos Tótens, ou seja, a uma das várias dunas que se localizam nas encostas da Serra Geral. Inicialmente, andamos numa mata bem densa e cruzamos com uma das nascentes do rio Tubatinga. Ao sair do bosque entramos numa zona de brejo, ou seja, de vereda de buritis e buritiramas. À medida que nos aproximamos da encosta da serra, surge no meio da vegetação um surpreendente oásis.....de areia! Rodeada por vegetação, no meio da praia de areia amarelinha, um renque de palmeiras balouça ao forte vento que sopra desde a madrugada. Na subida às dunas, noutra mata igualmente fechada, se escuta a gritaria das araras vermelhas. Dá pra perceber claramente a coexistência de 2 biomas: cerrado e caatinga, daí a existência de bromélias e canelas de ema neste trecho da trilha. A visão da serra Geral, com picos ora arredondados ora pontiagudos mais sua feição de muralha inexpugnável, é impressionante. As rochas inicialmente escuras foram se tornando claras devido ao processo erosivo. Não canso de me embasbacar com tanta beleza. Ao atingir as dunas, com o sol batendo em cheio no arenal amarelo os olhos doem com tanto fulgor. Que mundão de meu deus é esse?!! Tô até emocionada tamanha a grandeza do lugar!! Meu guia me chama pra entrarmos numa canaleta cujo chão está coberto por espessa camada de fina e clara areia. O estreito brete, ladeado por pedras escuras e arbustos, termina 50 metros adiante num despenhadeiro. Da beirada dá pra ver, no fundão do vale, a forma diferenciada do morro São João e de outras tantas colinas e chapadas que compõem o mosaico rochoso espetacular da Serra Geral. Enxergo ainda, pequeninha, lá embaixo, a prainha de areia que se destaca no meio do verde da vegetação. Retornamos à arena das dunas e seguimos até a cidade dos Toténs, outro fantástico trabalho de erosão, cujas delicadas formas resultantes lembram cogumelos. Não poderia ter fechado minhas andanças por Aurora com melhor desfecho que conhecer este trabalho de erosão que, podicre, considero do bem!

domingo, 1 de agosto de 2021

Natividade

Há várias caminhos pra se chegar, como diz o ditado, em Roma, assim como em Natividade, a cidade mais antiga do Tocantins que me despertou atenção quando fui me informar mais sobre o Tocantins, porque como talvez você não saiba, o estado não se resume apenas ao Jalapão. Um desses, se você estiver em Palmas, é pegar a BR 010 direto e reto até lá. São apenas 235 km e dá pra fazer um bate e volta, o que não aconselho porque há muita coisa interessante pra ver na cidadezinha, o que em um dia só fica meio atabalhoado. Como eu estava em Almas, saindo do Vale dos Pássaros, peguei a TO 280 e pouca demora já estava em Natividade. Fundada em 1734, a cidade teve seu apogeu durante o ciclo do ouro, quando os bandeirantes adentraram o interior do país em busca de metais preciosos, descobrindo-se na região o ouro de aluvião. Com isso, cerca de 40 mil escravos foram enviados pra lá e ficaram encarregados de edificar o pequeno arraial. Tombada como conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico pelo IPHAN em 1987, a cidade tem um encantador centrinho histórico com igrejas e casarios de arquitetura colonial caprichosamente preservado. Com grande importância histórica e cultural, Natividade mantém ainda tradições da época dos portugueses e povos quilombolas, dentre eles a Folia de Reis que acontece entre 24 de dezembro e 6 de janeiro quando grupos saem pelas ruas da cidade visitando casas e entoando cantos bíblicos em homenagem aos reis magos. Com a exaustão da exploração aurífera, a grana foi escasseando motivo por que a construção da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foi interrompida. Mesmo inacabada, exibindo somente seu arcabouço, a igreja se transformou em um dos maiores símbolos da cidade, por sua referência à comunidade negra que se instalou, ou melhor, foi instalada na cidade. Outra igreja também datada do século XVIII, é a singela matriz dedicada à Nossa Senhora da Natividade, padroeira da cidade.


Após dar uma rezadinha e fazer os tradicionais 3 pedidos (praxe quando se entra numa igreja pela primeira vez), vá até o casarão branco com aberturas vermelhas na frente do largo, provar o famoso biscoito Amor Perfeito (mistura de polvilho, leite de coco e açúcar) assado em forno a lenha. O difícil é parar de comê-lo tão mas tão gostoso é! Você pode encontrar tia Naninha, a criadora da iguaria, sentada numa cadeira à porta de seu estabelecimento e bater um papinho com ela. Eu dei a maior sorte pois foi ela quem entabulou conversa comigo, falando de seus 12 filhos...encantadora a velha senhora! Na praça da Bandeira, antigo largo do Pelourinho, onde negros eram comercializados no período colonial, o sítio hoje tem outra feição com restaurantes, sorveterias e açaiterias dispostos ao seu redor. E o melhor de tudo: tanto cedinho de manhã quanto à tardinha recebe a visita barulhenta das araras canindés. Baita trilha sonora enquanto provo um delicioso sorvete de mangaba. Graças às minas de ouro que funcionam até os dias de hoje (embora modesta a produção), a confecção de joias se tornou uma das principais atividades de Natividade, destacando-se a Ourivesaria de Mestre Juvenal. Ainda que você não seja consumista, vale a pena dar uma passada lá e apreciar o elaborado trabalho em filigrana com que são feitas as joias. Vagueando pelas ruas ainda calçadas com pedras antigas, mangueiras, oitis, palmeiras e outras árvores do cerrado de copas frondosas proporcionam farta sombra pra quem como eu gosta de caminhar mesmo na hora do sol a pino. Arbustos floridos dão um toque colorido nas calçadas e floreiras diante das janelas enfeitam os peitoris das casas. Um menino puxa seu burrico por uma corda, enquanto o motoqueiro passa com sua moto, convivendo em harmonia o antigo e o novo. Por quê, não? Um não necessita excluir o outro. Os sinos das igrejas católicas bimbalham ao final do dia anunciando a hora do angelus; senhoras de cabelo lavado e vestidos bem passados se dirigem aos templos. Esta é Natividade, colorida e pacata cidadezinha tocantinense rodeada pela serra geral: uma festa para os olhos de quem curte boas tradições, boa culinária e casarios antigos preservados.

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Nem só de Jalapão vive o Tocantins

Vale dos Pássaros
Decorridos 40 dias em Mateiros, convivendo intensamente com a família de tia Maria, personalidade ímpar, que me delicia com sua prosa animada, mencionando não só os vivos quanto os mortos, quero conhecer outras paragens no Tocantins porque até então era só Jalapão, Jalapão e Jalapão. Assim me mando pra Almas pra conhecer o canyon Encantado pilhada que estou pela falação de Diomil, um andarilho da bike que conheci em Mateiros. Assim que passo a saber da existência da Estação Ecológica Serra Geral, ou simplesmente Serras Gerais, distribuída entre os municípios de Ponte Alta (Arco do Sol), Dianópolis (Fortaleza dos Guardiões), Rio da Conceição (Lagoa da Serra), Pindorama (Lagoa do Japonês), Almas (Canyon Encantado, Vale dos Pássaros), Aurora (Rio Azul e praias do Pequi e Puçá) mais Natividade. Quando chego em Ponte Alta, continuo pela rodovia TO 130 que conduz a Pindorama mas quebro à esquerda, na TO 476, pra conhecer a Pedra Furada, um monolito de arenito, há horas na minha lista de desejos. Alguns poucos kms antes da Pedra Furada, um imponente maciço rochoso se destaca na paisagem: é o morro da Cruz. Um lugar repleto de imponentes pedras me deixa quase em estado de graça, a natureza é minha religião e as pedras são os meus deuses! Continuo pela TO 476 e no encruzo entre Rio da Conceição e Almas, pego a TO 40. Estas últimas são estradas de chão batido, trafegáveis mesmo em época de chuva. A 30 kms do Vale dos Pássaros, avisto da estrada algumas formações rochosas interessantíssimas cuja placa indica ser o Arco do Sol. Nem hesito, pego a estradinha e vou lá conferir. Maravilhosa formação de arenito avermelhada em forma de arco com cavidades de diversos tamanhos, ladeada em ambas as extremidades por 3monolitos compactos. Pra mim, superou a Pedra Furada, até porque há várias pedras furadas Brasil afora. Mas a viagem prossegue e lá me vou pra pousada de seu Davi e Antonia, donos da chácara Vale dos Pássaros. Os dormitórios, em número de 4, 2 deles com banheiro, estão numa casa de madeira, onde balouçam redes na varanda. Distante alguns metros, o refeitório, um puxado de madeira, está agregado à casa de enchimento onde vive o casal. Tudo muito simples, comida caseira feita no fogão a lenha por Antônia ao passo que seu Davi assume a tarefa de lavar a louça. Todos os dias, antes do café da manhã (cuscus com ovo frito, ó delícia!) e da janta, seu Davi convida os hóspedes pra celebrar Deus orando e cantando salmos. O casal se conheceu num culto evangélico, ela jovem, com 21, ele com 34. Revela Antônia que foi amor à primeira vista. Ele ofereceu carona pra ela e até hoje ela não desembarcou do carro. Seu Davi, alto, magro, é o homem mais doce que conheci, voz baixa e fala mansa. Já Antônia é o oposto, baixinha e roliça, é enérgica e hospitaleira. Ambos vez por outra se saem com uns saborosos ditados regionais como o de seu Davi transformando “em Roma como os romanos” pelo “em terra de sapo de cócoras com ele.” Já Antônia com seu temperamento menos afeito aos mimimis lasca "se morre e não acha quem enterre, urubu trata de come”. Os 3 córregos que atravessam a propriedade são o Jatai, o da Cortina que despenca pela cachu de mesmo nome e o da Água Limpa, da Urubu Rei. Nas árvores, pulando de galho em galho, uma macacada curiosa te observa, galinhas com suas ninhadas de pintinhos passeiam pra lá e pra cá ao passo que os cachorros veaoz por outra ladram alertando quem se aproxima. Detalhe pitoresco são os gatos que se quedam preguiçosos sobre o parapeito do fogão a lenha.
Canyon Encantado
Dia seguinte, ao invés de pegar o carro pra fazer o percurso de 14 km entre o Vale dos Pássaro e o Canyon Encantado, vou caminhando até lá pela trilha de 2 km ao longo da mata que ladeia a encosta da serra Negra. Compro um combo de passeio de dia inteiro que inclui canyon Encantado, Cidade de Pedra e Cachoeira dos Pelados. Guiada por Bonfim (é obrigatória a condução por guias), na trilha bem demarcada, sinto a cheirosa floração dos cajuins, sinalizando que seus frutos não tardam a dar pinta nos galhos. A 600 metros do início da trilha há um mirante donde já é possível se ter uma visão parcial da fenda. De seu vértice jorra manso (quando fui a primeira vez era ainda época de seca) o córrego Água Limpa. Andorinhas traçam o ar em revoadas constantes e o matraquear ruidoso das araras não dá trégua ao silêncio. Algumas passarelas de madeira e de metal facilitam os 130 metros de desnível até a base do canyon. Um pequeno brete (parece até lance de filme de Indiana Jones), escavado artificialmente na rocha pra facilitar a descida, esconde brevemente a fenda mas logo a ordem é restaurada e a garganta volta a dar as caras. À medida que me afundo no perau, vestígios de mata atlântica vão dando pinta ali e acolá. No lado esquerdo do paredão de coloração avermelhada, a vigorosa queda d’água do Sumidouro, enquanto à direita, o fio d’água mirrado, que na época da seca forma uma prainha de areia clara, recebe o nome de Elias, em homenagem a antigo morador da região. No final da pequena garganta, próximo ao vértice, delimitada pelos paredões, desenha-se um arco-íris, à semelhança de um luminoso de neon colorindo a escura e estreita cavidade cujas rochas se exibem esverdeadas de musgo. No retorno, observo a pequena reentrância na rocha à semelhança duma mini gruta que me passara despercebida quando descera. Almoço no restaurante e descanso no redário aguardando a pernada ao restante dos passeios. Às 2 da tarde, o guia nos tira da indolência da sesta e lá vou eu num calor de antecâmara do inferno à Cidade de Pedra. Já vi outras mais interessantes, mas esta até que dá conta caso você não tenha conhecido a da Chapada dos Guimarães e a de Vila Velha. Seguimos então prum mergulho na cachoeira dos Pelados, onde foi filmado o seriado americano Largados e Pelados, daí a origem do nome da cachu. A pequena queda d’água, banhada pelo córrego D’Anta e rodeada de árvores, oferece uma refrescante sombra, super bem vinda após a caminhada sob o sol causticante do cerrado. No dia seguinte, de manhã, vou visitar outros dois atrativos no Canyon Encantado: as cachus do Portal e da Capivara. O início da trilha é plano, sem maiores dificuldades. A partir dum certo momento, o guia Juraci avisa que teremos de descer 500 metros de terreno acidentado, aberto no meio do mato. Ele me oferece um cajado que dispenso, contudo. A vegetação é luxuriante, já que guarda resquícios de mata atlântica. Um prazer sair da canícula do meio da manhã e entrar em ambiente sombreado. Muito arrebatadora a cachoeira do Portal, não pelos seus 60 metros de altura, mas pela aurora gigantesca cúspide que coroa seu topo donde duma cavidade jorra o córrego D’Anta que continua serpenteando e forma adiante a cachoeira da Capivara, a próxima queda d’água a conhecer. Dureza não foi descer os 500 metros até o Portal mas subir tal desnível seguidos doutros 500 metros de descida até a Capivara, essa sim uma ladeira bem perrenguenta, quase uma piramba de tão íngreme. Claro está que depois que se conhece a surpreendente Portal, a Capivara não eletriza tanto assim se comparada àquela. Se eu fosse guia, deixaria a Portal por último pra causar aquela impressão. No retorno, Juraci, profundo conhecedor da flora do cerrado, vai saciando minha curiosidade sobre as plantas. Conta que aprendeu principalmente com sua mãe porque seu pai se ausentava muito viajand0 a trabalho. Comenta que conhece tanto planta pra curar quanto pra matar...ala putcha!! Juraci explica que os remédios são feitos mais com cascas do que com folhas, porém os melhores são os obtidos das raízes. No trajeto de retorno à sede do canyon Encantado, fico a par de que o angelim é venenoso pros seres humanos, não sendo nefasto contudo com os animais. Já a bananeira, além de sua flor ser linda demais e cheirosíssima, serve pra fazer cestas. Numa curva da trilha, dou de cara com a árvore nacional do Tocantins, a fava de bolota, que lembra uma árvore de natal quando está florida com suas vermelhas flores arredondadas. E a sapucaia, acrescenta Juraci, só é comestível por aves, como as araras, que furam seu fruto até pinçar a desejada semente. Pra finalizar a interessante aula informal de botânica, sou apresentada ao murici de cujo pequeno fruto amarelo se faz uma pinga deliciosa.
Vale dos Pássaros
Deixo pra conhecer as cachus do Urubu Rei e Cortina (ida e volta em torno de 4 km) no último dia de minha estadia. Inicialmente percorro a trilha bem marcada que risca a mata fechada (afinal estamos no cerrado). Por 2 vezes me equilibro sobre improvisadas pinguelas feitas com troncos de árvores pra atravessar os córregos que cruzam a propriedade. Depois da bifurcação que indica à esquerda a cachoeira da Cortina e à direita, a do Urubu Rei, escolho fazer esta primeiro. A paisagem então começa a mudar e a mata cede lugar à vegetação rasteira com a presença abundante dum denso capinzal. Os paredões avermelhados da serra Negra se mostram em toda a sua magnitude e já se avista lá no fundão os 70 metros da cachoeira do Urubu Rei. Pela estrada, é possível chegar na borda da Urubu Rei e vislumbrar o vale lá embaixo com sua vegetação compacta entremeada por veredas de buritis. No retorno, entro na trilha que leva à Cortina e caminho ladeada sempre pela mata cerrada sem mudança na vegetação. Assim como a Urubu Rei, a Cortina também pode ser vista de cima. Para tanto, envereda-se por uma trilhazinha que sai da estrada e termina na charmosa cachu da Arquibancada que antecede à da Cortina. A vista frontal dos seus 50 metros de queda livre à tardinha com o sol atiçando ainda mais sua parede vermelha é um convite irrecusável à contemplação. Final de julho é aquele concurso de beleza no cerrado: as árvores estão floridas, cada uma mais linda que a outra, destacando-se as flores dos pequizeiros com 5 pétalas dum amarelo claríssimo donde despontam centenas de filamentos ultra finos. Afinal, nem só de ipês amarelos vive o cerrado. Infelizmente, tenho de partir, mas levo comigo a saudade gostosa do que ficou pra trás!!

segunda-feira, 8 de março de 2021

Remando aqui e acolá

Até minha aposentadoria só tinha olhos pra atividades esportivas como trek, montanhismo, canionismo, ciclismo e breve passagem pela escalada. Já aposentada, fiquei pensando no que faria nas longas tardes de ócio que tinha pela frente. Conversando com meus botões, concluí que seria bom remar por causa dum certo medinho de água. E das coisas que tenho medo, tipo altura e dirigir, acabo por enfrentar, bem ou mal. Morando em Porto Alegre, localizada à margem esquerda do lago Guaíba, comecei experimentando stand up paddle porém foi relâmpago minha atividade na prancha já que exige muito da lombar, a esta altura da vida, bem baleada, a coitada. Assim, pouca demora, passei a remar caiaque. Tanto gostei que comprei um Pro Fish, sem leme, no final de 2016, estimulada por Jayme Fonseca, professor de vela e remo, que largou a engenharia pra se dedicar aos esportes náuticos. Embora pesadão, este caiaque é adequado aos iniciantes porque difícil de virar, considerando sua excelente estabilidade. Descolei um lugar pra guardá-lo, na guarderia do Peter, dono de um casarão na vila Conceição, lugar super aprazível com amplo jardim repleto de plantas e árvores à beira do Guaíba. Acompanhada de outros remadores, fui num ensolarado sábado de pouco vento à ilha das Pedras Brancas, vulgarmente conhecida como ilha do Presídio, porque durante quase 30 anos serviu como prisão tanto aí presos comuns quanto aos oponentes da ditadura durante o regime militar.


Do edifício restam escombros e 2 guaritas encarapitadas nos topos de 2 enormes matacões, uma ao norte, outra ao sul. Pequena, rochosa, a ilha exibe pequena extensão de mata nativa. É um pequeno oásis no meio do lago. Graças a Deus, ainda não é  explorada turisticamente. Completado o passeio, vi no Strava que a distância ida e volta entre a ilha e a vila Conceição alcançou 6 km. Me senti orgulhosíssima de meu feito, pois até então me limitara a remar no chiqueirinho, o assim chamado trechinho de 1,5 km, distante 50 metros da faixa de areia, compreendido entre a guarderia e o morro do Sabiá. Não demorei muito a me dar conta de que caiaque sem leme é dose pra remar, tem de ter muito muque pra mantê-lo no rumo e como já sou uma senhorinha de ½ idade, fui atrás de algo mais leve. Assim, vendi o caiaque de polietileno e adquiri um de fibra de vidro com leme de pista, um Surf Ski V7 que só não voa na água porque barco não tem asa! Que diferença, santo deus!! Mal comparando, seria como sair dum Fusca e dirigir um Audi. Por óbvio, é caiaque bem menos confiável, no sentido de que se houver muito vento ele vira com facilidade. Mas é só não sair em dias ventosos e não dá nada. E passei a frequentar com assiduidade a guarderia sempre que o tempo permitia, consultando pra isso o WindGuru, site que fornece infos sobre ventos, sua velocidade e direção, usado tanto por surfistas quanto por remadores e velejadores.

Conheci assim a galera que curte esportes náuticos, bem diferente do povo montanhista e ciclista que até então convivera. Remadas a Guaíba, cidade situada na margem oposta do lago, distante 5,5 km, só pra comer pastel. Os 7 km de bate e volta a Ipanema, bairro contíguo à Vila Conceição, curtindo os nervosos biguás que levantam voo mal me aproximava das pedras que afloram à superfície da água. E nunca cansando de admirar a esbeltez das garças pousadas sobre os galhos das árvores plantadas rentes à praia. Às vezes, colocava os fones de ouvido plugados ao celular e escutava músicas de minha preferência enquanto mandava bala nos remos. Nos fins de semana, os barulhentos jet skis riscam o Guaíba enquanto diversos tipos de veleiros singram graciosamente suas águas marrons rumo à Ponta Grossa. Navios indo ou vindo de Rio Grande passam ao largo pelo canal formando ondas em seus deslocamentos. À medida que ia adquirindo confiança, retornei diversas vezes sozinha à ilha do Presídio. Certo domingo, encarei os 15 km ida e volta entre Vila Conceição e Ponta Grossa, bairro também localizado na zona sul da cidade. Há dias que gosto de ir além de Ipanema, remando até os arcos do Espírito Santo. Se tenho tempo estendo o passeio à Serraria. Cansei de contornar a ilha do Jangadeiros, só pra passar sob a pequena ponte que liga o clube ao continente.

Fiz algumas remadas noturnas, algumas na lua cheia. À noite, a iluminação noturna da cidade de Guaíba cintila tal qual um longo colar de pedras coloridas na outra margem do lago. No verão de 2019, conheci o casal Leticia e Ramon que administram, em Barra do Ribeiro, a ONG Biguá, destinada a ensinar crianças e adolescentes a remar. Com eles fiz um bate e volta até Areia Branca, distante 8 km de Barra do Ribeiro. A pequena praia de areias claras é um oásis encravado à margem direita do Guaíba não só pra quem rema quanto pra quem veleja, que ancoram ali seus barcos nos finais de semana. Com Leticia fui fazer um curso de remo no fim de semana, no sítio de Leo Esch, à beira do rio Maquiné. No final de 2019, fui a Rio Grande com meu amigo Pedro Emilio prum encontro de pesca e canoagem. Acampados no Grêmio Náutico Almirante Barroso, fomos super bem recebidos pelos riograndinos, aliás meus conterrâneos. A remada se deu no sábado no estuário da lagoa dos Patos e não rendeu muito porque o vento sudeste castigava os remadores com rajadas de 15 nós. No carnaval de 2020, mais uma vez me uni à galera da Biguá pra realizar uma remada com direito à camping. Guaíba 1 espelho quando saímos de Barra do Ribeiro, se manteve assim até a Ponta do Salgado onde fizemos uma parada pra comer algo e descansar os braços. Depois do Capão das Pedras, assim chamado um amontoado de rochas que afloram à superfície d’água, entrou 1 vento sul de 11 nós que dificultou o restante da remada até nosso destino final, o Saco do Pinho. Acampamos na praia da Faxina, infelizmente suja de detritos deixados por gente mal educada que também costuma acampar no local.

Dia seguinte, remamos de volta a Barra do Ribeiro, parando na Areia Branca pra almoçar. A aventura somou 40 km, e meu carnaval, sambando no caiaque com parceiros muito gente fina, foi qualquer coisa de bom! Depois dessa curta expedição passei adiante o Surf Ski e comprei um oceânico com leme retrátil. Menos veloz que o anterior, exibe, contudo, maior estabilidade, sendo assim mais confiável em dias de vento com velocidade superior a 10 nós, além de ter 2 compartimentos que acomodam tralha pra caramba. Ainda não tive oportunidade de fazer uma expedição mais longa com o Inuit porque chegou a pandemia e botou por terra todos os planos que estava tramando. Tem importância, não, qualquer hora, volto às aventuras náuticas. E com a benção das entidades aquáticas, podicre!!


 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Vila Boa de Goyaz

Em setembro de 2020, rumo ao Tocantins, resolvo conhecer Goiás Velho que já me chamara atenção em 2019 quando, voltando de Palmas, vi a placa indicativa da cidade à beira da rodovia. Apressada em chegar ao sul, deixei pra lá. De Cuiabá, onde pernoito 2 dias na casa de meu afilhado espiritual, o hospitaleiro Oswaldinho, filho de minha amigona Osnilde, a Goiás Velho são 760 km que faço, por óbvio, num dia. Saio às 5 e meia da manhã e tenho de esperar até as 6 no posto pra abastecer o carro porque eles só abrem a partir deste horário. Após rodar 140 km em 2 rodovias estaduais, pego então, a partir de Campo Verde, a BR 070 que me deixa à beira da histórica cidade goiana, antiga capital do estado de Goiás. Habitada ainda no século XVII pelos índios goiases, - daí a origem do nome -, a existência de minério de ouro provocou diversas incursões de bandeiras paulistas. Foi então fundado o arraial de Sant’Anna, alçado, posteriormente, à condição de vila administrativa, com o nome de Vila Boa de Goyaz. Entretanto, no final do século XVIII, tal riqueza acabou por se esgotar face à sanha expropriatória dos colonizadores portugueses. Com o esgotamento da extração aurífera, a atividade econômica voltou-se à agropecuária. Mesmo assim, cultural e socialmente, a cidade mantinha-se sintonizada com as modas do Rio de Janeiro, então capital do Império, mantendo intensa atividade cultural e artística com apresentação de saraus, jograis, exposição de artes plásticas e produção literária, além de um ritual único no Brasil: a Procissão do Fogaréu, realizada na Semana Santa. O município foi reconhecido em 2001 pela UNESCO como sendo Patrimônio Histórico e Cultural Mundial por sua arquitetura barroca peculiar, suas tradições culturais seculares e a natureza exuberante da região. Pois bem, nesta linda cidade, cuja preservada arquitetura colonial barroca se deve muito à mudança da capital para Goiânia, no início do século XX, fico 2 dias flanando por ruas revestidas com pedras irregulares, bonitas de ver mas ruim de caminhar, especialmente pra quem esteja usando salto alto (não é meu caso), deveras desafiante. Rodeada pela Serra Dourada e os Morros de São Francisco, Canta Galo e das Lages, Goiás Velho é cortada pelo rio Vermelho com lajedos aflorando de seu leito desmilinguido de água já que se está na estação seca. Unem ambas as margens 3 pontes sendo 2 de madeiras com passarelas destinadas aos pedestres. Na margem direita, percebe-se que os casarios, estreitos e compridos, são mais modestos se comparadas àqueles construídos na margem esquerda. Nas construções predomina o branco com esquadrias em azul, abrindo-se raras exceções ao marrom e amarelo nas aberturas. Justamente na margem direita, assenta-se a casa de Cora Coralina, importante poetisa brasileira, cujo 1º livro foi publicado quando ela tinha 76 anos de idade, embora escrevesse versos desde a adolescência. Sua obra poética tem como tema principal o cotidiano da vida simples de uma mulher do interior brasileiro. Doceira de profissão, engrossava o orçamento doméstico fazendo doces pra fora. A goiana alimentava, assim, não só a mente como o corpo das pessoas. De seu casarão, só pude conhecer o frondoso quintal cheio de frutíferas do cerrado, protegido por baixo muro de taipa. Na margem oposta, na avenida beira rio, sentada sobre uma mureta de pedra, eis Cora vendo a vida passar. Não há turista que não pare pra tirar fotos e selfies junto à estátua da poetisa- doceira. Em homenagem a ela, a trilha de 300 km destinada a caminhantes e ciclistas, interligando cidades históricas goianas, foi intitulada Caminho de Cora Coralina. Em Assim Eu Vejo a Vida, Cora Coralina resume seus 95 anos de idade neste impressivo e breve poema, abaixo transcrito:

A vida tem duas faces:

Positiva e negativa

O passado foi duro

mas deixou o seu legado

Saber viver é a grande sabedoria

Que eu possa dignificar

Minha condição de mulher,

Aceitar suas limitações

E me fazer pedra de segurança

dos valores que vão desmoronando.

Nasci em tempos rudes

Aceitei contradições

lutas e pedras

como lições de vida

e delas me sirvo

Aprendi a viver.

Já na margem esquerda, sobressae a verdejante praça Brasil Caiado, rodeada por casarões imponentes, onde se destacam o Museu das Bandeiras e o Chafariz de Cauda. Mais perto do rio, a praça do Coreto, construção arredondada, cujas amuradas em madeira exibem caprichadas filigranas pintadas de branco. Deliciosos picolés de frutas do cerrado são vendidos no bar situado na parte inferior do prédio. Numa das pontas desta praça, a igreja Nossa Senhora da Boa Morte, hoje museu, infelizmente fechado, como tantos outros atrativos turísticos por conta da maldita praga do Covid 19. Nas ruas, o chilrear da passarinhada é fundo musical constante, uma algaravia sonora gostosa de se escutar enquanto caminho sem pressa ao longo de ruelas perfumadas por umbuzeiros em flor, na tarde que finda. No mercado público, restaurantes, lancherias, casas de artesanato e armazéns onde são vendidos doces da região e cachaças de alambique sen-sa-cio-nais, destacando-se as de murici e arnica do cerrado. Não só Minas Gerais faz boa cachaça, sô!! Num simpático boteco de esquina, almoço empadão goiano, quitute recheado com galinha e legumes. Também provo bolo de arroz que não tem nada a ver com aquele feito aqui no sul, já que aqui, no centro-oeste, se usa farinha de arroz. Como não podia deixar de ser, destaca-se rente à margem direita do rio Vermelho, uma casa de polvilho, característico comércio das regiões centro-oeste e nordeste do Brasil, impondo-se, graça a deus, este tão saboroso e nutritivo legado indígena. A igreja de São Francisco de Assis destaca-se não só pela alegre coloração branca, azul e amarela de suas paredes como pela torre vazada de madeira que guarda o sino, apartada da construção de pedra. Quer saber duma coisa? Gostei muito mas muito mais de Goiás Velho do que de Pirenópolis que conheci ano passado. A Vila Boa de Goyas encanta pela riqueza de seu conjunto arquitetônico, exalando ainda fortíssimos ecos do passado colonial. Conseguia sentir a vibração daquele passado enquanto zanzava pela cidade. Sem falar na presença imaterial mas constante da doce e poética Cora Coralina!!