sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Canionismo no Índios Coroados

Uma segunda-feira esplêndida: desanuviada, ensolarada, quente! Telefono pra Kaloca e combinamos rapelar outra vez as cachoeiras do CTG. Gabriel e Camile despedem-se. Retornam pra Porto, o trabalho os espera. Iara e Rocha já haviam partido domingo. De novo, só eu na pousada. Kaloca e eu subimos a serra do Faxinal. Já na primeira cachoeira noto a diferença no volume de água. O chuvaral de três dias deixou suas marcas! Uma coisa é rapelar cachoeira com pouca água. O que fora tão fácil no início de dezembro, hoje não está aquela moleza. Na maior delas, a de 47 m, Kaloca põe a ancoragem numa árvore e eu desço pelo lado direito de modo a evitar a tromba d'água. As duas últimas estão, como as anteriores, igualmente volumosas. Desço-as cautelosamente. De volta à pousada, combino com Kaloca fazer, finalmente, o Índios Coroados. Há horas ouço falar sobre esses rapeis e minha curiosidade é imensa. Enquanto Maria esquenta a sopa de verduras que sobrara da véspera (a meu pedido), mastigo duas bananas. De banho tomado, bem relaxada na cama, assistindo tv, escuto Mariazinha buzinar. Quando entro no carro, percebo que usa óculos escuros, coloco, então, os meus e brinco, dizendo que estamos disfarçadas de celebridades. Ela dá risada, deliciada, com a minha bobageira. Vamos às compras, eu buscar um produto da Natura que encomendara à Neva, sua irmã. Já Maria precisa comprar algumas mercadorias na Cooperja. Encontro, na cooperativa, Eni, mulher de Toninho, fazendo lá suas compras que serão entregues à domicílio. Pensam que só cidade grande tem desses confortos? Praia Grande também os têm! Findas nossas tarefas, vamos buscar Mariana que está na residência da cidade onde no pátio traseiro da casa há um roseiral com graúdas e vermelhas rosas. De volta à pousada, novos hóspedes já lá se encontram: um casal de Itapema. Ela artista plástica, mulher viajada, sensível, dona de um conversê interessante. Ele trabalha numa multinacional. A ceia transcorre em meio a reflexões sobre a diferença entre as obra dos artistas e suas personalidades. Como dizia Proust, "quão aborrecidos são os artistas ao vivo e a cores!" Eles fizeram a trilha até o poço do Malacara e se mostram encantados com o que viram. Gosto de quem gosta de Praia Grande. Como tenho de acordar cedo amanhã, 4:30, não me prolongo muito tagarelando com Maria e vou pra cabana. Há que dormir! O despertador do celular trina, pontualmente, no horário marcado. É noite ainda. Estrelado, o céu exibe uma lua crescente. Eita planeta gostoso este onde vivo. Maria, quando chego no refeitório, já está com meu desjejum pronto. Como 2 bananas, torrada de queijo e presunto, mais um copo de leite. Kaloca, atrasado, chega às 5:45. Embarco no táxi e nos tocamos serra do Faxinal acima. Um pouco além do posto do ICMS, descemos e enveredamos pela trilha, uma curta caminhada, até a borda do cânion dos Índios Coroados. Vamos rapelar o vértice sul deste perau. Logo alcançamos a primeira cachoeira. Kaloca, já ciente de que não gosto muito de cachoeira bombada, ancora a corda de modo a dar um balão na água. Assim, eu desço, no seco, pelo paredão de basalto de 25 m, coberto de arbustos. Nem me atucano quando minha perna direita se enreda nuns galhos. Me desvencilho com um safanão das ramagens e completo o rapel num átimo. Surpreendida pelo espetacular cenário do vértice norte, já visível do ponto onde me encontro, fico boquiaberta. Coisa mais linda esse cenário!! A queda d'água despenca 30 metros até uma big e larga plataforma, jorrando, a seguir, por um paredão vertical de 80m, quando então se bifurca em duas vertentes brancas e espumosas. O rapel, Kaloca explica, é feito no meio delas. Impactante a visão daquelas torres líquidas paralelamente dispostas! A agressiva pirambeira, por onde estamos descendo, suaviza-se um pouco e cede lugar a uma rampa menos íngreme, se comparada ao paredão que lhe antecede. Algumas dezenas de metros adiante, retoma, novamente, sua vocação vertical, escoando, em turbilhões nervosos, nas águas do rio Molho Côco, noutra queda, esta com 60m. Uma bruma úmida paira no ar tal qual fumaça....fumaça líquida, bem entendido! Impactante este cânion e seu vértice norte. Não o imaginava tão bonito assim; estou adorando estar aqui! O próximo rapel também é feito no seco, pela lateral da cascata cuja altura é de apenas 10 m. Dá pra sentir que estou ainda no início do cânion devido à profundidade de suas paredes. Caminhamos ao longo da margem direita do rio e atravessamos um pequeno túnel cavado nas rochas, trimimoso, até o rapel seguinte, cuja cachoeira, de 25 m, forma uma rampa de baixa declividade. Suas águas, por isso, escorrem mansas pelas rochas. Mais adiante, paramos e mastigamos algo. Kaloca pergunta se eu quero dar novamente um balão em duas cachoeiras de modo a evitar seus dois profundos e gelados poços. Não me faço de rogada, é claro. Aceito, sem piscar a oferta porque o ar ainda se faz fresco, afinal, são apenas 9 horas (oito pelo horário de verão). O paredão, apesar de seco, está cheio de espessos e abundantes galhos. Enredo-me diversas vezes enquanto desço.....arre!!Os rapeis nas cachoeiras seguintes, de 25, 10 e 30 m, são feitos dentro d’água. A última, mais técnica, devido à concavidade de suas paredes, forma um escuro brete, quase em seu final, uma enorme rocha exige mais habilidade. Um pouco atrapalhada, com receio de pendular, bato com o cotovelo e esfolo levemente o dorso das mãos apesar das luvas. Putz, que barberagem! Quando chego ao poço, tomo um caldão e não dá outra: água dentro do ouvido....droga! Agora, sim, me dou conta de que estou a centenas de metros abaixo da borda do canion. Já ao nível do poço da cachoeira de 60m, uma das que despenca pelo vértice norte. Vértice esse que me embasbacara há duas horas atrás. Passo ao largo de seu escuro poço. Faz bastante frio ali embora seja verão. Restam, ainda, três cachoeiras. Preparo-me pra descer a maior cuja altura não passa de 40 m. Muito cheia, arrepio-me ao ver o que hei de enfrentar. Contudo, meus receios diminuem à medida que a rapelo. O maior perrengue ocorre quando alcanço seu poço, apelidado de Mesa dos Inocentes, onde uma enorme rocha represa a água, criando assim uma espécie de redemoinho. Com certa dificuldade, saio daquele sorvedouro após enérgicas braçadas. Contorno a colossal pedra, abrigando-me atrás dela do forte vento que sopra. Kaloca conta que aqui, neste poço, há um mês, Pimpa escapou da morte por milagre. O rapaz, ao descer de outra cachoeira, situada ao lado e, igualmente alta, largou a corda quando alcançou o poço, mega cheio porque chovera três dias sem parar. Tragado pela correnteza, despencou, como se estivesse num tobogã, de duas cachoeiras com, respectivamente, 6 e 12 m!! O rabudo só teve uma costela trincada, dá pra acreditar?!! Fico apavorada imaginando a cena.  Rapelo as duas restantes dentro d'água. A última, embora nada alta, exige certa técnica. Tiramos as roupas de neoprene e sentamos pra almoçar. Preguiçosos, lagarteamos ao sol enquanto conversamos. Um dia perfeito! Os rapeis terminaram, agora apenas caminhada pelo leito do rio. E que caminhada! Conforme cálculo de Kaloca, serão 4 horas......aiaiaiai. Olho o relógio: os ponteiros marcam exatas 14 horas. Este cânion é bem mais difícil de caminhar do que o Malacara. Mais agressivo, apresenta pequenas cascatas que têm de ser transpostas sem corda. As rochas, bastante altas, exigem que se as escale e desescale continuamente. Passo um perrengue numa delas. Kaloca faz questão que eu treine meu equilíbrio, por isso não consente que eu me arraste de bunda, meu modo habitual de enfrentá-las. Que sufoco! Assevera a inflexível criatura que eu me judio bem mais "andando" desse jeito, porém eu prefiro à minha moda. Ele me dá uma dura e lasca: “é pro teu bem, Biazinha.” Este guri está me fazendo passar um sufoco......aiaiaiai, putz grila!! Já quase na saída do cânion, Kaloca indica uma garganta menor que desemboca à margem esquerda do Índios. É o Molho Côco, canion de menor expressão na região. Quando estamos pra deixar o canion, prestes a pegar uma trilha lateral, escutamos uma voz nos chamando do outro lado do rio. É seu Osvaldir, morador de Vila Rosa. Usa umas botas brancas de plástico, cano alto. As pernas, lanhadas dos arbustos espinhentos que dão as mancheias na mata atlântica, exibem grossos riscos de sangue. Roçava uma plantação de banana, comenta ele durante o restante do trajeto que seguimos juntos. Conversamos os dois, enquanto Kaloca, à frente, manuseia o facão, cortando um pouco do mato que se encontra bastante cerrado. Seu Osvaldir, ao encontrar uma pequena muda de palmiteiro, arranca-a do solo e me presenteia com ela. Quando digo que moro em apartamento, não se aperta. "Use como decoração”, sugere o bom homem. Recuso, entretanto, o gentil presente. Alcançamos a moto às 18:30 e nos despedimos do simpático homem. O termo mais adequado pra definir meu estado físico, não é cansada, mas apaziguada! Bom início de ano, no frigir dos ovos, estou tendo, hein?! Sinto-me energizada e pronta a enfrentar a rotina de trabalho que me aguarda, amanhã, no retorno a Porto. Que venga 2009!

domingo, 4 de janeiro de 2009

2009 de ressaca!

O novo ano inicia chuvoso, e põe chuva nisso! Generosos milímetros dum caudal ininterrupto desabam ao longo de toda a sexta, sem dó nem piedade: madrugada, manhã, tarde e noite. Uma desolação! No sábado, idem, exceto uma breve estiagem, ao final da tarde. Aproveito e vou ao mercado Magagnin comprar cigarros e esticar as pernas. Na finalera da serra do Faxinal, escuto marteladas: é Kaloca trabalhando na sua já quase pronta cabana de madeira, futura sede de sua operadora de turismo de aventura. Construiu-a praticamente sozinho. Passo batida, deixando pra levar um dedo de prosa com ele quando retornar. A dona do supermercado, minha xará, lamenta as chuvas que castigam a região sul, em especial o norte do estado catarinense. Despeço-me e uma garoa inicia a cair enquanto me dirijo à casa de Kaloca. Compenetrado, o rapaz prega tábuas para forrar o assoalho. Está de poucas falas, porém. Diante disso, não alongo muito a visita e me mando. Deve estar contrariado com o clima que o impede de trabalhar com os turistas. A chuva, que saco! engrossou enquanto subo a serra em direção à pousada. Embora molhada que nem pinto chego na Colina da Serra bem contente com a oportunidade de ter me exercitado um pouco. Não agüentava mais aqueles dois dias de inatividade total. Não me restaram senão alternativas sedentárias: ler, ver tv, jogar um game que adoro no celular e bate-papos com os outros hóspedes. Sem falar na tagarelice à-toa com Mariazinha. E dê-lhe comida! E põe fartura nisso! Domingo amanhece chovendo e assim a maioria dos hóspedes se manda, exceto Iara, Rocha, Gabriel e Camile. No meio da manhã, a chuva pára, e decidimos caminhar até o bar Malacara. E lá vamos nós, Camile, Gabriel e eu. Pegamos a estrada geral da Vila Rosa, e vou mostrando a eles dois canions que se avistam à esquerda da estrada: o Índios Coroados e o Molha Côco. Mais adiante o imponente Malacara mostra, em seu paredão norte, várias cachoeiras, resultado das chuvas que castigaram a região durante os últimos quatro dias. Paramos no bar, e cumprimento efusivamente meu amigo Toninho e Eni, sua mulher. Como sempre, a jogatina na mesa de sinuca corre solta. Toninho, pra minha surpresa, está sóbrio, sua boa disposição mantém-se, contudo, inalterada, apenas um pouco menos exuberante. Gabriel e Camile deitam-se no gramado após comer os sandubas que haviam trazido. Eu fico jogando conversa fora com meus amigos. Descendo o rio Malacara, passam, navegando em bóias, o dono do Pedra Afiada, Jean Pierre, mais 4 guias da pousada. Feitas as despedidas de praxe, partimos. Decido retornar por um caminho diferente, e enveredamos por uma estradinha perpendicular à da Vila Rosa. Após ultrapassar uma ponte de arame tinindo de nova sobre o rio Malacara, dobro à direita, e eis-me na estrada geral de Alvorada, paralela à da Vila Rosa. Seguimos sempre reto. A estrada é muito linda, tranqüila, sem o movimento de carros e de motoqueiros exibidos, acelerando suas motos. A visão dos cânions é muito mais legal daqui. O rio Malacara continua seu trajeto em direção ao Mampituba. Vez por outra, o céu deixa entrever uma nesga de azul. Se o tempo melhorar, não partirei amanhã com meus amiguinhos pra Porto. Torço por isso! Ao chegar à cidade, me perco um pouco, nunca percorrera aquela estrada antes. As cabana azuis da Colina da Serra, apontando no cocuruto da serra do Faxinal, são meu ponto de referência, bem como as duas torres da igreja matriz. Quando estamos chegando na pracinha, em frente ao supermercado Magagnin, escuto uma buzina: são Mariazinha e Mariana vindas da pousada. Convidam-nos pra subir no carro e ir com elas até a sua casa. Gabriel e Camile preferem continuar caminhando; já eu aceito e me junto às duas. Maria traz o lixaredo acumulado durante o feriadão porque o caminhão de lixo não vai até a pousada recolhê-lo. Terminada as tarefas na cidade, regressamos. A noite desce suave e já dá pra perceber róseas nuvens dispersas aqui e acolá no céu. Uma promessa de bom tempo. Coisa boa, assim posso permanecer aqui até quarta-feira....oba!!!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Repeteco do Revéillon em Praia Grande

Troco a badalação de um revéillon em Angra pelo de Praia Grande. No meu repertório atual de prazeres, só quero sossego, como diz o Tim Maia naquela canção. Assim sendo, comunico ao meu filho e nora que não festejarei o Ano Novo com eles. Graças a deus, não me parecem muito abalados, o que me deixa sinceramente aliviada. Embora tenha sido aprovada no exame de direção (sim, sim, só agora com 56 aninhos, tomei coragem e resolvi aprender a dirigir), ainda não recebi a carteira de habilitação, motivo por que tenho de encarar o busão. Pego o das 17 horas pra Torres e quando chego à Vila São João, seu Deonir já está lá me esperando. Conversamos animadamente durante o trajeto de 40 km. Dessa vez a pousada não se encontra deserta. Há outros hóspedes, Iara e Rocha. Ela é mãe do Gabriel, casado com Camile, com quem fiz o rapel da Pedra Branca em maio. Os meus jovens amigos chegam amanhã, explica Iara, dona de belos olhos castanho-esverdeados, natural de Carazinho. Rocha, ao contrário da maioria dos médicos, não se nega a dar consultas informais. Pessoas agradáveis, sem frescuras, gosto deles de cara. À janta, Mariazinha preparara uma carne que se desfia na boca. Está divinamente boa! Depois que eles se retiram, eu vôo até a cozinha: não durmo sem trocar um dedo de prosa com Mariazinha. Se não faço isso, a loira é bem capaz de pôr vidro moído no meu café da manhã. Quarta-feira, véspera do novo ano, Kaloca me pega na pousada lá pelas 10 horas e nos tocamos na sua “possante” pela estrada que conduz à Roça da Estância. O plano é rapelar uma pequena ravina e suas cinco cascatas, arrematando o passeio com um salto no rio Mampituba. Tão bom sair voando as tranças na garupa da moto, adoro isso! Transcorridos 45 minutos, chegamos no local de onde iniciaremos a aventura. Sem caminhada de aproximação já que a ravina se situa à beira da estrada, rapelamos um barranquinho e, 10 metros adiante, já se vê a primeira cachoeira. A pequena queda d’água mede apenas 8 metros. Mais fácil impossível. A caminhada até a próxima cascata, uma rampa suave, é curtinha também. A rigor, prescindiria de corda, mas Kaloca, deveras cuidadoso com a segurança de seus clientes, inicia os procedimentos de rapel. Qualquer criança a venceria sem maiores dificuldades. Mais uma breve caminhada pelo leito do rio, quase sem água, até a terceira cascata. Esta, com 12 metros, é uma canaleta com uma grutinha em sua base. Nuvens toldam o céu vez por outra. Caminhamos um pouco mais, e eis a piéce de resistance: a quarta cachoeira com 35 metros. Contudo, é moleza descê-la. Filmo a mata ao redor da pequena e estreita ravina enquanto espero que Kaloca termine de puxar a corda que amarrara no tronco duma árvore. Esses murmúrios da floresta são deliciosos. Sinto-me tão radiante no meio dessa exuberante natureza! Por fim, alcançamos a quinta queda d’água, um paredãozinho de 10 metros, que não proporciona adrenalina alguma ao rapelá-lo. Kaloca esclarece que esta via é perfeita pra iniciantes devido ao seu grau de baixa dificuldade. Pra minha alegria, já vislumbro a Pedra Branca; ao seu lado, a montanha com formato de chapéu de bispo. Adoro esse visual! Embaixo o rio Mampituba revela um leito raso. Pulamos de uma pedra cuja altura beira 5 metros. A água está geladinha, arrepios percorrem minha pele...que gostosura! Nado até a margem. Lá, sentados em uma pedra, comemos nossos lanches: sanduíches feitos com carne assada bem desfiadinha: sobras do jantar de ontem. O tempo, infelizmente, está mudando, nuvens densas prenunciam chuva, o que de fato acontece durante o nosso retorno. Os pingos machucam meu rosto, mas eu tou nem aí, feliz demais com a pequena aventura, agarrada à cintura de Kaloca. Já na pousada, alongo, tomo banho e coloco um vestido verde com sandálias prateadas - afinal, é véspera de ano novo - e vou pro refeitório. Camile e Gabriel já se encontram lá. Vieram de Ibiraquera onde passaram o Natal. Há mais dois casais, o Álvaro e a Stela, donos do bar Insano, e a Isabel e o Marcio, ela jornalista, ele publicitário. Quase na hora da ceia, servida às 22 horas, chega uma família, igualmente gaúcha: pai, mãe e filha. Sem contar com Emerson e Elenice, curitibanos, proprietários dum sítio ao lado da pousada. Nossa janta transcorre num alegre conversê. A tradição exige que, quando badale a meia-noite, nos desloquemos até a colina pra ver os fogos que espocam pela redondeza. Espumantes são servidos, abraços, beijos e desejos de “tudo de bom em 2009” são repetidos entre nós. Se foi rapidinho o ano, e o novo mal aponta o nariz! Pra festejarmos o primeiro dia de 2009, combinamos, eu, Camile e Gabriel, fazer o rapel do Café. O encontro é na casa de Kaloca onde um grupo de cariocas também irá participar do programa. São marinheiros de primeira viagem, nunca praticaram esse esporte. O tempo nublado ameaça chuva, nós, contudo, despreocupados, nos tocamos estrada afora. Dessa feita, vamos rapelar apenas as últimas cinco cachoeiras porque é muita gente pra fazer as 12. Alcançada a primeira cachoeira, todos vestem suas roupas de neoprene e colocam as cadeirinhas enquanto Flavio, o outro guia, dá instruções aos novatos. Sou escolhida pra ser a primeira a descer devido a minha “experiência”, essa é boa......hahahaha. Um pouco nervosa pela responsabilidade, rapelo, porém, sem maiores dificuldades enquanto lá embaixo Flavio faz a segurança. Quase uma hora se passa até que a última pessoa chegue ao poço (meio sacal essa espera!). A queda d’água é muito tri, linda demais! A segunda cachoeira, um rampão, não apresenta dificuldade alguma e todos descem rapidamente por ela. Já a terceira, a malsinada Sinistra, é meu tormento. Foi aqui que pendulei e dei com os costados no lajedo há quase dois anos atrás. Tá bem cheia e desço bem devagarinho até o poço onde Flavio nos aguarda pra prender a corda no oito e, assim, iniciarmos a rapelagem da quarta queda. Lá embaixo, já se encontra Camile que desceu primeiro. Logo, Gabriel junta-se a nós. Uma chuva miúda começa a cair. Pra nossa sorte, a reentrância duma enorme rocha serve de abrigo, e lá nos protegemos enquanto aguardamos a descida do restante do grupo. E a chuva de fininha começa a engrossar. As águas do rio, até então límpidas, tornam-se turvas e volumosas rapidamente. Eu fico apreensiva com os cariocas. Dureza, encarar a Sinistra, com 37 metros, e a seguinte, com 15, nesse caudal! Um batismo e tanto o deles! A chuva, impiedosa, não dá tréguas. E, ainda, falta uma! Os dois guias decidem, então, fazer a ancoragem da última cachoeira em uma árvore, evitando rapelar por dentro d' água. Assim, nos tiram pelo lado, um paredão seco cheio de raízes e arbustos. Sãos e salvos, caminhamos uns 50 minutos até o café do Valmor onde os cariocas se deixam ficar. Irão provar os deliciosos quitutes feitos pela dona. Já nós optamos por voltar à pousada. E lá vamos os três comentando sobre o “ perigo” recém enfrentado.....eita vida boa!