domingo, 22 de junho de 2014

Pedal Tô Fora da Copa - Parte 2

Dia seguinte, sexta-feira, ao contrário de ontem, pulamos cedo da cama. Não queremos mais repetir o feito de pedalar à noite como fizemos ontem. Quem gosta de escuro ou é coruja ou morcego!! Terminado o café, nos despedimos da boa Janete e pegamos a estrada que, segundo suas palavras, tem “3 tops”, motivo por que meus cabelos grisalhos já cheios de frizz ficaram mais arrepiados ainda. Foi susto à-toa, os aclives nem foram tão danados assim. Lá pelas tantas, por causa dum trecho cujo terreno exibia uma coloração avermelhada, a Fátima entrou numa que haviam estendido um tapete vermelho em nossa homenagem, hahahaha!! Adoro essa pequena, é muito engraçada! Uns 10 km antes de Guaraqueçaba, dum mirante, construído no lado esquerdo da estrada, se tem uma visão privilegiada da Serra Negra de Guaraqueçaba e duma nesga do mar. Chegamos por volta das 17 horas a Guaraqueçaba, cidadezinha localizada na baia de mesmo nome. Do hotel, a visão privilegiada de várias ilhas e parte do litoral paranaense. Hospedados, no estabelecimento hoteleiro, um grupo de ciclistas, alguns amigos de Fátima. Um copo de uísque passava de mão em mão tal qual cuia de chimarrão. Hidratação irrecusável! Afinal, há que se repor as energias perdidas ao longo dos 46 km de soca-bota. Aceitamos o convite dos guris para jantarmos juntos. A bem da verdade de guris eles não tinham nada. Exceto um, o resto do grupo já ultrapassou há muito os 50 anos. Desde terça, nossa dieta alimentar tem sido peixe, camarão e frutos do mar. No restaurante guaraqueçabense não foi diferente. Aliás, digno de menção, os croquetes de camarão, os mariscos ao vinagrete e o peixe empanado. Embora a companhia estivesse agradável, dia seguinte teríamos que acordar 6 da matina pra pegar o barco. Assim, nos despedimos do grupo e obedientes ao olhar severo de Morfeu fomos pra caminha antes das 22 horas.

 No sábado, contamos com a ajuda duns ciclistas curitibanos pra içar as bicis até o deque superior da embarcação Ilha do Mel que faz a travessia até Paranágua em 2 horas e 30 minutos. Bem mais vantajoso do que de busão cuja duração é 5 horas e meia! O porto, cheio de guindastes com milhares de contêineres, impressiona pela monumentalidade. Resolvemos fazer um brunch já que não tomáramos café da manhã devido ao horário madrugador em que havíamos despertado. Provamos então o famoso pastel do Mercado Municipal. Finda a refeição tratamos de pegar a estrada já que nos esperavam cerca de 60 km até Antonina. Acabamos saindo de Paranágua às 12 e 30 porque deu um problema na válvula da câmara da bici da Fatima quando nós fomos calibrar os pneus num posto de gasolina. Ficamos rodando de oficina em oficina até enfim consertar o defeito. Pegamos a BR 277, rodovia com 2 pistas e bons acostamentos, suficientemente largos para que 2 bicis pedalassem lado a lado. Mas por cautela, considerando o potencial psicopata dos motoras brasileiros, seguimos em fila indiana estrada afora. Paramos 3 vezes pra fazer xixi, beber água de côco e caldo de cana além, é claro, das indefectíveis fotos de nossas magrelitas! Passamos batido por Morretes, preferindo visitá-la dia seguinte quando faríamos o derradeiro pedal de nosso circuito turístico. Jantamos no restaurante em frente à praça da Matriz, com direito a 2 garrafas de vinho tinto, sem contar as várias doses de Domeq que entornáramos quando chegamos no hotel. Claro está que dormimos como anjos, exceto Fatima cujo sono deveras sensível foi afetado pelos ronronar vibrante de Juju.


Aleluia, no domingão, o céu, enfim azul, deixa o sol mostrar seu sorriso amarelo, hehe. Vamos a Morretes não só pra conhecer a cidade como também na intenção de completar 200 km. A ideia de fechar o pedal em tal cifra partiu de Juju quando percebeu, ao chegarmos ontem, aqui, em Antonina, que nossa quilometragem batia nos 170 km (segundo o cronômetro da Fatima, já o meu mais modesto apontou 165 km). Embora tenha uma pista, a rodovia PR 408 tem acostamentos em ambos os lados. Com alguns aclives e declives suaves, o trajeto ida e volta não ultrapassou 32 km. A pequena Morretes tem um atraente e bem conservado centro histórico, com casarios coloridos em estilo colonial. Almoçamos barreado, prato típico da região, cuja origem remonta às ilhas açorianas. A carne, de tão
cozida, torna-se esfiapada e ao seu molho mistura-se farinha e banana. O restaurante escolhido, à beira do rio Nhundiaquara, proporcionou uma bela paisagem. Como o vinho mostrou-se azedo, e mais garrafas dessa bebida não mais havia, mudamos pra caipirinha de maracujá, muito bem preparada. No retorno a Antonina, demos um rolê rápido pela cidade, parando apenas na estação ferroviária onde tiramos algumas fotos. Mais não deu pra conhecer porque tínhamos pressa de voltar a Curitiba de modo a visitar nossa amiga Denise MiuMiu, companheira do igualmente memorável pedal carnavalesco em plagas uruguaias. Nem bem terminou a viagem, já estávamos combinando futuros pedais. Com certeza, prezamos - e muito - a companhia masculina. Contudo, nessa pequena aventura, exclusivamente feminina, a ausência dos queridos guris não foi sentida nem pra trocar pneus.......até porque nenhum furou!

terça-feira, 17 de junho de 2014

Pedal Tô Fora da Copa - Parte 1

Feriadão se aproximando, deu ganas de armar uma boa indiada. Propus então às amigas com quem pedalei no Uruguay um cicloturismo no Paraná. Das 5 somente 3 confirmaram. É assim então que Juju e eu, na terça, nos mandamos com nossas guerreiras magrelas pro aeroporto. Melhor que acondicionar em mala bike foi a sugestão de Ricardo, da Adventure Bike Shop, pra embalar as bicis: retirados os pedais e torcidos os guidons, encamisamos cada uma em 3 metros de espuma 18 mm, reforçando as laterais com mais espuma, de modo a proteger bem câmbios e freios. O embrulho, amarrado com 4 extensores, parecia ao final um gigantesco presunto. Não demorou mais que 20 minutos embalar as 2 bicis, que foram assim despachadas, pagando-se um excesso de bagagem irrisório. E nada aconteceu às nossas queridas, nem na ida tampouco na volta!! Isso que, durante o voo de retorno a Porto, Ju me acordou e, aflita, declarou “Senhorinha, esquecemos de esvaziar os pneus!” Foi um deus nos acuda. Torcemos as mãos, rezamos, prometemos mundos e fundos, inclusive agir com mais seriedade nas futuras viagens caso nada acontecesse às bikes. Mais sorte que juízo nós tivemos. A imperdoável distração não rendeu transtorno algum porque pneus e câmaras se mantiveram intactos, dá pra acreditar? Felizes da vida com a perspectiva de 5 dias de lícita vagabundagem esportiva, propus a Juju um brinde enquanto esperávamos nosso vôo. E assim foi que entornamos 2 tacitas de vinho Valduga. Quando passamos ao salão deembarque, infelizmente, só tinha um tal de vinho do Nono. O insuportável odor e paladar de suco de uva evitou que continuássemos nossa agradável libação alcoólica. Gostamos dum tragoleu mas que seja com vinho buenacho! Fátima, nossa anfitriã, nos esperava no aeroporto, em São José dos Pinhais com........uma garrafa e 2 taças de vinho!! Senti que inevitavelmente um tragoléu seria consumado. No carro, um típico cacacá bem feminino, com cada uma querendo falar mais que a outra, tamanha a alegria do reencontro. E a noite rendeu até as cinco da manhã pras duas doidinhas, porque esta senhorinha aqui se rendeu aos braços de Morfeu, comportadamente, por volta das 2 da madrugada. Antes de dormir, porém, curto a tagarelice de minhas duas novas amigas. Fatima, pequena e magra, é elétrica. Sua animada vozinha, importada da Disney, guarda longínquo eco de Pato Donald. Quando olha de viés e reduz seus olhos esverdeados a duas fendas desconfiadas, lembra Calvin. Ser de outro planeta, a Monster, é personagem saído diretaço de estória em quadrinho! Já Jucilene, quando a conheci, não dei um centavo por ela. Mignon (aliás, somos as 3 um trio de minis), tirei ela pra patricinha metida a aventureira. Ela não só é uma assumidésima pati como também tem pegada pras indiadas, tanto que obrigou esta senhorinha a morder a língua. E de nhapa ainda leva jeito pra mecânica, a danada! 


Bueno, dia seguinte, quarta, após um almocinho maneiro num restaurante asiático - regado só a refri pra curar a ressacona - nos tocamos pra Antonina chegando à noite na cidadezinha, localizada em frente a baia de mesmo nome. Com pouco mais de 18 mil habitantes, Antonina possui prédios antigos bem conservados, destacando-se a bela estação ferroviária, o teatro municipal, as igrejas da Matriz e de Bom Jesus de Saivá, dentre outros prédios históricos, certificados da fase áurea do mate que fez dela, à época, o quarto porto brasileiro. O roteiro, bolado por Fatima, a paranaense do grupo, é um pedal circular com 4 dias de duração, iniciando e terminando em Antonina. Destemidas, dispensamos carro de apoio e guia. Pra tornar a aventura ainda mais porra louca, nenhuma de nós sabia trocar pneus ou entendia muito de mecânica. No bagageiro da minha bici e no da Ju, pequenas maletas; às costas, mochilas, contendo o mínimo indispensável de roupa. Juju, sem qualquer pretensão, prendeu sobre a maleta havaianas petit pois. A guria causou! Charme que só as bonequinhas têm! Fatima, não tão amadora quanto Ju e eu, dispensou mochila, acoplando 2 alforges ao pneu traseiro. Cansadas, esgotadas de tanta excitação e ainda sentindo os efeitos da esbórnia da noite anterior, desabamos nas camas, dormindo sem muita delonga.

 
Na quinta-feira, dia de Corpus Christi, antes de deixarmos Antonina, nos fotografamos umas as outras com nossas magrelas diante do tradicional tapete feito de serragem colorida, montado ao redor da praça da Matriz. Ao cabo de 20 km, pedalando ao longo do acostamento da rodovia PR 440, dobramos à direita, entrando na PR 405, estrada de terra que conduz à Guaraqueçaba. O trajeto, até então plano, começou a apresentar aclives e declives que embora razoáveis exigiram certo esforço físico. Afinal, já estávamos subindo a Serra Negra de Guaraqueçaba. Foram 38 km assando a virilha no chão batido. Diga-se de passagem, um chão batido bem legal, com pouca pedra solta e sem muita buraqueira digna de nota. Passando por um armazém, não é que um cachorro se invocou comigo e fincou os dentões na minha panturrilha? O resultado foi que quando retornei a Porto tive de me vacinar contra raiva porque, abobada, não parei pra perguntar ao dono se o cachorro era vacinado. O tempo nublado não aliviou, permanecendo cinzento nos 3 dos 4 dias de pedal, sem falar da umidade em torno de 90%! Foi então que a bici da Ju começou a dar piti. Cada vez que ela acionava o câmbio traseiro pra subir as lombas, a corrente caia fazendo com que a guria, que pedalava clipada, comprasse vários terrenos. Mas têm males que vêm pro bem. Só assim Juju aprendeu a recolocar a corrente no cassete e iniciou seu aprendizado de mecânica. Após 48 km, paramos pra comer pastel na lanchonete da Corina. Um arraso o petisco, com farto recheio! Como havíamos deixado Antonina quase ½ dia, a noite nos surpreendeu. Sorte nossa que o pior do trajeto, as descidas e subidas, já tinham acabado. Acendemos nossos faroletes e enfrentamos a escuridão, pedalando (animadésima, diga-se de passagem) ainda 45 minutos, quando então chegamos a Tagaçaba, distrito de Guaraqueçaba, quase 19 horas. A pousada, das três que nos hospedamos, foi a mais xinfrim. Em compensação, a dona, Janete, mais atenciosa impossível. Jantamos uma pescadinha super saborosa com os devidos complementos de arroz, feijão, massa e salada. Finda a janta fomos pro quarto. Só queríamos saber de nos encostar porque o sono tava batendo forte. Também pudera, foram 58 km de giro. E não é que a Monster resolveu divergir de mim, sustentando que seu cronômetro marcara 61 km? A celeuma perdurou nos demais dias, com as duas abestadas batendo boca sobre uma pífia diferença de 3 km!