segunda-feira, 16 de abril de 2007

Nevasca na estrada

Acordo e ainda chove, o tempo continua horrível, inclusive com vestígios de neve no pátio do hotel. A névoa se instalou definitivamente sobre Natales obnubilando a visão dos cerros ao redor da cidade. Pego o bus das 13 horas pra Punta Arenas e durante a viagem, em vários trechos da estrada, neva em abundância. Já perto de Arenas, chuva e fortes rajadas de vento reforçam as péssimas condições climáticas que a envolvem. Hospedo-me no Hostal Terrasur que, embora na zona central, se encontra situado numa rua paralela à principal, bem tranqüila. Transformada em pousada, a casa apresenta-se acolhedoramente caseira, paredes revestidas com papel listrado em tons suaves. Meu quarto, amplo, é bem iluminado por duas grandes janelas que se debruçam para a rua O'Higgins. Um belo armário embutido onde trato logo de arrumar minhas roupas (não importa se fico um dia ou um mês, adoro desfazer a mala e pôr tudo em ordem, assim me sinto em casa) e um banheiro relativamente espaçoso. Enfim, sinto-me confortavelmente instalada e saio a cata de um lugar para almoçar. Antes, dou um bordejo na rua principal da cidade, muito mais movimentada se comparada à Puerto Natales. Mesmo assim, Arenas não chega a ser insuportavelmente grande, dá ainda pra se sentir à vontade. Entro num bar, decorado à inglesa, onde me sento ao lado da janela. Decido-me e escolho: lomo con ensalada, já estou enjoada de tantos pescados e frutos de mar. Sem querer parecer blasé, cansei, por ora, de salmão! O bife não é lá essas coisas, além de fininho está passado demais. O que salva o almoço do desastre é a salada de tomate, alface, milho, vagem e fatias de abacate. Numa mesa em frente a minha, há um trio de orientais, se chineses ou japoneses, sei lá (observo, deliciada, que um deles embica um pisco sour atrás do outro), conversando com um chileno de aspecto europeu (há muitos descendentes de ingleses e iugoslavos por estas bandas). Consigo entender alguma coisa do blábláblá falado em inglês: os de olhinhos puxados querem comprar pescados para vender em seu país. Nas outras mesas, atrás da minha, chilenas tomando café expresso conversam banalidades antes de regressarem a seus lares. Distraio-me observando o movimento dos transeuntes. Seus passos ligeiros denunciam a pressa de fim de tarde, o desejo de chegar em casa e poder finalmente escapar do vento e da chuva miúda que não cessa de cair. O vento balança a copa das árvores dispostas ao longo do corredor central que divide a avenida Cristobal Colon em duas pistas. As luzes dos neons acendem-se e os carros passam a circular com as sinaleiras e faróis iluminados, impondo um brilho vermelho, amarelo e verde na tarde escura. Chove e chove, o dia inteiro foi assim, e a previsão meteorológica confirma: chuva e chuva para os dois dias seguintes....fazer o quê, hein?! Este tempo está me deixando tão acabrunhada que volto ao hotel apesar de ser apenas 20 horas. Deito-me e leio um pouco mais a respeito das aventuras de Lady Florence, a aristocrata inglesa, que percorreu durante quase dois meses, a cavalo, a região localizada entre Punta Arenas e aquela onde, atualmente, localiza-se o Parque Nacional Torres del Paine. Foi esta dama quem colocou nas Torres del Paine o apelido de Agujas de Cleopatra. Abandono o livro pela tv, tendo o cuidado de sintonizar canais dublados ou falados em espanhol, assim posso treinar meu ouvido neste idioma. E adormeço escutando um galã qualquer exclamar "me gustán las mujeres con los ojos castaños!".

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