quinta-feira, 15 de junho de 2006

Um rolê no Poço Encantado, Mucugê e Igatu

Melhor dia impossível pra passear: é Corpus Christi e o dia perfeito: quente e com um lindo céu azul. No desjejum, delicioso, há mis guloseimas me espreitando; difícil ser sóbria com todas essas tentações postas na mesa. Como não pretendo almoçar, tenho uma justa causa a estimular minha gula. Às 08:30, Renato, o guia, me pega na pousada. Dou bons dias pros sorridentes Felipe e Mari que já se encontram no carro. Nosso primeiro destino é o Poço Encantado, pois o melhor horário de observação dos raios de sol, penetrando pela fenda da rocha, é entre 10 e 12 horas. Para alcançá-lo, desce-se uma escadaria de pedra, num desnível de 80 metros, que conduz até a boca da gruta. Outra descida, dessa feita com mais cuidado, já que a escuridão, mesmo amenizada por alguns lampiões, dá o tom no local. De uma beleza ímpar, o fundo do lago de águas límpidas, com seus 60 metros de profundidade, mostra-se visível, preferencialmente, nos meses de junho e julho quando fachos de luz, atravessando o pórtico da gruta, incidem em sua superfície com mais intensidade e revelam a tonalidade intensamente azulada de suas águas. Um espetáculo deslumbrante! O nosso próximo destino é Mucugê, cidadezinha menor que Lençóis mas ainda maior que Capão, deveras linda, bem conservada e limpa, onde o São João é comemorado com esmero. Também enfeitada de bandeirolas verde-amarelo, tendinhas de barro, cobertas de sapé, já estão sendo armadas no meio das ruas ao redor da praça, onde serão vendidos quitutes e bebidas. Renato conta que, nos dias de festa, as casas, caprichosamente engalanadas, oferecem aos visitantes doces, salgados e licores: basta entrar, tomar assento e se servir. Na praça, há um pitoresco carrinho, em forma de ataúde, usado pra carregar os bebuns cujos dizeres advertem: "Queria ser como você não ter razão pra beber. Bêbado aqui é cuidado cada um é dono do seu e é respeitado. Não durmo desmaio". Isso é que é ser civilizado! Não dá pra ir a Mucugê sem conhecer o cemitério “bizantino” (oficialmente chama-se Cemitério Santa Izabel), assim chamado porque os túmulos apresentam formas rebuscadas que lembram um pouco o estilo mouro. O cemitério apresenta todos os jazigos pintados dum branco imaculado. Como foi construído diretamente sobre as rochas, seu piso apresenta-se com altos e baixos acompanhando a irregularidade do terreno. Lá se encontram os restos mortais de duas famílias poderosas da região: os Medrado e os Paraguassu, tanto que a atual prefeita chama-se Ana Olímpia Hora Medrado. Antes de prosseguirmos a viagem, já quase saindo da cidade, Renato faz uma breve parada em frente à Igreja de Santo Antonio para que a visitemos. Branca, com as portas pintadas de azul, a simpática igreja está sendo preparada para as cerimônias comemorativos das festas juninas. Nos diversos níveis do altar principal, duas mulheres enchem com flores brancas os vasos ali dispostos. Além do grupo de mulheres que enfeitam e limpam a igreja, uma moça num teclado ensaia um bando de crianças que dançam animadamente ao longo do corredor central da nave. Num dos bancos, encontram-se pandeiros, chocalhos e um tambor. Imagino como não soará alegre quando todos os instrumentos se fizerem ouvir nas novenas que se prolongam durante junho! Embarco no carro com pesar, gostaria de ter ficado mais um pouco curtindo aquele ensaio! Saímos do asfalto e entramos numa estradinha de terra cheia de buracos, sacolejando vale abaixo, quando vejo então a Machu Pichu baiana: Igatu! Esta cidade supera em muito minhas expectativas! Pequena vila com 350 moradores já foi habitada, nos áureos tempos do garimpo, por mais de 2.000 almas. Suas casas feitas na rocha parecem moradias de duendes. As pessoas, simpaticíssimas. Escolho-a, sem hesitações, como a minha preferida de todas as cidades conhecidas até agora na Chapada. Um sonho este lugar! Visitamos o ateliê de Marco, soteropolitano, responsável pela reconstrução de uma casa de pedra onde estão expostas obras de arte de vários artistas plásticos baianos, incluídas também as dele. Na casa, super estilosa, um belo jardim com mesinhas e cadeiras protegidas por guarda-sóis onde se pode merendar. Marco, ainda, construiu um pequeno museu a céu aberto onde são exibidos diversos objetos relativos ao garimpo. Antes de retornarmos a Lençóis, já noite, entramos em Andaraí pra provarmos, na sorveteria Apolo, suas delícias que, segundo Renato, são os melhores do cerrado. Tanto o de côco com goiaba quanto o de rapadura e batata doce que provei são, de fato, gostosíssimos!! Sem maiores atrativos, não considero a cidade digna de muita atenção, a não ser por algumas interessantes pinturas feitas nas paredes da prefeitura, retratando vários lugares da região, entre os quais os Alagados de Marimbus, considerado o pantanal baiano. Chegamos em Lençóis às 21 horas e embora cansados, decidimos festejar a nossa despedida da Chapada pois amanhã cada um segue seu rumo de volta pra casa. E assim fazemos, comendo e bebendo num dos vários barzinhos que há no largo em frente ao mercado da cidade. A benção, São Antonio, São João e São Pedro!! Eparrei!!

2 comentários:

Maria Lamparina disse...

Oi Bea!!
Suas viagens são muito tri como dizem ai na tua terra...boas escolhas!
Li alguns posts da sua última ao Butão, mas logo vim pros da Chapada pois é nosso próximo destino!
Pesquisando sobre a chapada gostamos da cidade de Igatu, e comentaste aqui que foi a que mais te impressionou, sabes me dizer se tem hospedagens por lá, albergue ou casas de família?? e os passeios será que podem ser agendados lá mesmo, tem guias da cidade? Vamos em abril...
bjos!
Lara

Beatriz disse...

escreve pro sankyenator@gmail.com q te dou os bizus, lara!!