sábado, 10 de junho de 2006

Dançando forró pé de serra

Saímos do Pati às 09:15. Deixo pra trás, já com saudades, a acolhedora família de seu Wilson. Quando alcançamos uma bifurcação, Felipe e Mari despedem-se de nós já que vão pro Cachoeirão, enquanto eu, Marivaldo, Simone, Marcos e Plince seguimos a trilha que dá na rampa do beco, uma subida que, embora dure apenas 35 minutos, se mostra interminável. Íngreme demais, demanda mais esforço que a da Fumaça e a do Castelo. Quando desembocamos nos Gerais do Rio Preto, começa a cair uma chuva miudinha que se mantém durante uma boa parte do trajeto. Apesar do chuvisco, a temperatura mantém-se agradável. Descemos pros Gerais do Vieira pela ravina do Quebra Bundas, uma ladeira calçada de pedras na década de 1920, de modo a permitir a passagem do gado dos Gerais do Rio Preto para os Gerais do Vieira. Graças a deus, parou de chover porque senão o cuidado teria de ser redobrado já que as pedras, se molhadas, se tornariam lisas e escorregadias dificultando em muito a descida. Paramos, então, pra descansar. Logo após chegam, montados em jegues, dois nativos carregando a cabresto um terceiro animal. Juntam-se a nós e, convidados, compartilham nosso lanche. Homens rudes, de poucas falas, contam que estão retornando ao Pati depois de ter passado o dia procurando o animal fugitivo. Ao reiniciarmos a caminhada, uma nuvem envolve e encobre a paisagem. Curto a sensação de me encontrar dentro daquela massa gasosa embora não perceba quase nada ao meu redor. Tenho de fazer um parêntesis pra falar de Plince. Na noite anterior, enquanto eu ainda estava na casa de Seu Wilson, escutei um conversê dele na cozinha fofocando para os donos da casa sobre a amante de seu Eduardo, outro morador do Pati. Contava o moleque sobre os desgostos da esposa de seu Eduardo. Que ela se queixou pra ele da pouca comida que o marido punha em casa depois que começou a se deitar com a tal amante, nem mais dormia com o marido, enojada da vil traição. Tudo isso eu entreouvia deliciada enquanto fazia meus alongamentos após a trilha até a Gruta do Castelo. Plince, enquanto conversava, tratou de sossegar os atentíssimos anfitriões: que não se preocupassem, não, porque nada do que acontecia ali na casa de seu Wilson seria levado para a casa de seu Eduardo, ficassem tranqüilos, ele não era leva e trás, não! Ainda curiosa com a estória entreouvida ontem, questiono Plince. Ele explica que seu Eduardo embora já tenha 70 e poucos anos é danado de arretado e a amante não é mulher jovem, não, deve ter uns 40 e poucos. Seu Eduardo, acrescenta ele, gastou bem uns mil reais montando casa pra ela em Andaraí. Uma figura esse moleque. Chegamos em Bombas às 17:00 e lá está Silvia nos esperando com o Land Rover e um convite pra irmos a Conceição dos Gatos onde rolará um forró pé de serra (no autêntico, são usados como instrumentos apenas o triângulo, pandeiro e sanfona). A festa é pra comemorar, antecipadamente, Santo Antonio já que aqui na Bahia, aliás, em todo o Nordeste, as festas juninas em homenagem aos santos Antonio, João e Pedro são festejadas com fervor não só religioso como pagão. Além das lindas novenas rezadas nas igrejas, o povo diverte-se nas praças e largos dançando e comendo noite adentro. Aceito sem hesitação o convite e lá pelas 23 horas nos tocamos pra Conceição dos Gatos, um vilarejo de duas ruas apenas, distante de Caeté 10 km. E quem eu vejo todo arrumado, nos trinques, curtindo a festa? O Plince!! Todo pimpão faz pose de homem sério sem deixar, entretanto, de espichar o olho de forma disfarçada vez por outra pras meninas que passam em bando pra lá e pra cá. O forró, danado de bom, faz o povo todo dançar animado. Compro um churrasquinho numa das várias barraquinhas que vendem guloseimas e bem alimentada danço com Palito, o dono da licoteria de Capão, até as 2:30 quando então Silvia nos convida pra voltarmos. E lá vamos nós na Land Rover, felizes e cansados, sacolejando pela horrível estradinha cheia de buracos até Capão. Que dia....ufa!

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