sábado, 3 de junho de 2006

Chegada na Vila do Capão

Nestas férias, vou conhecer a Chapada Diamantina, localizada na Bahia. São várias as cidades que se situam no entorno do Parque Nacional da Chapada Diamantina: Lençóis, Mucugê, Andaraí, Itaetê, Ibicoara, Igatu e Palmeiras. Escolho, entretanto, um distrito desta última, a Vila de Caeté Açu ou do Capão, situada no Vale do Capão, já dentro do parque, cuja população alcança mais ou menos 2.000 habitantes. Foi durante décadas a Vila do Capão o centro provedor de café, bananas e serviços para os garimpeiros que trabalhavam nas serras próximas, cujo auge da atividade de mineração ocorreu entre os anos 1920 a 1930. A comunicação, na época, se dava principalmente pela trilha calçada de pedras Guiné-Volta da Serra-Sitio Novo-Capão-Lençóis; os tropeiros asseguravam a circulação das mercadorias numa direção Norte-Sul, partindo de Minas Gerais até Juazeiro. Após o apogeu do ciclo do garimpo de diamante, a Vila do Capão entrou em declínio, retomando o crescimento, a partir de 1990, com o incremento turístico da região. Bueno, chego em Salvador numa sexta-feira à noite e, às 07:00 do dia seguinte, embarco no ônibus da empresa Real Expresso, numa viagem cansativa com paradas em rodoviárias de diversas cidades, desembarcando às 14:30 em Palmeiras, localidade feia e sem maiores atrativos. Sou obrigada a fretar um carro pois não há transporte público regular até a Vila do Capão, distante 29 km. Assim embarco na Rural Williams cujo proprietário, o Zé Augusto, embora simpático, não baixa os salgados R$ 40,00 cobrados. E lá vamos nós sacolejando através da lastimável estradinha esburacada jogando conversa fora. Zé, apesar de sua baianice, não sabe bem o motivo de torcer pelo gaúcho Internacional, cujo emblema enfeita o pára-brisa de sua camionete. Eu já havia escolhido pela internete a pousada onde ficaria hospedada e o lugar, chamado sugestivamente Pé no Mato, não me desaponta. Sou muito bem recebida pela dona, a Silvia, uma baiana extrovertida e dinâmica, que logo me deixa super à vontade. A pousada apesar de simples tem um astral muito acolhedor. Sou acomodada num quarto amplo com banheiro privativo, além duma pequena varanda onde está pendurada uma convidativa rede. Há quartos mais simples com diárias mais em conta (a minha custou 50 reais porque fui na baixa temporada e havia pouquíssimos hóspedes) e acomodações com beliches pra 4 pessoas e banheiro coletivo. Neste dia, o da chegada, dou uma breve caminhada pela vila circundada por altos morros cobertos de vegetação. A estrada que vem de Palmeiras torna-se a rua principal, a única revestida com pedras de granito, chamada rua do Folga; as demais são de terra batida. É um lugarejo pequeno com coloridas casas de alvenaria, de meia água. Nos batentes de algumas janelas, são exibidas pencas de bananas, vendidas a quilo ou por unidade. À tardinha, as famílias costumam sentar-se às soleiras de suas portas batendo papo entre si ou com seus vizinhos. O lugar mais importante da cidade é a praça, um quadrilátero fincado no meio da vila, onde acontecem todos eventos de destaque como o semanal mercado domingueiro em que são vendidos frutas, legumes, hortaliças e até roupas, bem como exposição de artesanato de vários artistas locais, shows de forrós e as famosas festas juninas. Em um dos cantos da praça, sobressai o bar Flamboyam (escrito assim mesmo) considerado o point do vilarejo. É um espaçoso lugar com dois ambientes simples revestidos de lajotas: no da frente, um balcão e uma tv pendurada num canto da parede onde em dias de jogos de futebol muitos homens se reúnem pra beber cerveja e assistir às partidas. Na outra sala, a atração são as mesas de sinuca muito procuradas pelos habitantes da vila que gastam seu tempo ocioso em intermináveis e disputadas partidas. Em certas noites de fim de semana esta sala transforma-se em boate e o arrasta-pé rola até altas horas. Mesas e banquinhos de cimento na calçada completam os confortos que o bar oferece a seus clientes. No cardápio, diversos quitutes de aparência tentadora. Provei e aprovei o bolinho de queijo, bem gostosinho. Num recuo da praça, situa-se a igrejinha pintada de um azul anilina meio desbotado pelo tempo. A noite cai sobre a vila e, no céu cintilante de estrelas, uma lua crescente já bem gordinha se destaca. Isso por si só já teria bastado pra me deixar totalmente feliz quando então vislumbro, encantada, miríades de grandotes pirilampos como até então nunca vira, tornando mais iluminada a noite escura. Quando volto de minha breve incursão pelos arredores do vilarejo, sou apresentada ao meu guia, o Marivaldo, uma mistura bem brasileira de português e índio, fala mansa, de pouca conversa. Batemos um breve papo e combinamos então os passeios que farei durante minha permanência na vila.

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