segunda-feira, 5 de junho de 2006

Cachoeira do Rio Preto

A trilha, fácil e leve, demora uma hora e meia. A pequena cachoeira talvez não ultrapasse 4 metros de altura. Um passeio legalzinho, nada que te deixe em estado alfa de animação mas só o fato de eu estar no meio da natureza escutando os barulhinhos bons que ela irradia me deixa muito contente. Mergulho num dos poços e fico ali encostada numa rocha permitindo que os fortes jatos de água massageiem minhas costas. O geladinho da água no início causa um impacto mas logo logo eu começo a espadanar braços e pernas e paro de sentir frio. Fico boiando, barriga pra cima, sentindo-me em paz, afinal, estou de férias! Observo o vôo de alguns passarinhos traçando revoluteios elegantes pelo ar quando sinto algo atingindo minha bochecha esquerda; meio assustada passo a mão e constato que uma daquelas exibidas aves resolveu zoar com minha cara e lançou um petardo sobre mim. Putz grila, era só o que me faltava nesta vida: metralhada por uma rajada de merda. Entretanto, logo trato de me consolar, pois imagino que se fosse uma águia ou qualquer outro pássaro de porte igualmente avantajado, eu poderia até ter afundado, já pensaram?! Saio da água resmungando com o despudor daquela passarada. Estiro-me ao sol no lajedo e curto as nuvens desfilarem pelo azul do céu embalada pelo barulhinho da água escorrendo entre as pedras. Acordo com a voz de Marivaldo me convidando pra fazer um lanche. Saboreio com prazer o sanduíche enquanto meus olhos apreciam a tonalidade cor de topázio da água do rio. De volta à pousada, faço uma parada no balcão do barzinho que dá pro jardim. Sento em um dos banquinhos de madeira enquanto Iuri prepara um expresso pra mim. Sempre há um som legal rolando e uma conversa amena. Risadas de alguma bobagem dita não sei se por Marivaldo ou por Iuri competem com a voz de Alceu Valença cantando Morena Tropicana. Quando a noite cai, saio pra jantar e escolho entre as duas pizzarias existentes na Vila, a do Thomas, um suíço que, em visita ao Brasil, se apaixonou pelo lugar e aquerenciou-se em definitivo aqui. O restaurante que se situa em frente à praça de São Sebastião tem, além de duas salas, um alpendre no quintal situado nos fundos da casa onde estão dispostas mesas feitas de pedra rosada, tudo bem rústico. A iluminação é indireta criando um clima de aconchego no ambiente. Um forno redondo de barro assa a pizza em poucos minutos. No cardápio reduzidíssimo, há somente dois sabores, um salgado e outro doce, este com cobertura de banana, gergelim, nozes e castanhas. As pizzas são bem feitas e a massa, fininha, é bem crocante. O suco, de maracujá, é feito na hora, extraído da fruta que cresce nas árvores plantadas no quintal. Tudo muito caseiro, descontraído. O atendimento, gentil, é feita por uma moça magra, de traços delicados com aquele jeito de falar manso e sem pressa, tão característico do povo do nordeste. Peço a conta e verifico que o preço, bem razoável, não desafina com a singeleza do lugar. Mesmo cansada, dou uma banda pela vila e sigo por uma rua iluminada por um único poste de luz. Depois, somente o cintilar contínuo dos pirilampos torna-se a única referência visível já que o céu bastante nublado esconde o clarão da lua. Percebo aqui e ali pequenos fachos luminosos que indicam a existência de algumas casas mal e mal percebidas na escuridão. Firmo a vista e distingo enfim as janelas e porta de uma delas. Engraçado como o escuro modifica em muito a percepção dos objetos; exatamente porque mal se os distingue, a gente se assuste tanto com a noite. Como não fujo à regra do comum dos mortais, volto rapidinho pra pousada. Vá que salte do mato um lobisomem ou uma mula sem cabeça .... eu, hein?!

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