Chegamos a Manaus na quinta à noite. Como Lili e Ely partem pra Sampa ainda hoje, e Marcelo, embora dormindo na cidade, embarque amanhã cedo pra Belo Horizonte, decidimos jantar os quatro no aeroporto. Um tanto melancólica nossa refeição, afinal, finalera de viagem é sempre assim, com cada um seguindo seu rumo. Promessas mis de manter contato. E todo mundo acreditando, piamente, anotando emails e telefones. Se durar uma semana a empolgação, é muito! Sexta-feira, a agência que eu contratara, quando aqui estivera, antes de ir a São Gabriel, envia um carro que me leva até o porto. Subo num barco, tipo gaiola, com dois passadiços, e navegamos até o ponto onde ocorre o famoso encontro das águas do rio Negro com as do Solimões. Tal fenômeno acontece em decorrência da diferença entre a densidade e temperatura das águas bem como da velocidade de suas correntezas. Não acho muita graça, sinceramente, nesse tal fenômeno das águas escuras do Negro não se deixar envolver pelas águas barrentas do Solimões. Sei lá se porque um aguaceiro despenca e lonas azuis são baixadas pela tripulação, reduzindo a visão a nesgas de paisagem. A bem da verdade, nem muita coisa se perde, porque o cenário é bem monótono. O fato é que nos encerram naquela cápsula azulada e lá permanecemos, tiritando de frio (frio, sim!), açoitados por um ventinho insidioso. O céu pesado, carregado de nuvens pretas, sinaliza sua má intenção de continuar mandando água. Passeio chato e convencional, pra inglês ver. Coincidência ou não, a maioria dos turistas que encontro no tal restaurante onde paramos pra almoçar, perto do lago Janauari, constitui-se duma inglesada de terceira idade, pra lá de entusiasmada com a selva amazônica. E a chuva continua a cair em bátegas incessantes, tanto assim que fazemos a caminhada até o lago, onde há milhares de vitórias-régias, sob forte chuvaral. O guia, um baixinho enfezadinho, de meia-idade, aumenta meus conhecimentos de zoologia, discorrendo sobre o jaçanã. Esta ave faz seus ninhos sobre as vitórias-régias, aproveitando-se da proteção oferecida pelos seus espinhos, localizados sob a superfície da água. Mas sua esperteza vai mais além. Zombeteira, busca resíduos de matéria orgânica, adivinhem, onde? Entre os dentes dos jacarés! Hahaha!! Que figuraças os jaçanãs. São as escovas de dentes aéreas das dentarolas desses lagartões boca abertas, hahaha!! Depois do almoço, num restaurante onde se acotovelam trocentos turistas (que balbúrdia desagrável, meu deus), o guia inventa outra navegação, dessa feita, numa pequena canoa pra conhecermos um igarapé. Coisa mais sem graça de se ver, se comparada à exuberante paisagem que desfrutei durante a expedição ao Neblina. Dou graças aos céus quando retornamos a Manaus. Se o passeio continuasse, com certeza, eu surtaria. No dia seguinte, sábado, uma visita obrigatória se impõe: conhecer o teatro Amazonas. O seu recinto, de fato, é bonito. Sua sala de espetáculos, enfeitada de dourado e vermelho, goteja a imponência pesadona dum certo estilo barroco-rococó. No salão nobre, impresso no teto, o lindíssimo afresco, obra de Domenico de Angelis, é realmente digno de admiração. Insistindo na minha vocação de turista convencional (que masoca estou me saindo!), saio do teatro e tomo assento num ônibus de dois andares, pronta pra fazer um city tour pela cidade. No andar superior, dois baianos, um casal e mais outro cara, solitário que nem eu. Minha impressão de Manaus não melhora. Continuo a considerá-la sem charme, despida de grandes atrativos. Nem mesmo a tal praia de Ponta Negra com seus espigões luxuosos me comove. Além do mais sou obrigada a ouvir os comentários entusiasmadíssimos do guia sobre o preço dos imóveis: “custa um apartamento aqui dois, três milhões”. E eu com isso, penso lá com meus botões! Sem sombra de dúvida, o Rio Negro, aqui em Manaus, não exibe a suntuosa beleza que exibe em São Gabriel. Meu coração foi fisgado, em definitivo, por aquela cidade. Ai, São Gabriel, que saudades! Termino o city tour, no largo São Sebastião, sentada num banco ao lado da barraca da Gisela, onde compro uma cuia de tacacá (caldo feito com tucupi, goma de tapioca cozida, jambu e camarão seco). O badalo do sino da igreja anuncia a hora do ângelus, conclamando os fiéis pra missa das 18 horas. De sobremesa, provo o maçudo porém gostosésimo bolo Luiz Felipe, uma mistura de farinha, côco e queijo. E à noite, vou atrás do incensado restaurante Waku Sese, onde provo uma costela de tambaqui embora a farofa, muito granulosa, deixe a desejar. E volto pro hotel de moto-táxi. Na cabeça, um capacete cor de rosa que o motora carrega pra uso dos passageiros! Agarrada na cintura do homem, me despeço das ruas de Manaus, com um suspiro de alívio.
2 comentários:
Rídiculo seu comentário de Manaus, desagradável e com linguagem muito fula. Já que se diz "turista profissional", deveria saber como pesquisar pacotes turisticos.
Já eu, gostei bastante de Manaus e seus atrativos.
Carlos Santos, econômista
Guarulhos-SP
Boa noite! Entrei neste blog em razao das fotos, em particular, do encontro das aguas... Uma das mais lindas que jah vi...Ao comecar a ler seu texto, a partir do titulo, duas coisas deprendi... Uma delas eh que Manaus mereceria uma critica mais generosa, em razao da cidade ser incrivelmente diferente, brasileira no melhor sentido e muito melhor do que aparenta ser... A outra, por fim, eh que voce precisa de um medico, talvez medicamentos e, por fim, e sem sombra de duvida, mais amor no seu coracao! A pior viagem eh a perdida... Parabens a quem tirou estas belas fotos! Mesmo que tenha sido voce! Melhoras! Jesus te ama e os humildes amazonenses tambem!
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