domingo, 14 de dezembro de 2003

Cuevas de Walichu ao som de Jose Larralde

Como ainda sinto dor em meu calcanhar, agendo para este dia passeios leves que não exijam muito esforço físico: pela manhã, uma cavalgada, e, à tarde, um passeio de carro às Cuevas de Walichu, ambos à beira do Lago Argentino, pertinho de Calafate. Saio do hotel Upsala, deixando pra trás  meu quarto-muquifo pintado de cinza que exibe através da janela um "atraente" muro de cor....cinza! E lá vou em direção à Estância Huyliche, encravada à beira da Ruta 11, a mesma rodovia pela qual passara no dia anterior, a caminho do Glaciar Upsala. Formamos um pequeno grupo de turistas, todos inexperientes em tal tipo de esporte. Atravessamos a estrada para alcançarmos o grande lago Argentino situado em frente à estância. E lá vamos nós a passo em nossos cavalitos crioulos, questionando o guia se são todos mansos, se não há perigo de dispararem e por aí afora. É meio sem graça este passeio, dura pouco mais de duas horas, e a paisagem em nada ajuda - plana e de vegetação pobre - se comparada com o que meus olhinhos, agora bem exigentes, já viram. Mas, porém, todavia, contudo, entretanto, tchan, tchan, tchan, tchan, minha fada madrinha vem em meu socorro e salva a manhã, colocando em meu caminho uma hermosa senhora que me apresenta ao grande guitarrero e cantor Jose Larralde. Explico: ao voltarmos à estância, apeamos e somos convidados a entrar numa pequena construção de madeira, decorada em estilo rústico, onde nos é oferecida uma lingüiça com rodadas de chimarrão. Provo do petisco, sorvo uns goles de chimarrão e saio do galpão já que cintila um robusto sol enfeitando de amarelo aquele azulado céu patagônico.....um belo dia de primavera, pois sim! Sentada à mesa, cabelos louros alvorotados pelo ar ventoso, uma senhora de semblante altaneiro (esta descrição soa como se fosse extraída de romances ingleses do século XVIII, mas foi isso mesmo, gente, eu juro!) escreve a mão o que parece ser uma carta. De dentro da casa rola um som que prende de imediato minha atenção. Indago dela quem é o cantante. Num tom polido, porém seco, retira os óculos, olha-me com severidade e dispara: "Larralde, uno de los principales nombres del folklore argentino". Bah! murcho no ato. A señora consegue me fazer sentir assim de tão pequena. Apaixono-me de cara... por ele, é claro! Além de suas canções possuírem uma melodia pungente, sua voz clara e potente nos faz refletir sobre as injustiças sociais denunciadas. Saio, assim, bem recompensada da pífia cavalgada. À tarde, me toco pras Cuevas de Walichu, um sítio arqueológico, onde se pode apreciar as primeiras pinturas rupestres descobertas na região. Estampadas nas rochas das grutas, vêem-se retratadas figuras humanas e guanacos nas mais diversas situações do cotidiano da era paleolítica. Chama-me atenção uma interessante formação circular de pedras, cuja finalidade, segundo o guia, seria a de servir de cemitério àqueles habitantes. Compro a reprodução de uma seta feita em basalto que trago até hoje em minha carteira. Mais uma pedrinha a adornar minha coleção, dessa vez honradamente adquirida.

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