Em meu último dia em Calafate, decido cavalgar numa das estâncias da região, num passeio que inclui uma vista do lago Argentino. Saio de manhã cedo do hotel e lá vou pela mesma rodovia que me conduzira aos glaciares Upsala e Perito Moreno até um certo trecho quando então se dobra à esquerda, e entra-se numa estrada de terra. Rodamos mais um tanto e paramos num galpão de madeira pertencente à propriedade. O grupo é formado por umas 30 pessoas, de várias nacionalidades: casais em lua de mel, outros nem tanto, solitários como eu, turma de amigos excursionando juntos, enfim....O jovem que nos acompanha, um argentino alto, cabelos louros, guapo, muy guapo, dá-nos algumas instruções sobre o que poderemos e não deveremos fazer e lá vou em direção a tal colina de onde se avistará o lago Argentino de uma perspectiva panorâmica. Monto em meu manso criollo, e sigo cautelosamente a passo pela trilha quando avisto ao longe o cume nevado de um dos cerros que circunda a região. Um pouco temerosa (não poderia deixar de ser, não é mesmo?) de que o vento, fortíssimo, me derrube do lombo do cavalo, desta vez resisto e não peço socorro ao guia, até porque me dar a mão seria incabível, restando o quê? Carregar-me na garupa de seu cavalo? tk,tsk,tsk....até parece! Se bem que não deixa de ser atraente a idéia....ir agarrada àquele guapo homem. Duas horas de cavalgada depois, chegamos à colina, apeamos e ficamos a admirar as verdes águas do lago rodeado de cerros. Aqui e ali exsurgem blocos de gelo da tranqüila superfície aquosa. Lá longe o sol incide em cheio no cume nevado de uma montanha dourando o seu vértice irregular. E o vento véio zune, açoitando e envergando a vegetação estépica enquanto se levanta uma bela polvadeira ao redor, o que provoca um pequeno acidente. Conto: apertada pra urinar vou em busca de uma rocha que me resguarde dos olhos alheios quando, então, o danado do vento, em saracoteios zuretas, borrifa urina por toda a barra de minhas pantalonas mais a parte de cima dos tênis....fazer o quê? Bueno, reuno-me ao grupo porque já é hora de retornar ao galpão onde nos será servida uma refeição ligeira. Na volta, ouso, inclusive, dar uma ligeira galopada, acreditam? Apesar da simplicidade do cardápio, o almoço ao ar livre é delicioso. Rápidamente, os peões instalam uma enorme frigideira de ferro sobre um fogo de chão, fritando ali pedaços de carne e cebolas em rodelas. Pão, salada de tomate mais vinho tinto acompanham o repasto. Sento num pedaço de tronco, pego meu prato e, entre suspiros de prazer, como sem remorsos até me fartar. Retorno a Calafate, cochilando um soninho pra lá de gostoso, afinal, mereço ou não uma siesta, caros leitores?
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