quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

Almoço campeiro

Em meu último dia em Calafate, decido cavalgar numa das estâncias da região, num passeio que inclui uma vista do lago Argentino. Saio de manhã cedo do hotel e lá vou pela mesma rodovia que me conduzira aos glaciares Upsala e Perito Moreno até um certo trecho quando então se dobra à esquerda, e entra-se numa estrada de terra. Rodamos mais um tanto e paramos num galpão de madeira pertencente à propriedade. O grupo é formado por umas 30 pessoas, de várias nacionalidades: casais em lua de mel, outros nem tanto, solitários como eu, turma de amigos excursionando juntos, enfim....O jovem que nos acompanha, um argentino alto, cabelos louros, guapo, muy guapo, dá-nos algumas instruções sobre o que poderemos e não deveremos fazer e lá vou em direção a tal colina de onde se avistará o lago Argentino de uma perspectiva panorâmica. Monto em meu manso criollo, e sigo cautelosamente a passo pela trilha quando avisto ao longe o cume nevado de um dos cerros que circunda a região. Um pouco temerosa (não poderia deixar de ser, não é mesmo?) de que o vento, fortíssimo, me derrube do lombo do cavalo, desta vez resisto e não peço socorro ao guia, até porque me dar a mão seria incabível, restando o quê? Carregar-me na garupa de seu cavalo? tk,tsk,tsk....até parece! Se bem que não deixa de ser atraente a idéia....ir agarrada àquele guapo homem. Duas horas de cavalgada depois, chegamos à colina, apeamos e ficamos a admirar as verdes águas do lago rodeado de cerros. Aqui e ali exsurgem blocos de gelo da tranqüila superfície aquosa. Lá longe o sol incide em cheio no cume nevado de uma montanha dourando o seu vértice irregular. E o vento véio zune, açoitando e envergando a vegetação estépica enquanto se levanta uma bela polvadeira ao redor, o que provoca um pequeno acidente. Conto: apertada pra urinar vou em busca de uma rocha que me resguarde dos olhos alheios quando, então, o danado do vento, em saracoteios zuretas, borrifa urina por toda a barra de minhas pantalonas mais a parte de cima dos tênis....fazer o quê? Bueno, reuno-me ao grupo porque já é hora de retornar ao galpão onde nos será servida uma refeição ligeira. Na volta, ouso, inclusive, dar uma ligeira galopada, acreditam? Apesar da simplicidade do cardápio, o almoço ao ar livre é delicioso. Rápidamente, os peões instalam uma enorme frigideira de ferro sobre um fogo de chão, fritando ali pedaços de carne e cebolas em rodelas. Pão, salada de tomate mais vinho tinto acompanham o repasto. Sento num pedaço de tronco, pego meu prato e, entre suspiros de prazer, como sem remorsos até me fartar. Retorno a Calafate, cochilando um soninho pra lá de gostoso, afinal, mereço ou não uma siesta, caros leitores?

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