terça-feira, 16 de dezembro de 2003

Bosque Petrificado La Leona

De manhã cedo, a van me busca no hotel, ingressando na Rota 40 - a mesma que eu percorrera quando fora a El Chaltén - para visitar o bosque petrificado La Leona. É um grupo pequeno eu e uma família de argentinos (pais e dois filhos) que há muitos anos mora na Espanha (tremendo o número de argentinos que buscam esse país em busca de melhores oportunidades de trabalho). Passamos pelo paradouro La Leona e entramos na estância onde se localiza o bosque (é propriedade particular tendo sido aberto à visitação há pouco tempo). No caminho, vejo pela primeira vez os guanacos, animais semelhantes às lhamas, correndo livremente pela desolada estepe. O veículo para e iniciamos a caminhada através daquela desértica paisagem, deparando-me - para minha surpresa e encantamento - com um pequeno cactus em cujo centro desponta uma delicadíssima flor amarela. E o vento zune sem tréguas, levantando nuvens de poeira que fustigam nossos rostos. O sol, de resto, brilha num quase perfeito céu de brigadeiro, salvo por algumas nuvenzinhas a manchar de branco aquele azulão infinito. Caminha-se bastante, subindo e descendo morros: um deserto de pedras e areião a perder de vista, sem se observar qualquer tipo de vegetação. Pra variar, apelo ao guia pra me auxiliar em certos trechos cuja dificuldade me faz insegura (santo cristo, como sou medrosa!). Este rapaz não é lá tão simpático quanto os outros foram, mesmo assim me dá a mão com uma certa má vontade, pode? Afinal, depois de muito sobe e desce chegamos ao sítio onde se encontram restos de ossos de animais e troncos de árvore, algumas de avantajado porte, tudo em absoluto estado de petrificação, conservando com minúcia suas formas exteriores. Muitos destes objetos, em especial, os pedaços de madeira, apresentam-se calcinados, assemelhando-se a carvão: provavelmente em decorrência do efeito das lavas e cinzas lançadas dos vulcões cujas explosões ocorreram há milhões de anos atrás. Mesmo sabedora que é uma pedra fossilizada, não resisto e passo o dedo em sua superfície para me certificar se meu dedo sairia fuliginoso ou arranhado pelas farpas salientes da madeira. Claro está que o dedo permanece tão limpo e são quanto antes. Acomodamo-nos para lanchar protegidos do vento numa reentrância rochosa, após havermos vagado mais um tanto entre vestígios de uma jurássica Patagônia. E dale sanduíche com poeira, e dale goladas de água para fazer descer aquela interessante gororoba. Enfim....são cavacos d’ofício duma aventureira, não é mesmo, Bea? cochicho eu para meus botões enquanto retorno a Calafate, no final da tarde.

Um comentário:

Valdeir Vieira disse...

Muito bom parabéns!

http://www.valdeirvieira.com/bosque-da-prata/