segunda-feira, 14 de abril de 2014

Thamel

Viajar à Ásia exige paciência e preparo físico. Paciência porque para atingir meu destino final, Butão, são 2 dias de viagem com conexão de 1 dia em Katmandu, Nepal. E preparo físico porque haja pernas e lombar pra aguentar 14 horas de voo entre São Paulo e Doha, uma espera de 6 horas no aeroporto da capital do Qatar e mais 5 horas de voo de Doha a Katmandu. Tudo isso espremida numa classe economicamente econômica....em espaço, é claro. Dessa vez a demora no Tribhuvan International Airport em Katmandu é de deixar santos e santas fora da paciência. Sistema ineficiente, ainda não computadorizado, só na base do carimbinho. Os funcionários, em sua maioria, parecem disléxicos tamanha a demora em ler os documentos dos turistas. Foram 2 horas de trâmites (leia-se tortura) bur(r)ocrática(os)!! Por isso, sinto-me finalmente feliz quando chego ao Kathmandu Guest House, situado no coração da Thamel. E ser super bem recebida pelo amável e prestativo Mr. Uttam, gerente do hotel, é um afago no meu ego meio combalido após a nada auspiciosa recepção na aduana. Informa-me que receberei um desconto no preço do quarto, "very good", frisa o sorridente homenzinho. Propaganda um tanto quanto enganosa considerando que a habitação não é lá essas coisas. Embora espaçosa, infiltrações nos tetos do quarto e do banheiro exalam cheiro a mofo. Mas o jardim interno do hotel compensa essas pequenas agruras. Uma profusão de flores de cores variadas plantadas em vasos, gramado impecável, gazebos, mesas, cadeiras e sofás dispostos ao ar livre convidam às conversas, à leitura ou simplesmente ao dolce far niente. Um minioásis de beleza e tranquilidade em meio à balbúrdia, sujeira e poluição da Thamel. Encontro Katmandu com temperatura de 32ºC. Primeira vez que provo do verão nepalês já que das outras vezes vim no outono cuja temperatura é amena durante o dia e fresca à noite. Quando desci do avião, o céu estava nublado, porém à tardinha o sol pediu passagem e se fez presente no entardecer, alegrando as ruas com aquela luminosidade alaranjada tão cara aos fotógrafos. Ponho um short e me mando pra rua. Meu coração dispara de alegria porque estou mais uma vez percorrendo as estreitas vielas deste mítico e antigo bairro onde calçadas não há. Daí o frequente buzinar de motos, tuque-tuques e carros exigindo passagem já que o meio da rua é compartilhado por transeuntes e veículos. A loucura aparente do trânsito dá a impressão que logo logo irá acontecer um acidente. Ledo engano porque os veículos se movimentam sem que qualquer incidente ocorra. Nem xingamentos estressados os motoristas trocam entre si. Misturada à multidão de turistas e nepaleses, nem me importo com a aglomeração humana tampouco com o assédio dos vendedores de rua.  Meus olhos estão siderados pelo feérico visual do comércio da Thamel. É tentador demais. Dá vontade de comprar tudo o que se vê. Sei lá por que aqui a muvuca não me afeta. Deve ser porque sou apaixonada por Katmandu. Sem dormir há 48 horas, salvo umas cochiladas no voo de Sampa a Doha, minha incursão nas ruas é curta. Estou quase na capa da gaita de tão cansada, por isso janto no hotel mesmo. A refeição escolhida é nepali thalai composta de várias cumbuquinhas redondas contendo arroz, lentilha, vegetais, legumes e galinha. Pede licença e senta à minha mesa um casal de australianos. Batemos um breve papo porque já estou quase no final de minha refeição e louca pra ir pro quarto descansar. Contam animados que vão fazer o clássico trek até o BC do Everest. Ele eu conhecera no aeroporto porque viemos juntos na van que o hotel disponibiliza para o traslado gratuito de seus hóspedes. Outra gentileza oferecida pelo KGH são as 2 garrafas de água mineral, 2 pacotes de massa miojo e saches de chá em cada habitação. Sem falar no bule elétrico para aquecer a água. Chamo a atenção de meus companheiros de mesa e aponto a lua, cem por cento redonda, brilhando a mil no céu noturno da cidade. Uma beleza! Despeço-me dos dois e, mal, encosto a cabeça no travesseiro, adormeço. São 21 horas. Acordo, entretanto, às 3 da manhã. Resultado das 9 horas de diferença no fuso horário. Lá no Brasil seriam 18 horas. Ligo a TV. Não há nada interessante a não ser (pra mim que curto demais) os deliciosos musicais indianos. Boa diversão enquanto espero a hora de levantar e ir ao aeroporto onde pegarei o avião rumo ao Butão onde permanecerei 16 diaas!!

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