quinta-feira, 17 de abril de 2014

Encontro real

Às 9 e 20 deixamos Thimpu rumo a Wangdue Phodrang e Trongsa onde pernoitaremos para, dia seguinte, seguirmos até Bumthang, mais precisamente Jakar, capital desta província e ponto final da viagem de carro. Mais uma vez retorno à região. Dessa feita, não para incursões culturais como em 2011 e sim para fazer um trek de 7 dias. Thimpu juntamente com Wangduephodrang, Trongsa e Bumthang são umas das 20 províncias que em inglês. Uma boa maneira de incentivar as pessoas a praticar o idioma estrangeiro. Reparos na estrada obrigam-nos a uma parada forçada. Como vai demorar coisa duma hora, Pema me convida pra tomar chá num restaurante de beira de estrada distante 30 metros do carro. O lugar é simples: duas salas com mesas e cadeiras de plástico. De turista só eu. O restante da freguesia são butaneses. Provo então pela primeira vez bathup, um caldo espesso feito com farinha de trigo onde boiam pequenas bolinhas (mais ou menos do formato de nhoque) e nacos de carne. Polvilha-se a iguaria com pimenta do reino. Acho meio sem graça tanto que deixo um resto na tigela. Os butaneses sentados à mesa conosco riem de mim, especialmente quando boto a pimenta na tal sopa, hehe. De repente, um alvoroço e todos correm até a janela. É o rei Jigme que passa acompanhado por uma pequena comitiva de carros dentre eles dois da Royal Body Guard. O monarca usa óculos escuros com enfeites dourados apesar do tempo nublado. Muito sério, não olha pros lados. As pessoas saem à rua, suponho, na esperança de que ele vá parar mais adiante a fim de cumprimentar os súditos. Qual o quê! Segue viagem sequer diminuindo a velocidade do carro onde estava. Liberada a passagem, continuamos nossa viagem, sempre com trilha sonora da FM Kuzoo ou das músicas gravadas no pendrive de Pema. Vencendo os 70 km que separam Thimpu de Wangdue Phodrang, chegamos a esta cidade às 12 e 30, indo direto a um restaurante cujo garçon, pasmem, atende pelo apelido de Peter Jose. Hahaha!! Situada à margem esquerda do rio Punatshang Chu, Wangdue foi destruída por um grande incêndio em junho de 2011. Reconstruída no mesmo lado do rio apenas um pouco mais a oeste, os edifícios novos estão geometricamente alinhados formando um bloco compacto de residências limitadas a 4 andares. Tal restrição se deve  aos terremotos, frequentes na região ocidental do país. Os butaneses homens fazem um barulho nojento quando comem. Sugam os alimentos ruidosamente. Por isso é tão irritante compartilhar refeições com o querido Pema. Ademais quando fala inglês comigo aumenta o tom de voz como se eu fosse surda ou débil mental. Lá pelas tantas resolvo ser franca e pedir-lhe que não fale tão alto assim. Deixamos Wangdue às 13 e 45 e lá pelas 17 horas baixa uma neblina e a temperatura cai sensivelmente. Chegamos em Trongsa às 18 horas depois de percorrermos 129 km duma estrada bem mais transitável que o trecho de Thimpu a Wangdue. Já no hotel, curto na recepção a bela fonte com duas esculturas em tamanho natural de Buda. Situado no alto duma colina em meio a um bosque de pinheiros, o resort como aqui são chamados os hotéis, é composto por vários chalés, cada um com 3 aposentos independentes. Meu quarto de tão grande até saleta tem! Contudo desconfortável porque a calefação não é suficiente para mantê-lo aquecido. Além do mais a água quente do chuveiro pifou. E não houve jeito de o rapaz que veio tentar consertá-lo lograr êxito em sua tarefa. Ah, tampouco há internete ou TV. Pra quem viaja sozinha, como eu, essas facilidades da era moderna ajudam bastante a passar o tempo. Contudo, não esquento muito a cabeça. Ficar um dia sem, não tira pedaço algum. Pema às 20 e 30 bate à porta. Traz um guarda-chuva porque chove a cântaros. Veio me buscar pra jantar já que o restaurante fica a 100 metros de meu quarto. Bem fraquinha a janta tanto que nem repito prato algum. Já no quarto transfiro as fotos pro notebook pretendendo dar um trato nelas mas não consigo permanecer muito tempo sentada a frente do computador porque o quarto está deveras frio. Deito e pra minha surpresa não tardo a adormecer. Embalada pelo barulhinho bom do tamborilar da chuva nos vidros e telhado.

Nenhum comentário: