terça-feira, 1 de novembro de 2011

Retorno à Ásia

Novamente escolho a Ásia como roteiro de minhas férias. Contudo, nada de Tailândia, Indonésia ou Malásia cujas lindas e calientes praias são desejadíssimas não só por europeus, americanos quanto por brasileiros. Praia por praia, o Brasil tem às mancheias, pra todos os gostos: mar azul, mar verde, mar calmo, mar manso, mar morno, mar de tombo, exceto maremoto! Por isso quero o diferente, o inusitado. Daí minha preferência pelos países cujos relevos suportam os grandiosos picos superiores a 5 mil metros de altitude. Ora, o Himalaia juntamente com os Andes, digam as más línguas o que quiserem, são o Eldorado de qualquer um que se pretenda montanhista. Mencionado casualmente numa conversa, o Butão fica gravado numa parte qualquer de meu cérebro. E quando escuto notícias dele, em Kathmandu, num encontro com Carlos Eduardo Santalena, não dá outra! Pros restantes 20 dias de férias que o ano de 2011 ainda me reserva, cravo o dardo neste país, espremido entre China e Índia, e pra lá compro uma passagem..ebaaa!! Como tenho tendência ao estoicismo, enfrento com alegria a fastidiosa viagem que inicia, em Porto Alegre, no sábado às 19 horas, e finda às 13 horas de segunda-feira em Kathmandu. Não foi mais cansativa porque senta ao meu lado uma jovem carioca, a Ana Carolina, com quem converso quando não estamos ambas dormindo, ou ela rezando. Rezando! Isso mesmo!! Mal o avião decola de Guarulhos, a guria se agarra num terço, fecha os olhos e se põe a rezar com afinco. Entre uma oração e outra, não resisto à curiosidade e indago se o tamanho do medo é tanto assim. Afável, ela explica que, na verdade, não é bem por medo que reza. Aproveita quando está voando pra botar em dia seus deveres católicos. Reza então pela família, parentes, amigos, agregados, quiçá até aderentes, e como não podia deixar de ser, também, por uma boa viagem. Há com o que se entreter durante as 14 longas horas de voo. Eu, por exemplo, adoro ler. Assim, sempre trago livros (não um mas 2). O que estou lendo no momento são as fascinantes aventuras contadas por Ed Viesturs, no recém lançado “K2, Vida e Morte na Montanha mais Perigosa do Mundo”. E claro há os filmes. Dentre as trocentas opções de filmes que a Qatar Airlines põe à disposição de seus passageiros, escolho “Árvore da Vida”. Dormi sem saber o final. Confesso que a aclamada película não me tocou muito, não. Quando chego a Kathmandu, largo as malas no mesmo hotel onde ficara ano passado, situado nesta Thamel que adoro, e saio pra comprar meias, daquelas fininhas que se usa sob as mais grossas. Atribuo a ausência de bolhas nos pés ao fato de usar sempre este tipo de combinação: meias grossas sobre meias finas! Quando passo por um camelô, não resisto e compro um chapéu feito de retalhos, super maneiro. Afinal, tenho um bom álibi pra tal compra: esquecera o meu em casa. Uma grata surpresa quando entro no Face Book e descubro que um amigo paquistanês a quem conhecera no Paquistão, em 2008, se encontra em Kathmandu! Foi assim que, à noite, Syed Anwar e eu jantamos juntos, pondo as novidades em dia. Mundo pequeno, ainda mais agora com a internete, esse grande olho mágico que nos põe em contato num estalar de dedos com amigos e conhecidos da Conchinchina ao Chuí. Na terça, dilema pra escolher entre as tantas delícias oferecidas no cardápio da Pumpernickel Bakery and Restaurant. Decido-me por uma salada de frutas com iogurte e torta de maça com chá de masala. Depois aeroporto, onde enfrento duas horas de fila na imigração, tudo por conta dum festival religioso hinduísta que trouxe muito turista ao país. Já meio nervosa com a demora, percebo que, vez por outra, um funcionário da companhia aérea prestes a decolar trata de resgatar das filas seus passageiros, passando-os na frente dos outros na aduana. Só relaxo mesmo quando embarco na aeronave em cuja cauda sobressai o desenho dum belo dragão, símbolo da bandeira butanesa. Já perto de Paro enquanto o avião se aproxima do solo, duas características geográficas de cara saltam aos olhos: o relevo montanhoso e a abundante vegetação. O aeroporto de Paro, o único no país, exibe um padrão arquitetônico que se repete em todas as construções butanesas: fachadas revestidas com caprichosos desenhos estampados no madeirame das aberturas de janelas e portas. Um grande outdoor homenageia as bodas reais, exibindo a foto oficial dos belos e jovens monarcas. Dois guias aguardam no saguão do aeroporto, conduzindo-me ao carro, após educados cumprimentos. Ambos trajam gho, a tradicional vestimenta masculina. Trata-se duma espécie de quimono, feito, em lã, geralmente, numa padronagem quadriculada, cujo comprimento alcança o joelho. Completam o traje meias pretas ¾ e sapatos escuros de bico fino. Faz frio, afinal estamos no outono e a uma altitude de 2.280 m. Meu hotel, de frente pra pista do aeroporto, é um barato. A decolagem e aterrisagem dos aviões, cujos vôos não chegam a 10 por dia, são motivos de cliques de vários hóspedes. E no silêncio que se instala após essa movimentação, claramente audível o rumorejar incessante das delicadas marolas no rio Paro, cujas águas límpidas deixam entrever o leito coberto de pedregulhos. Enquanto aguardo os trâmites na recepção do hotel, uma garçonete oferece-me chá com biscoitos. Geralmente, viajo com o intuito de fazer trekking ou montanhismo, destinando apenas um minguado par de dias pra conhecer as cidades. Nesta viagem, decidi que, dos 17 dias de permanência aqui, oito serão reservados ao circuito conhecido como Jomolhari Trekking e o restante às atividades culturais. Daí o motivo de dois guias me aguardando no aeroporto. Jigme Thinley encarregar-se-á do trekking, enquanto Jamyang Penzin responderá pelo tour cultural. Depois da partida dos dois rapazes, não resisto às ofertas de massagens e escolho a que custa 56 dólares (a mais barata). Assim, passo uma hora sendo sovada e amassada pelas mãos hábeis duma mocinha que não poupa um centímetro de minhas carnes. Janto no amplo salão de refeições onde acomodado, em duas enormes mesas, um grupo de alemães de meia-idade conversa alegremente. Do bufet, sirvo-me de arroz, refogado de legumes e pimentão picante, chamado emma datshi. No meu quarto o WiFi não funciona, motivo pelo qual fico no refeitório um bom tempo postando fotos no Face Book e batendo papo com quem está ainda acordado no Brasil, já que a diferença de fuso horário é de 8 horas a mais. Tão excitada estou que não prego olho a noite toda. Leio, edito mais fotos, apago a luz, tento dormir, não consigo, acendo, novamente, o abajur, leio mais um pouco e quando percebo o dia faz toc toc na janela! E hoje começa o trekking....xiiiii.........vou estar um caco pra pernada!!!

Um comentário:

Miriam Chaudon disse...

Bea, estou aqui acompanhando sua viagem a este lugar inusitado! Curiosa com o desenrolar das aventuras e acontecimentos! Beijos!