quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Fortress, Monastérios e Templos

Estes desjejuns à inglesa são de foder. Poxa, arroz, tomate ensopado, ovos, bacon e, de fruta, banana verde!! Eles seguem à risca o tal ditado que ensina a comer como um rei no café da manhã. Plebéia que sou, fico mesmo com 2 torradas, geleia e chá com leite. O hotel onde estou hospedada é bem confortável, com wireless no quarto. Estou começando a perceber o motivo de a maioria das pessoas que flanam pelo país serem de meia-idade. Além de o Butão cobrar uma taxa diária de permanência considerada alta (em torno de 200 dólares), sua moeda, o ngultrum, vale a metade da rupia nepalesa. Obviamente que a moçada, com menos grana do que os coroas se mandam pro Nepal, onde tudo já é barato de per si, mais ainda se comparado ao Butão. Ademais, aqui você não tem opções de lodges, bed and breakfast ou albergues. Tudo é arranjado pelas agências em esquemas fixos. Neste dia ensolarado, sem qualquer traço de nuvem no luminoso céu azul, temos pela frente apenasmente 77 km até Phunakha. Pema, rechonchudo, dirige o carro com perícia e serenidade, enquanto o espevitado Jamyang querendo demonstrar seus conhecimentos deita falação sem dó e nem piedade de meus ouvidos. Não gosto desse tipo de informação diarréica prestada pelos guias, com a lição na ponta da língua, nem quando são brasileiros, imagina falando inglês! Mas o rapaz, ar levemente malandro, é simpático, prestativo, e eu vou com a cara dele. Acomodados na espaçosa camionete Hyundai, percorremos uma estrada que costeia flancos de montanhas, sinuosa que nem cobra coral. Uma curva após a outra pendendo sobre abruptos precipícios! A vegetação das florestas, luxuriante, consiste basicamente de coníferas e cobre por inteiro as superfícies das montanhas. Mas há outras variedades de árvores e arbustos como rododendros, juníperas e carvalhos. Já em Hongtsho Valley, a obrigatória passagem pela Immigration Check Point, órgão governamental responsável pelo controle de acesso ao leste do país. Jamyang desce com meu visto em que estão discriminados os lugares permitidos à visitação. Necessário porque há regiões, caso do sudeste, onde está proibido o ingresso de turistas, de modo a proteger a cultura local. Neste vale, há uma concentração de refugiados tibetanos responsáveis pela produção de maçãs e batatas. Quando retorna, Jamyang traz um saco de maçãs. Pequenas e deliciosas, como duas! Meia hora depois estamos em Dochu La, passo de 3.050 m, onde foram construídos o Druk Wangyal Temple e o Druk Wangyal Stupa, um conjunto de 108 stupas em estilo butanês, homenageando os militares mortos, em 2003, na guerra contra Assam, estado que pleiteia independência da Índia. A visão que se tem dos Himalaias é esplêndida. Vários 7 e 6 mil formam um cordão de montanhas nevadas, uma ao lado do outra, em absoluta visibilidade. Destacam-se dentre as inúmeras elevações Gangkhar Punsuam (7.600m), o mais alto pico butanês, Masagang (7.100 m), Perigang (7.300 m) e Gangchenta. Embora seja um seis mil, no meu entender é o mais atraente com 3 cumes enfileirados em seu topo. E, durante um bom tempo, enquanto nos dirigimos a Punakha, continuo avistando os Himalaias. Hipnótica paisagem essa! E o surtado guia segue ministrando lições e mais lições de história. Assim, agora sei que fortress é sede não só da administração dos distritos como residência de monges. Já os monastérios e templos abrigam somente monges, variando o número de sacerdotes num e noutro. Há monastérios femininos como a branca e solitária construção que encima o alto duma colina, nos arredores de Punakha. Pouquíssimos, entretanto, se comparados aos templos masculinos. Punakha, sede do reino até 1955, localizada a 1.200 m, desfruta de clima bem mais ameno no inverno que Timphu, a 2.400m, motivo por que os monges se mandam no final do outono buscando a antiga capital. Sem pressa alguma, abençoando a quem encontram no caminho, a viagem dura 2 dias, com direito a pernoite no Thinley Gang Valley. Quente no verão, o rafting é esporte muito apreciado e praticado nos dois rios, às margens dos quais a Punakha Town se debruça. Bom demais ver ao longo da viagem a farta quantidade de bandeiras de orações tremulando nas pontes, ao redor das stupas e dos passos de montanhas. Em chegando nos arredores de Punakha, vamos conhecer um templo, antes do almoço. Os campos tosados após a colheita do arroz exibem enormes pilhas arredondadas de feno. Tão amena a temperatura que uso blusa curta. Uma brisa balança de leve os galhos das árvores. Quando estamos retornando do tal templo onde não quis entrar, vejo uma velhinha com uma coroa de folhas na cabeça. Não hesito e a fotografo sem nem mesmo pedir licença. Ela começa a falar aquela algaravia da qual só conheço meia dúzia de palavras. Entro numa que quer dinheiro pelas fotos. Peço, então, ajuda a Jamyang. A explicação é comovente: deseja que eu dê as fotos prela quando ficarem prontas! Já no restaurante, lotado de turistas, comida self service gordurosa pra caramba. A única coisa que presta é o sorvete de uva. Admirável a disposição destes turistas de meia idade. Alguns deles mais pra lá do que pra cá, de bengala em punho, não se mixam e viajam serelepes, sempre em bando. Dá de todas as nacionalidades: ingleses, americanos, franceses, alemães, malásios e por aí afora. Terminada a refeição, vamos visitar Fortress Punakha, o segundo mais antigo do país, construído por Zhabdrung Ngawang Namgyal. Estrategicamente, localizado na junção de dois importantes rios, o Pho Chho e o Mo Chho, as límpidas águas verdes, em certos trechos, de tão rasas, deixam à mostra o cascalho do leito por onde escorrem. O imponente edifício caiado de branco fulge no céu da tarde. Suas dependências convidam à meditação. Num lugar como este até eu queria ser monja, uai!! Incenso queima em dois grandes vasos brancos dispostos ao lado da grande escadaria que conduz à entrada do santuário. Jamyang, com uma echarpe branca sobre seu gho, ao entrar no prédio, toca nas rodas de oração que repicam alegres acordes metálicos. Cada vez que entra num dos pequenos templos espalhados pelo enorme prédio, repete 3 vezes a típica persignação budista, executando aquele movimento que primeiro leva a mão à cabeça, após a boca para finalmente pô-la sobre o coração. Finda a visita, mais 45 minutos de viagem, e eis nós chegando a Wangdue Phodrang, distrito vizinho à Punakha, onde irei pernoitar. O trajeto se faz ao longo do rio Pho em cujas margens os terraços plantados com arroz exibem uma delicada tonalidade amarelo-dourado. A lua cheia já dá pinta no céu embora sejam apenas 17 horas. O hotel super modesto não tem WF....que pena! Na janta, parata, pão indiano que adoro, quentinho e crocante. De sobremesa goiaba, a fruta da estação. Mais simples impossível.

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