segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Garganta do Marçal

Nada melhor pra se festejar a libertária efeméride do 20 de setembro, quando se comemora a finalera dos 10 anos da briga separatista entre a província de São Pedro do Rio Grande do Sul e o governo imperial, do que se aventurar em um canionismo proibido. Kaloca e eu, integrantes dos Piratas dos Canyons, cujos símbolos são nada mais nada menos do que uma piqueta e um grampo P cruzados sob uma caveira, nos mandamos na bela manhã de segunda-feira, aproveitando que se encontra fechado, pro parque Aparados da Serra. Objetivo? Desbravar uma gargantinha tributária, localizada na parede norte do canyon Itaimbezinho. A primavera já se faz sentir nos campos de cima da serra: arbustos floridos de branco, flores lilases e orquídeas vermelhas sophronitis cernua dão um toque vivaz à paisagem. Às 9 e 10, após uma hora e meia de pernada, penetra-se na garganta que se revela sensacional. Com pouca vegetação, praticamente sem água, os degraus formados pelas rochas são visíveis daqui de cima. Facílima sua travessia. Sem arbustos rasteiros e vara-mato a embaraçar nosso avanço, em uma hora de caminhada, já se avista o paredão sul do canyon Itaimbezinho, branquinho, coberto de líquenes, do lado de lá do rio do Boi. Após uma hora de descida, chega-se a um corredor, plano, cuja extensão de pouco mais de 100 m, se encontra bloqueado parcialmente por uma gigantesca rocha. Ao atingir a estreita passagem, a garganta que, até então exibia pouca claridade, porque suas paredes estreitas confinavam a luz, é invadida pela luminosidade, como se uma cortina se abrisse repentinamente! Enxerga-se, nos mínimos detalhes, a parede oposta do canyon, revelando um grande teto negro e um desmoronamento de terra cujo sulco claro se destaca entre a vegetação que recobre as rochas. Ficamos ali observando e admirando tal cenário. É muiii-toooo lindo!!! E continuamos a caminhada que se faz sem maiores problemas porque as rochas se encontram bem secas. Após o portal, 4 rapéis são feitos, dois com ancoragem na pedra e dois com ancoragem em Kaloca. Não gosto muito deste tipo de ancoragem. Sinto-me insegura, prefiro quando a corda é ancorada em grampos ou chapeletas de metal. Mas enfim, o guia prefere assim: a um porque as cachus são pequenas (a maior tem apenas 15 m), e, a dois, pra não agredir o ambiente. Não consigo perceber o que meia dúzia de grampos pode danificar rochas. Tanto é verdade que as vias ferratas na Europa desmentem a sanha do politicamente correto, aplicado, com fervor religioso, no Brasil, nessa questão da preservação ambiental. E olha que eles tascam um monte de degraus de metal naquelas rochas do velho continente. Bueno, voltando ao que importa: essa garganta é um tesouro, é bacana demais! Há horas não curtia tanto um passeio. Parece um mundo paralelo! Às 14 horas, eis nós no corredor principal do Itaimbezinho, onde sentamos e devoramos nossos lanches. Meu sanduba, recheado com carne de porco desfiada, cenoura, alface e tomate, tá delicioso. De sobremesa - sim, trouxemos - trufas! Bem alimentados, terminamos a travessia em 3 horas, atravessando diversas vezes as secas margens do rio do Boi, devido a uma pequena estiagem na região. Nem vivendo 200 anos, dá pra conhecer todas as ravinas e canyons de Praia Grande!!

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