sábado, 12 de novembro de 2011

A Dança Sagrada dos Homens Nus

O bom tempo acabou! O dia amanhece nublado, chuviscando. E bastante frio. Apressadinho este inverno! Nem bem espera o outono terminar e já lança suas garras frias e cinzentas sobre o país! Desde ontem há freqüentes quedas de luz cuja duração varia de 5 a 30 minutos. O irônico da situação é o fato de o país ser produtor de energia elétrica, vendendo esse bem para a Índia. Casa de ferreiro, espeto de pau. Vende tanto que não sobra pra consumo próprio. Jambay Lhakhang Drub é um festival budista que durava inicialmente apenas dois dias. Com o florescente turismo, foi estendido pra quatro dias de modo a atrair mais e mais turistas. Começou na quinta-feira e hoje, sábado, está no penúltimo dia. Realizado dentro dos muros brancos que cercam Jambay Lhakhang, em que Lhakhang significa templo, a construção data de 659 DC. Os espetáculos são protagonizados por um membro de cada família local. Se o festival ocorresse num fortress, os participantes do show seriam os monges. Na parte da manhã, lá vamos nós três até o templo. Seu eu soubesse que é pertíssimo do hotel – coisa de 20 minutos de caminhada - nem teria vindo de carro. É um espetáculo atrás do outro. Assisto a dois: um, de evidente conteúdo cômico com homens mascarados, arranca risadas da platéia; já o segundo show trata-se duma dança feminina meio sem graça, seguida da cerimônia da fertilidade. O sacerdote enquanto mantém o falo sobre as cabeças das mulheres, entoa preces desejando-lhes bons votos de fecundidade e saudável prole. A maioria dos espectadores é butanesa. Sentados no gramado, em muros, em cadeiras ou de pé assistem aos espetáculos, conversam entre si enquanto as crianças brincam ao lados dos pais. Todos vestem seus melhores gho e kira. As mulheres usam colares feitos de osso de yak e seus toego, uma espécie de jaqueta curta usada sobre a kira, são fechados na altura do peito por broches. Embora a primeira vista as kira pareçam iguais umas as outras, tal impressão não se confirma a um exame mais acurado. Diferenças sutis na padronagem tornam-nas peças únicas. Ao lado do templo, foi instalado um mercado com inúmeras barracas vendendo mercadorias oriundas da Índia e da China. Praticamente inexistente a industrialização de manufaturados no país, o jeito é importar em largas quantidades de modo a suprir um mercado ávido por novidades. Quiosques com mesas e bancos de plástico brancos oferecem as duas marcas de cervejas nacionais, a Red Panda e a 1000, além de refris, sucos, chás e comidas típicas. À venda, em sacos de aniagem, goiabas maduras pedem para ser comidas. Num quiosque, pedaços de dhoma envoltos em folhas largas e verdes aguardam seus usuários. Estou pra ver coisa igual aos banheiros!! Entupidos, transbordam merda pra todos os lados!! Devido a isso, ninguém mais entra neles, procurando alívio no terreno baldio, situado nas traseiras que, por seu turno, também já se está a tornar repelente embora ao ar livre. Retornamos ao hotel eu, Pema e Jamyang a pé porque o carro, entalado entre dois outros veículos, não permite qualquer manobra. Pema que não gosta de caminhar, reclama um pouco durante a caminhada. Malandrinho esse gorducho! Após o almoço, descanso um pouco, lendo um policial escocês em meu quarto. Muito macia e gostosa minha larga cama. Difícil é levantar no frio desta tarde sem sol. Enfim, reúno forças – minha vontade é ficar malandreando na cama – e regresso ao templo onde o festival retoma suas apresentações à tarde. Muita gente, residente em fazendas distantes da town, passa o dia inteiro no pátio externo ao templo e muitos trazem de casa suas refeições. Transmitidas por alto-falantes, reverbera por todo o pátio as orações vespertinas entoadas pelos monges sentados de pernas cruzadas no chão de um dos dois pequenos templos que faz parte do Jambay Lhakhang. A litania é marcada pelo som de instrumentos musicais. Enquanto dois monges sopram cada um longas cornetas, outros dois percutem com baquetas curvas e vermelhas enormes tambores, ao passo que um quinto arranca sons tilintantes de pesados pratos de bronze. O som é indescritivelmente lindo. Na frente dos sacerdotes, tiras de papel retangular contêm as preces. Um deles de tanto que cochila deixa pender a cabeça pra frente, desequilibrando-se e quase batendo com a testa no chão, hehe. Não é pra menos, o som é hipnotizante! Comprei um colar lindo de turquesa e mais uns potinhos de jade. Os espetáculos da tarde já terminaram e o número de pessoas que circula pelo templo se reduziu consideravelmente. Na saída, camionetes com as caçambas repletas de aldeões e pequenos monges deixam o templo. Na janta, novos turistas se encontram no refeitório. Bebem cerveja enquanto aguardam a janta ser servida. O alegre grupo de australianos ainda se encontra em Bumthang, ocupando uma longa mesa. Vez por outra fugazes momentos sem luz. E velas acendem-se já previdentemente deixadas nas mesas. Jamyang que obviamente já tomou alguns copos de ara a mais senta-se a minha mesa. Sonam Wangmo, uma das garçonetes, aproxima-se. Vamos todos assistir à sacred naked men dance. Intimo Jamyang a me ensinar um palavrão em butanês. Meio a contragosto, o guia revela que J–The (pronuncia-se jedá) equivale ao fuck, hehe. E lá vamos nós mais uma vez assistir ao Jambay Lhakhang Drub! Enquanto esperamos o início do show, eu, Sonam e uma amiga sua bandeamos pelos corredores da feira. Convido-as para tomar um chá. Está muiitoo frio. Sentadas num dos quiosques, Sonam, que ontem viera assistir à dança, confidencia sobre o tamanho avantajado dos pênis de alguns dançarinos. Um discreto gesto com as mãos enfatiza o tamanho do bicho. Quando pergunto se ficaram duros, sorri e balança a cabeça negando. Em várias tendas, disputam-se jogos de dardos e um tipo de carteado similar ao pôquer. Em torno dos jogadores, curiosos bisbilhotam as jogadas. Isolados da arena por um cordão, um expressivo número de pessoas, considerando o frio e o adiantado da hora – 11 da noite -sentadas, acocoradas ou de pé, formam um semicírculo ao redor do local onde acontecerá o tão esperado evento. Mulheres protegem-se do frio com mantas na cabeça. Outros trouxeram papelão onde se sentam. Sonam pega minha mão e abre caminho até a primeira fileira onde sentamos e esperamos a famosa dança por quase uma hora, quando então todas as luzes são apagadas, salvo a da fogueira cujo brilho ilumina parcamente o pátio. Guardas controlam a platéia, admoestando os turistas que, ignorando ou se fazendo de desentendidos, tentam fotografar. Após muito suspense, eis os dançarinos! Nus em pelo, exceto pelos rostos que se mostram enfaixados à semelhança de múmias, entra em cena um bando de homens e meninos muito à vontade, provocando a platéia. Pendurados de alguns falos, camisinhas. Alguns tocam em seus membros como se fossem jóias preciosas. Dão barrigadas de modo a encostar os pênis nos espectadores. Gritaria e risada não só de mulheres quanto de homens. Elas, entre envergonhadas e excitadas, estão encantadas, inclusive a turistada. Quando vêm pro nosso lado, Sonam me puxa de modo que não sejamos atingidas por uma rabanada de caralho, hahaha!! Sinceramente? Esperava outra coisa! Guardo pra mim que no espetáculo rola um toque mais grotesco que artístico. Vai ver não entendi!

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