16/04/2017 – Domingo – 2º Dia de Trek Annapurna BC – Tolka
a Chhomrong
17/04/2017 – Segunda-feira – 3º Dia de Trek Annapurna BC – Chhomrong a Dovan
Bishow,
ao contrário de Nir, exige com seu jeito delicado de ser que partamos mais cedo dos
lodges, assim, às 7:20 estamos já com o pé na estrada dando adeusinho à Tolka.
A pernada de ontem foi facinha, só o tempo enevoado e úmido incomoda um pouco,
mas é o preço que se paga por este clima subtropical além de estarmos a cada dia que passa nos
afundando mais e mais nas entranhas do canyon do Modi Khola. Seguimos pelo
flanco esquerdo do canyon e após atravessarmos Landruk, uma vila
grande, com muitos lodges, a vegetação torna-se mais densa a ponto de a trilha apresentar
em ambos os lados renques de samambaias. Nas encostas, terraços de lavoura de
painço e arroz, alguns abandonados porque os homens se encontram trabalhando nos
países árabes. Após Landruk, fácil perceber que estamos no
interior dum canyon, tipo horizontal, daí a ausência de altas cachoeiras,
apenas corredeiras espumam ao longo de seu leito. Suas paredes estão
compactamente cobertas de árvores e arbustos. Um esplêndido verdor. Paisagem completamente
diferente da do Everest. Estou adorando esse cenário luxuriante. Já dá pra se
ver Annapurna South e Hiunchuli à direita apesar da onipresença de nuvens e
névoa tentando escondê-los. Atravessamos a longa ponte metálica sobre o Modi
Khola e passamos a caminhar em sua margem direita, logo, logo alcançando a acolhedora
vila de New Bridge cujas fachadas das casas são enfeitadas com floridos vasos de
gerânios. Sentamos a uma mesa ao ar livre e pedimos um chazinho. Escolho o de
limão com gengibre, bom pra evitar resfriados. Bishow me conta que nessas
selvas há uma diversidade riquíssima de fauna, destacando—se os belíssimos leopardos
e os macacos com barba branca, conhecidos como landruk. Depois de New Bridge, a
moleza de se caminhar em terreno plano termina e o enrosco da subida começa, atravessando inclusive
trecho em que houve grande desmoronamento na trilha, tornando-a perigosamente
estreita. Mas as coisas pioram mesmo após a travessia do rio Kimrong, dessa feita
numa rústica ponte feita com troncos de árvore. Como Jhinudanda, vila onde
almoçaremos, fica no cocuruto da colina, a ladeira, mega íngreme, foi calçada
com os terríveis degraus de pedra que parecem nunca acabar. Nas encostas das
montanhas, brilham ao sol os telhados das casas revestidos com mica. De
repente, ebaaa, estamos em Jhinudanda, charmoso vilarejo, onde almoçamos. Compro
aqui um par de brincos, em formato de peixe, lindésimo. Nesta região é
impossível o trânsito de yaks e mulas porque as trilhas são muito estreitas. As
plantações se estendem do sopé quase ao topo da montanha que se encontra do
outro lado do rio Kimrong, onde sobressai uma vila no meio da encosta. Mas se eu estava reclamando do ascenso até Jhinu,
situada a 1.710 metros, a subida até os 2.210
metros de Chhomrong foi impiedosa! Degrau
após degrau a pequena distância me custou, sei lá, 2 horas? Se não foi tudo
isso, chegou perto. Quando se pensa que termina continua, não acaba nunca, que merda. Pressinto, fingindo um otimismo que não tenho, que está por terminar o calvário, portanto, sebo nas canelas,
Beatriz!! Chego ao ponto de sentir saudades dos degraus do trek Eve BC! Enfim às
15:30 entramos em Chhomrong, construída também numa crista de montanha,
ocupando não só largo platô como ainda se estendendo encosta abaixo além do rio
Chhomrong. A vila é habitada pelos gurungs, um dos maiores grupos étnicos do
país. Gurungs podem tanto ser budistas como hinduístas ao contrário dos sherpas
e dos brahmins que apenas professam, respectivamente, a fé budista e hinduísta.
A paisagem da vila é adorável, com vasos de flores enfeitando páteos e
residências. Daqui do alto da vila se vê bem o canyon e as vilas existentes em
ambas encostas: ao sul, Landruk, na encosta esquerda e ao norte Sinuwa, na encosta
direita. Embaixo os telhados azuis da vila de Jhinu destacam-se em meio ao
verdor da vegetação. O dia, ulálá, manteve-se agradável com a presença caliente
do sol a partir das 10, assim permanecendo durante a tarde. Agora, 16 e 30, o
sol se pôs e uma friaca se faz sentir. Exemplo inconveniente de modernidade é a
enorme torre de telefonia móvel construída bem na frente do Annapurna South.
Tem de se fazer malabarismos para evitar que ela saia na foto, tsk tsk tsk. Nurbu quando indagado se levaria presente pra
esposa, responde de bate-pronto: “money”...... hahahaha. Não há dúvida de que
Nurbu não só a conhece bem como sabe agradá-la!! Estou encantada com esta região.
Pensei que fosse parecida com a do Everest. Qual o quê, é absolutamente desconcertante!
Não só se vêem picos de 6, 7 e 8 mil bem de perto, como a presença constante deste
soberbo canyon funcionando como um divisor entre o mundo gelado e árido das
altas montanhas e a tepidez verdejante das zonas mais baixas. Que surpresa
agradável este trek. E eu que não estava dando muito por ele, pode?!
17/04/2017 – Segunda-feira – 3º Dia de Trek Annapurna BC – Chhomrong a Dovan
A manhã, sem nuvens, permite
que se vislumbrem em toda sua glória Annapurna South, Hiunchuli e Machapuchare. Me
apaixono por Machapuchare. É a mais linda de todas as montanhas vistas por mim.
Seus dois cumes lembram cauda de peixe, daí ter sido denominada em inglês
Fishtail. De Chhomrong, donde saímos às 7 e 10, descemos uma bela e longa
escadaria até o fundo do vale onde corre o rio Chhomrong, cruzando a ponte
metálica até a outra margem. Só de pensar na volta, subindo todos aqueles
degraus, me arrepio, ui ui ui!! Enquanto estou descendo quem vejo subindo? A
simpática vendedora de quem comprara bergamotas e maçã ontem durante a dura
subida de Jhinudanda a Chhomrong. Ela, contente, de me rever, faz questão de
parar, abraçando-me efusivamente. Tal atitude é pouco usual nos nepaleses, tanto
que nos folhetos dados aos turistas há recomendação de se evitar manifestações
públicas de afetos. Do celular duma jovem chinesa, que juntamente com uma amiga,
hospedaram-se na mesma guest house que estávamos em Chhomrong, escuto música eletrônica em alto e
bom som. Brincando, começo a dançar. Pra quê! Elas se encantam e começamos, então, a conversar enquanto caminhamos. Uma americana, ao meu lado, comenta que não é
bem esse tipo de som que esperaria como trilha sonora no trek, hehehe. Ambas as
chinesinhas vestem-se com roupas coloridas, estampas de desenho infantil, predominando a cor rosa. A magra,
que parece ser a líder, é seguida pela amiga gordinha, que não demonstra tanta desenvoltura pra caminhar
quanto a magrinha espevitada. Alegres, param frequentemente pra tirar fotos uma
da outra. Quando a gorducha fica pra trás nas subidas, a magrinha aguarda até que a outra a alcance. De fato, há uma bela parceria entre as duas. Mas como as 2 caminham muito lentamente, porque param toda
hora pra tirar selfies e fotos uma da outra, combino de vê-las em Dovan onde
também vão pousar e sigo adiante. Da ponte sobre o rio Chhomrong até Sinuwa é só
subida em degraus, onde paramos prum chazito. Do restaurante não canso de admirar os belos picos Annapurna South, Hiunchuli e
Machapuchare. De Sinuwa a Bamboo não se leva mais que 2 horas, caminhando numa floresta
onde predominam bambus e rododendros floridos. Parece bosque de contos de fadas, beleza pura! O terreno alterna trechos planos
com descidas e subidas curtas sem grandes exigências. O Machapuchare é
entrevisto o tempo todo, salvo quando paramos em Bamboo pra almoçar já que a
alta parede da encosta esquerda do canyon o encobre. Peço dal bhat que vem acompanhado
com batatas ao curry, deliciosas. Levamos uma hora e 15 minutos até Dovan
porque faço Bishow parar diversas vezes encantada, ou melhor,
deslumbrada que estou com a beleza da trilha, tanto que nem me importo com algumas subidinhas cascudas que tenho pela frente e com a exposição incômoda de grossas raízes aflorando do solo. Duas travessias em pontes feitas com troncos de árvore dão um clima delicioso à trilha! Tão bom se equilibrar nelas ao invés da segurança das pontes metálicas. Chego tão feliz em Dovan que me ponho a dançar, sem sequer tirar a mochila, na ampla esplanada construída na frente dos lodges. A música que toca no Ipod é uma esfuziante seleção de folclore interpretada pelo excelente percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, infelizmente, já não mais entre nós. Poucos metros abaixo, o barulhinho bom do agitado rio Modi se faz ouvir. O movimento de turistas está tão forte, que os 3 lodges existentes na vila estão com lotação esgotada. Um dormitório com 4 camas custa 180 rupias por pessoa. As 2 chinesas, que viajam sem agência, carregando suas mochilas, ficam nesse. Eu e Flavio porque viajamos com agência dividimos um quarto com uma cama de casal e outra de solteiro. Cedo a de casal pra ele porque é maior que eu. Agora 15:30 baixou uma névoa encobrindo tudo ao redor. Nada se enxerga além de 50 metros, sequer a alta cachoeira que despenca da outra encosta do canyon, só se escutando o ruído de suas águas. O que têm de joaninhas e borboletas ao longo do caminho é incrível, considerando que estamos a 2.600 metros! Digo pra Bishow que no Brasil há também joaninhas e traduzo pra ele como “little joan”, hehehe. A eletricidade só não vai ao Annapurna BC, assim, ainda são visíveis postes e fios elétricos ao longo da trilha, muitas vezes se intrometendo no visual, quando se tiram fotos. Graças a deus que se pode contar com o santo recurso do photoshop, porque vou ter de apelar pra ele quando editar minhas fotos. Arrancarei com o maior prazer poste por poste e apagarei toda a fialhada por mais trabalho que dê!
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