11/04/ a 15/04/2017 –
Terça-feira a Sábado – Lukla - Kathmandu - Pokhara
Terminado o trek ao Everest BC, partimos no dia seguinte de Lukla, bem cedinho, às 8 da matina. No avião de 2 turbinas, 20 lugares, que
nos conduz a Kathmandu, a aeromoça oferece balas e pedaços de algodão pra se pôr
nos ouvidos. Parece que estou num filme da década de 50, muito tri este vôo, hahaha. Chegamos na
capital nepalesa às 9 e 30. Tento dormir um pouco após o almoço já que faz
2 noites que só prego olho por 3 horas, mas não consigo. A
excitação de estar nesta cidade tão mal tratada quanto atraente me deixa muito
ligada. O crocitar dos corvos (aqui também tem dessas aves aos milhares) mixado
ao ruído dos motores de carros e das buzinas é a trilha sonora de meu fim
de tarde enquanto aprecio o lento e magnífico pôr do sol. A bola de fogo bem
desenhada exibe coloração róseo-alaranjada, uma belezura! Ao longe, longas e finas varetas de
metal despontam verticalmente como troncos sem galhos dos prédios em construção,
de modo a protegê-los dos efeitos dos terremotos. A estadia relâmpago em
Kathmandu não me impede de visitar Pashupatinah, complexo religioso e santuário dedicado ao deus hindu Shiva, localizado em ambas as margens do rio
Bagmati. Nos gaths (escadarias) em frente ao rio, os corpos são lavados e cremados
em fogueiras a céu aberto. Eu curto vir a Pashupatinah não só pela oportunidade ainda de assistir às cerimônias de cremação. Pra nunca esquecer
de que a vida é um piscar de olhos e um estalar de dedos. Bueno, na quinta-feira, 7 da manhã, sentados
no desconfortável último banco do busão, começamos a fastidiosa e cansativa
viagem de 9 horas até Pokhara. Paramos pra almoçar num restaurante enorme à
beira do rio Trishuli, cujas águas de coloração amarronzada não são de molde a
atrair olhares. No dia e meio em que permaneço em Pokhara, trato menos de conhecê-la
e sim de descarregar o restante de fotos e vídeos pro laptop, organizando-os em pastas. Quando retornar
do trek ao Annapurna BC ficarei aqui durante 5 dias e então poderei curti-la à
la vonté.
15/04/2017 – Sábado – 1º Dia de Trek Annapurna BC – Kande a Tolka
Numa
boa rodovia, rodamos de carro de Pokhara (800 metros) a Kande (1.770 metros) em 1
hora e 1/2 porque o motora pára à beira da estrada e nos mostra, orgulhoso, a
guest house que está construindo. Em Kande, ponto de partida da pernada, sou
assediada por vendedoras tibetanas querendo que eu compre suas bijus. Resisto bravamente
e não me rendo. O guia que nos conduzirá nesta jornada chama-se Bishow. Nascido
em Pokhara, o jovem homem, de boa aparência, é praticante do hinduísmo. Simpático,
gentilíssimo, com boas maneiras, não tem contudo o jogo de cintura do guia anterior, o querido
Nir, cujos modos eram mais toscos. Casado há pouco tempo, conta-me, radiante, que sua mulher está
grávida de 3 meses. Seu inglês é rudimentar já que optou por estudar coreano de modo a obter ocupação mais qualificada na Coreia do Sul, país que acolhe estrangeiros pra trabalharem, temporariamente, nas indústrias automotivas. Lá permaneceu durante 1 ano, após o que, economizada uma grana, retornou a Pokhara. Cresce o número
de guias nepaleses, que investem no aprendizado de japonês, mandarim e coreano,
de olho na afluência de turistas - em especial os de meia idade que não sabem
falar inglês -, oriundos desses países. Assim como Bishow, milhares de nepaleses
vão trabalhar, além de na Coreia do Sul, na Índia, Qatar, Kuwait ou Emirados Árabes com a
finalidade de fazer poupança e, assim, casar, investir num negócio ou construir casa
própria. O nosso porter continua sendo Nurbu. Louco pra conhecer esta também
afamada região do Himalaia, pediu pra Flavio que intercedesse junto a Narayan, dono
da agência que organiza nossos treks, pra vir trabalhar pra nós. Assim, eis Nurbu Sherpa, super feliz em poder saciar sua inesgotável curiosidade, carregando nossas bagagens. Passando
por pequenas vilas e atravessando florestas de sândalos vermelhos e de rododendros,
ainda não floridos, o início da pernada é só subida, até o Australian Camp, vilarejo
situado a 2.165 metros. Daqui já se tem a primeira visão dos picos Annapurna
South (7.219 metros) e Machapuchare (6.993 metros), ao norte, e do vale de
Pokhara bem como do lago Fewa, ao sul. Após, curta descida
percorrendo novamente bosques de sândalos vermelhos até Pothana, situada a 1.890
metros onde almoçamos. Enquanto espero meu arroz frito com galinha e verduras,
curto o modo como certo guia come seu dal bhat: sem pressa, entremeia a refeição
conversando com >outros guias, ao final da refeição lambe cuidadosamente os dedos
da mão direita, usada pra ingerir alimentos. Envoltos em nuvens e fina névoa, Annapurna
South e Machapuchare parecem suspensas no ar. No início da caminhada estava tão
quente que fiquei de camiseta de manga curta mas agora sinto que a temperatura caiu
alguns graus o que me obriga a pôr camiseta de manga comprida enquanto estou
sentada à mesa no restaurante. Terminado o almoço, voltamos a subir por entre
bosques de rododendros e de sândalos vermelhos entremeados com áreas
planas e abertas usadas como pastagens de búfalos. Em certos trechos, a trilha,
tal qual uma passarela, foi cuidadosamente calçada com pedras de mica que
brilham ao sol; em outros, é pura piramba, exigindo curta escalaminhada dentro
dum bosque que lembra de leve a nossa mata atlântica. Em Deurali,
vilazinha com 2 guest houses e um restaurante, descansamos 10 minutos
pra recobrar fôlego da sofrida subida. O restante do caminho, percorrendo outra floresta é praticamente só descida. Um pouco
antes de Tolka, ao atravessar um arroio, sai do mato um guri levando o tradicional
cesto de palha às costas. Eu o cumprimento, ele retribui com aquela cordialidade
nepalesa tão sem reserva e fala alguma coisa que não entendo. Pergunto a Bishow, achando
que é o mantra “have you socolê?”(socolê leia-se chocolate) mas não!! Ele quer
avisar que estou com o zíper da mochila aberta, correndo risco de perder algo. Mais
adiante, na beira da larga estrada que conduz a Tolka, um homem sem pernas pede
esmola. Um cartaz, em inglês, explica que ele perdeu os dois membros inferiores
por congelamento quando trabalhava como porter. Assim que chegamos na pousada em Tolka (1.790 metros), por volta das 16 horas, começa a chover como ontem
em Pokhara. Fazer o que se o clima subtropical úmido e a presença de densas
florestas favorece o chuvaral, né? O bom é que a altitude dá uma boa maneirada na temperatura não permitindo que se
eleve muito. À noite, durante a janta, os guias põem música e convidam os
turistas pra dançar músicas nepalesas. Eu sentindo que vou ser tirada pra bailar
me escapo de fininho pro quarto. Hoje não estou com espírito bailador.
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