Sete da manhã e já estou bem desperta. Dormir em barraca sobre um isolante térmico fininho não é nada confortável. Passo a noite toda acordando a cada vez que viro de lado. Com Paola também se passou o mesmo. Abro a cortina da tenda e raios de sol já colorem de vermelho o cume dos cerros. Excitada com a perspectiva da minha primeira ascensão a um vulcão, levanto e saio. O frio é.....muiiiiito frio!! Pego meu livro e entro na camionete. Distingo pras bandas da laguna Lejia as luzes dos faróis de um carro que se aproxima. O carro passa ao largo de nosso acampamento se dirigindo ao Laskar. Coisa de meia hora mais tarde, Val, Felipe e Paola saem de suas barracas e começa a função de desarmar o acampamento. O desjejum é servido. Misturo aos sucrilhos uma banana em rodelas e, como acabou o leite, rego tudo com suco de futas. Após, bebo um chá de coca bem quente. Ainda está bem frio embora o sol já ouse espichar com mais generosidade seus raios sobre o vale Amarillo. Entramos no carro, e Felipe explica que o Laskar, com 5.672m, é o mais ativo dos quatro vulcões que se situam no norte dos Andes chilenos (os demais são Putana, San Pedro e Chiliques), e sua forma estratovulcânica contém seis sobreposições de crateras em seu cume. A mais recente e impactante erupção ocorreu em 1993, cuja intensa produção de fluxo piroclástico (corpos fluidos compostos de gases quentes, cinzas e pedras) espalhou-se numa distância de 8,5 km, e, pasmem, até com quedas de cinzas em Buenos Aires!! Após 20 minutos, estacionamos o carro próximo ao início da trilha, aberta no flanco oeste do vulcão, nitidamente demarcada. Os ocupantes do carro (um casal de paulista e o guia), que eu vira há duas horas atrás, já estão bem adiantados na subida. Somos informadas de que o desnível até o cume perfaz 800 metros num percurso de 14 km ida e volta. Olho o relógio e os ponteiros marcam exatamente 8:30, hora em que iniciamos a subida. Tiro da mochila o saquinho com folhas de coca que comprara no mercado de San Pedro, na segunda-feira, e ponho um punhado delas na boca. Pra mim, mascá-las funciona às mis maravilhas. Foi assim no Peru, quando fiz a trilha de quatro dias a Machu Pichu. Aqui, a índia, que as vendeu, aconselhou que eu as engolisse. Só paramos duas vezes durante o ascenso. Uma quando ultrapassamos o grupo que estivera até então na dianteira, e outra um pouco antes de alcançar a cratera. Começo a sentir fadiga após 3 horas e meia de caminhada. Daí pra frente, o cansaço nas pernas começa a pegar porque a trilha se torna bem íngreme, com muito cascalho. O solo é cinza escuro, sem qualquer vestígio de vegetação. Os dois carros já são pontos minúsculos na imensidão do vale Amarillo. Respiro fundo e sigo adiante, me apoiando nos bastões, sem procurar olhar muito pra cima. Dá desânimo, e desabafo pros meus botões: "ânimo, mulher! não falta muito pra alcançar o topo do vulcão". E nem passa pela minha cabeça a possibilidade de o Laskar repentinamente entrar em erupção. Já pensou se acontecesse?! A manhã é linda e o céu despejado de nuvens. Às 13 horas, finalmente, alcançamos a cratera. Do enorme buraco, com aproximadamente 1 km de diâmetro e 300 metros de profundidade, saem fumarolas que confundi ingenuamente com nuvens enquanto estivera no vale. Enquanto me recupero, sentada numa pedra, e espero que meus batimentos cardíacos voltem ao normal, sem ânimo, de tão cansada, esqueço inclusive de tirar fotos ou filmar. Contudo, passados quinze minutos já estou restabelecida. Serelepe, me aproximo daquele vasto bocão fumegante. O cheiro de dióxido sulfúrico é bem forte, motivo pelo qual não é aconselhável permanecer mais que trinta minutos aqui em cima. Chego quase na borda apesar de Felipe ficar me enchendo o saco pra não me aproximar demais, e distingo grandes manchas amarelas produzidas pelo enxofre na superfície das paredes internas da cratera. Entretanto nos aguardam mais 70 metros pra atingir o cume do nosso Laskar. E lá vamos nós. Emocionada, choro incontrolavelmente quando atinjo o topo, sem pudor algum, por uns bons cinco minutos. Muitas as emoções....muitas!! Guardo as lágrimas, ainda, copiosas, afinal, tenho a minha frente o lindo perfil do vulcão Águas Calientes quase ao alcance da mão. Lá embaixo o salar de mesmo nome e, ao lado, a laguna Lejia compõem um cenário que pra sempre guardarei em meu coração. Às 13:30, iniciamos a descida que dura não mais que uma hora, ao passo que a subida se fez em 4 horas e meia! Durante o regresso, novo pranto escapa e deixo rolar....fazer o quê? Não é todo dia que se sobe num vulcão, uai!! De volta a San Pedro, mal temos tempo de tomar um banho e comer um almoço às pressas já que temos de estar em Calama, à tardinha, de onde pegaremos nosso avião até Santiago. Chegamos na capital chilena às 22 horas e, adrenadíssimas, ainda, nos sobra ânimo de fazer uma sauna no hotel. Cansadas mas felicíssimas, convido Val pra tomar uma taça de champanhe no bar do hotel. Faço um brinde: "Valzinha, ao que já era e ao que virá....tintim!!"
2 comentários:
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Muito bom por sinal!
Inté.
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