Paola, bióloga marinha, santiaguina, residente há um ano em San Pedro é quem nos guiará em nosso city tour pelo povoado. Simpática, de voz macia, a tranqüila pisciana nos busca no hotel e lá vamos nós, as três, animadíssimas, caminhando despacito pelas ruas ensolaradas do povoado. A bem da verdade, nem precisaríamos de guia porque o pueblito é tão pequeno que nem cego nele se perderia. San Pedro tem uma população de 2.500 habitantes. Até dezembro do ano passado, sua iluminação era desligada a partir das 22 horas. Não só nas ruas como em todos estabelecimentos comerciais e residenciais. Black out total, só luzes de velas e lanternas. Deveria ser bem legal. O dia pra variar está ma-ra-vi-lho-so, um sol quente aquece minha alma e meu corpo. O comércio tem em mira os forasteiros. Uma agência de turismo ao lado da outra. Todas oferecem praticamente o mesmo preço, variações são mínimas. Lojas de artesanato e armazéns de víveres. Há até uma loja Rockford. Ao longe o imponente Licancabur exibe seu cume nevado. A indefectível igrejinha em estilo colonial espanhol caiada de branco situa-se num dos quadriláteros da praça. Em frente, a intendência municipal com as típicas arcadas, herança arquitetônica do antigo colonizador. Num bequinho, o mercado, um galpão comprido e estreito exibe mercadorias regionais, destacando-se aquelas feitas de cactus. Reconheço algumas peças peruanas. O Chile é pobre em artesanato indígena, já Bolívia e Peru preservam zelosamente a marca de seus povos autóctones. Enquanto passeamos, Paola nos explica que San Pedro é um dos diversos oásis existentes no deserto do Atacama e quatro são as árvores que aqui nascem: do algarrobo se faz uma bebida alcoólica, alahoa, oferecida a Pacha Mama; do chanar, farinha e mel. Tamarugo e pimiento servem de alimentos aos animais. Terminado o breve passeio, alugamos bicicletas pra conhecer Pukará de Quitor (significa oásis na língua kunza, falada pelos índios atacamenhos), situada a 3 km de San Pedro. Esta fortaleza pré-inca foi construída pelos atacamenhos numa encosta da Cordilheira do Sal para se defenderem da invasão dos incas. Posteriormente, por ironia do destino, serviu de abrigo a esta civilização contra o ataque dos espanhóis. Há dois setores: o militar onde se encontram as ruínas do sítio arqueológico ao passo que, no segundo, um portal de rocha sedimentar conduz a uma série de cavernas. Duas cabeças de índios esculpidas na rocha de bela coloração avermelhada destacam-se no azul do céu. Bem eu quisera explorar as cavernas mas o tempo urge. Como se não bastasse o episódio do atraso do vôo pro Rio, sabem o que mais me acontece? O pneu da bike estoura mal eu saio de Quitor. Não me resta outra alternativa senão carregá-la no muque. Fico aflita porque tenho novo passeio marcado pras 16 horas e só me sobram quinze minutos pra chegar em San Pedro. Bufando estrada afora, amaldiçôo o dono da bicicleta até sua terceira geração. Felizmente, aparece uma camionete, faço sinal, e o gentil motorista põe a bike na carroceria e lá me vou sã e salva até o povoado. Uuufaaa!!! E lá vamos nós estrada afora. Só mulheres: Claudia, a motorista, uma linda morena de olhos verdes, Paola, nossa meiga e paciente guia, Val e Euzinha vamos conhecer o Vale da Morte, a Pedra do Coiote, a Quebrada de Kari e o Vale da Luna situados na Cordilheira do Sal. Dominando a paisagem, de oeste a leste, avultam as Cordilheiras de Domeyco, a do Sal e a dos Andes. Entre as cordilheiras de Domeyco, a mais antiga das três, e a dos Andes situa-se a do Sal, a caçula, com 7 milhões de anos. Entre esta e a dos Andes, onde se situa a maioria das montanhas e vulcões com mais de 5.000 metros de altura, localiza-se o Salar de Atacama, uma depressão com 100 km de extensão e 50 km de largura. A maior salina do Chile, oriunda provavelmente de um lago que secou, constitui uma das mais importantes fontes econômicas do país porque abriga a maior reserva mundial de lítio, além de outros minerais como potássio e bário. Primeira parada no Vale da Morte onde se pratica sandboard em suas dunas. Após uma rápida caminhada, embarcamos no carro. Próximo destino: pedra do Coiote de onde iniciamos um leve trekking de duas horas percorrendo, primeiramente, Las Cornijas, um vale rodeado de dunas até adentrarmos na Quebrada (canion) de Kari. Os vestígios de sal são evidentes: o chão apresenta-se branco, branquinho. Numa das cavernas por onde passamos podemos vê-lo solidificado tal qual cristal de rocha! Pros desavisados assemelha-se a quartzo branco. Totalmente diferente esta paisagem. Coisa de louco. Claudia está nos esperando no carro, e lá vamos nós felizes rumo ao Vale de la Luna admirar la puesta del sol. Dunas e mais dunas. Querem saber duma coisa? Foi o lugar de que menos gostei. Nem se discute sua beleza. Exatamente por ser cartão postal da região atrai tanta mas tanta gente que pra tirar fotografias tem se fazer acrobacias, de forma a evitar a presença de cabeças e outros membros humanos nas fotos....tsktsktsk. De volta a San Pedro descarrego a memória da digital numa loja de internet em frente a praça. Nem janto, sei lá, estou tão excitada que perdi o apetite....coisa rara! A dor de cabeça, não muito forte, incomoda um pouco. Nada que um bom analgésico não resolva. De Valéria não escuto nem um ai. Ressona tranqüila a amiga. Durmo embalada pelo ruído das vagens de tamarugo que caem no chão......ploct.....ploct.
Nenhum comentário:
Postar um comentário