Pontual, Felipe, que será nosso guia pelos três dias restantes da viagem, chega ao hotel, juntamente com Paola às 7 da matina. Embarcamos na camionete carregada de tralhas e rodamos durante algum tempo pela ruta 27. Durante o trajeto, o contorno do majestoso vulcão Licancabur sobressai no escuro da teimosa madrugada que se nega a recolher. Entretanto, já se percebe, no horizonte rastros dum tom violáceo anunciando o despertar da manhã. O carro abandona o asfalto e dobra à direita, ingressando numa estrada de areia. Val e eu estamos felizes com a perspectiva de acamparmos, o ambiente dentro do carro é descontraído, rola um som maneiro no cd e a conversa flui leve. Rio à toa. À medida que andamos vamos ganhando altura. Felipe informa que já estamos a 4.000 metros. Daqui pra frente, os 2.400 m de San Pedro são fichinha perto do que iremos enfrentar. Fazemos uma parada pra conhecer o salar de Pujsa, zona também pertencente à Reserva Nacional dos Flamengos. Percebo, encantada, tal qual miniaturas de icebergs, consideráveis pedaços de rochas de sal boiando na água azulada. Caminhamos à margem da resplandecente laguna e por lá ficamos um certo tempo, sentados, admirando os flamengos que, indiferentes à nossa presença, fazem seu desjejum. Seus grasnidos são o único som na manhã ensolarada. Felipe nos leva até o alto de uma colina. A vista aqui de cima é estupenda: conforme a incidência da luz solar, a superfície da laguna mostra-se ora pontilhada por manchas amarelas ora esverdeadas. Tal coloração é causada graças à presença de enxofre depositada nas rochas vulcânicas. Ai meu deus, quanta beleza! Embarcamos no carro e já estou a mil. Pensando bem, nem é preciso muito pra que eu fique neste estado, murmuro eu pros meus botões. Embora o sol já se encontre alto no céu, faz frio, coisa de 10º, segundo Felipe. A paisagem durante o trajeto é linda. Os coirones preenchem de verde e dourado as encostas cinza-escura dos cerros até sumirem por completo. Mais uma vez a paisagem cede espaço às sutis variações do ocre. Há pessoas que acham monótono esse tipo de cenário, eu, no entanto, não canso de admirá-lo. Vem da infância esse gostar. Ainda meninota, era fascinada pelo Saara que, à época, supunha ser o único deserto do mundo. Santa ignorância! Felipe pára o carro num dos setores do Salar de Tara onde se erguem pilares rochosos distantes uns dos outros por centenas de metros. São conhecidos como Monges ou Guardianes de Lapacana. As impressionantes figuras de pedra se elevam solitárias na planura do deserto. Algumas lembram pênis gigantescos. Comento com Val tal semelhança. Ela, com sua malícia carioca, apelida o lugar de Jardim dos Falos. E não é que pra reforçar o caráter erótico do lugar, os benditos monges situam-se perto da laguna Águas Calientes II ?!
Nenhum comentário:
Postar um comentário