Meu retorno ao Chile foi meio inesperado. Não planejava voltar tão cedo a esse país, talvez no final do ano. Entretanto Valéria, uma carioca, que eu conhecera ano passado durante a viagem à Chapada dos Veadeiros me pôs uma pilha pra subirmos a um vulcão e, claro, isso bastou pra que meu lado aventureiro aflorasse assanhado. Devido ao pouco tempo – feriado de páscoa - optei por contratar uma agência que organizasse nosso roteiro descartando o improviso que as viagens solitárias proporcionam. A companhia aérea, desta feita Lan Chile, sairia do Rio de Janeiro às 2 da manhã do dia 15. Havíamos decidido permanecer sábado em Santiago pra fazer compras nas diversas lojas especializadas em roupa de trekking existentes na cidade. O vôo à cidade maravilhosa sairia às 20 horas, com tempo de folga de modo a permitir que eu pegasse o avião pra Santiago. Qual o quê!! Sei lá por que sempre que vou ao Chile dá uma urucubaca nos aeroportos embaçando minha viagem. Dessa vez, meu vôo não foi cancelado, contudo o atraso em decorrência de fortes chuvas na cidade dita, arghhh!! maravilhosa foi tanto, tanto que quase perco o avião pra Santiago. O que eu sofri até embarcar no avião após quase três horas de permanência no aeroporto em Porto Alegre foi um misto de aflição e irritação controladas. Pura tortura. Só desejo pro pior inimigo, tá?! O avião da Gol sai às 22:40 com previsão de aterrissagem às 00:20. Eu a essa altura já estou entrando em desespero, até de suores frios sou acometida. Val com quem me comunico a cada 10 minutos por celular me diz que a Lan Chile me espera até à 01:30. Embora o avião alcance o Rio às 00:20 não pode aterrissar porque não a torre não lhe dá ordens pra pousar. Tudo em decorrência dos atrasos provocados pela chuva. Ficamos sobrevoando a cidade por 20 minutos! Então finalmente pousamos às 00:40. Penso com alívio: Biazinha, ainda há tempo....mas qual o quê! O bus que deveria levar os passageiros até o terminal 1 não chega....é mole ou quer mais?!! Demora bem uns 15 minutos pra chegar à porta da aeronave e leva mais 10 até alcançar o dito terminal. Já são 01:05 quando descemos do ônibus e lá me vou esbaforida até a esteira onde as malas vão ser descarregadas. Pra aumentar minha ansiedade as malas que são colocadas pertencem à outra companhia aérea. À 01:20, as malas da Gol surgem na esteira. Torço pra que a minha seja uma das primeiras!! Mas que nada, meus nervos continuam a ser testados. Olho incessantemente o relógio e à 01:30 a porra da mala aponta na esteira. Já meio sem esperança, saio em desabalada carreira em busca da escada rolante que conduz ao segundo piso onde se faz o check in da Lan Chile. Estão me esperando embora o relógio já marque 01:40. Val nos diversos telefonemas que trocáramos só dizia com aquele sotaque mole de carioca “Bia, tenho certeza, tudo vai dar certo”. Num desses últimos telefonemas, a vontade que tive depois de escutar seu mantra otimista foi de enviá-la à merda. Caracas, penso com meus botões, é fácil ser esperançosa quando se está na sala de embarque livre de imprevistos. Enfim, a salvo, dentro do avião, pouco dormi. Também pudera, depois de toda aquela provação estou tão excitada que só uma marretada na cabeça ou um Rohypnol me põem a nocaute. Chegamos, dia 15, em Santiago, às 07:30, e nos hospedamos no hotel Kennedy, situado em Vitacura, um belo bairro habitado pela classe média alta santiaguina. Deixamos as malas no quarto e nos tocamos alegríssimas pro shopping Arauca onde há boas lojas de roupas esportivas, como a Rock Ford, a Columbia e a North Face. O dia está lindo, um calor gostoso. Fazemos algumas compras e pegamos um táxi em direção ao shopping Alto de las Condes avistando ao longe o belo cume nevado do cerro Colorado com seus 3.049m. Compramos num supermercado duas garrafas de vinho branco e uma tábua de queijos pra comermos no hotel. Uma delícia nossa ceia. Fazemos uma sauninha básica e depois cama.Dia 16, acordamos cedo resolvidas a fazer um city tour pela bela capital dos chilenos. Embarcamos num daqueles típicos ônibus de turismo que há em todas as capitais do planeta e rodamos pelas ruas de Santiago, desertas, como sói acontecer nos dias de domingo. A bela manhã aumenta a curtição da paisagem sempre encoberta por uma leve névoa cujo efeito suaviza o perfil dos cerros que rodeiam a cidade situada num vale da Cordilheira dos Andes. O vôo de Santiago a Calama dura três horas. Chegamos às 19:30. Javier já está a nossa espera no aeroporto segurando um cartaz com meu nome impresso. Embarcamos na van rumo a San Pedro distante apenas uma hora e quinze minutos e situada a 2.400 m. Javier é pai de Edson, dono da agência Planeta Aventura, responsável pelo nosso receptivo em San Pedro. Mostra-se um excelente guia, dirigindo sem pressa enquanto nos informa sobre as características do lugar. Como toda região desértica, o ar é seco e quente durante o dia. Já a noite esfria, mas não muito nesta época do ano porque mal iniciou o outono. Embora eu já tivesse visto fotos na internete do pequeno povoado, mesmo assim me surpreendo. Com ruas de chão batido, a maioria de suas casas são feitas de adobe, sem pintura e com pé direito baixo. Muitos turistas passeiam nas ruazinhas e a algaravia das línguas revela diversos idiomas, em especial alemão, francês, inglês e......português! O hotel onde nos hospedamos, o Kimal, também em adobe, tem suas habitações interligadas por pequenas vielas, imitando um pueblito. Bem charmoso, conta com piscina e jacuzzi térmica ao ar livre. Entro na água quentinha e do céu a lua quase cheia faz, bah! olho branco pra mim....pode?!
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