Chegamos no início da tarde à laguna de Tara, alimentada pelo rio Zapaleri cuja nascente se encontra na Bolívia. Naquela imensidão do deserto, esparsa vegetação em forma de tufos desponta circundando o espelho d'água. No mais, a coloração clara da areia dá o tom. Vejo bandos de flamingos com os longos bicos dentro da laguna à cata de alimento. De uma beleza sensacional, dispõem-se, paralelos às margens da laguna, dois gigantescos maciços rochosos escarpados situados um diante do outro. Assemelham-se a um castelo medieval com suas torres e ameias, recebendo contudo o nome Las Catedrales. Indescritível o impacto do cenário. Um extâse! À oeste, além da laguna, entrevêem-se os topos nevados dos cerros Poquis, Balcón e Bayo. Felipe, além de guia, é nosso cozinheiro e prepara um almoço rápido e nutritivo com rodelas de tomate, fatias de abacate, batatas cozidas, atum e pão. De bebida, suco de frutas. A mesa é armada e nos refestelamos nas cadeiras para saborear a comida e a paisagem. Nem pinta de vento....eba! O céu, até então azulão, cede espaço a nuvens cinzas e pesadas que surgem detrás dos cerros. "Vai chover?" é a grande indagação. Vamos pras barracas descansar um pouco, as siestas são sempre bem-vindas, por supuesto! Claro está que nem penso em dormir, aproveito pra ler mais um pouco do Poeta, um bom romance policial cuja leitura iniciara ainda no Brasil. Às 16 horas, Felipe nos chama e lá vamos nós quatro fazermos um trek leve. Pegamos o rumo oeste passando ao largo daqueles monumentos colossais que são as Catedrales. Felipe nos conduz cerro acima até que atinjamos seu topo. É pouca coisa a subida, cerca de 200 metros de desnível. A visão da laguna lá embaixo é linda embora espessas nuvens escuras e baixas ainda toldem de cinzento o horizonte, deixando entrever, contudo, aqui e acolá nesgas de azul no céu. Pra variar, tiro fotos e filmo enlouquecidamente, motivo por que sou deixada pra trás. Nem me incomodo. Até melhor, assim posso com calma apreciar a paisagem e filmar este lindo lugar. A descida é bem chatinha, muita pedra solta, sorte que estou com bastões, caso contrário escorregaria com facilidade pelo íngreme terreno. Avisto lá embaixo, mais à frente Val e Paola, caminhando lado a lado. Felipe há muito se mandou porque queria chegar a tempo de preparar o jantar. O céu desanuvia-se e a tarde torna-se clara embora já passe das 19 horas. Bom sinal, só assim vai dar pra ver bem a lua cuja face branca aponta à oriente da laguna. O frio se faz sentir, nada mais natural, estamos a 4.300 m. Sem pressa, volto pro acampamento, quando de repente um flamingo quebra a quietude da tardinha ruflando a beleza estonteante de suas asas rosadas debruadas de preto. Que barulhinho bom! E seu corpo branco e rosa pálido passa a poucos metros de minha cabeça. Fico em estado de graça. A janta é singela: massa com creme de milho. Entretanto, Felipe nos surpreende e saca uma garrafa de vinho tinto. Paola e eu, as pinguças do grupo, esfregamos as mãos de satisfação. Terminamos a bebida dando risadinhas e satisfeitíssimas porque Val e Felipe pararam na primeira taça. Assim sobrou mais pra nós. Felipe fazendo um certo estilo sargentão, anuncia o toque de recolher. Poxa, que droga, quisera prolongar mais a noitada. Resignada, entro na barraca não sem antes abrir uma ponta da cortina pra ver a lua cheia refletindo na laguna seu brilho prateado. Que noite...que noite!!
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