quarta-feira, 23 de março de 2005

En passant por Lima

Um dos sonhos de todo trekker que se preze é a caminhada de 4 dias a Machu Picchu. Para tanto teria de passar por Lima, cidade que, sendo bem sincera, nunca me atraíra a atenção, embora tenha sido uma leitora assídua de Vargas Llosa a certa época de minha vida, cujas estórias, em sua maioria, se passam nessa capital. Embarco para Lima, onde fico apenas um dia, o da minha chegada, já que no dia seguinte irei a Cusco. Aterrisso em Lima ainda pela manhã, percebendo, durante meu trajeto até o hotel, ser uma cidade plana, pobre e nada atraente - aos meus olhos, daí não ter frustrado em nada minhas expectativas -, a não ser pela peculiar névoa que a envolve e das oliveiras plantadas nos bairros chiques limenhos: Miraflores e San Isidro. Quando chego ao hotel contrato um tour  básico pelo centro da cidade onde se localizam os prédios históricos, entre eles o Mosteiro de São Francisco onde estão as catacumbas, cemitérios subterrâneos recheados de ossos humanos colocados em grandes valas descobertas. Informa-nos o guia que toda aquela ossada seria de pessoas - calculam-se umas 30 mil - que morreram em conseqüência de um abalo sísmico ocorrido há mais de 2 séculos. Aliás, como são freqüentes os tremores de terra nesse país, há, em muitos prédios, placas em que se lê a tranqüilizante frase: zona segura en caso de sismo. Continuando o tour pelo centro histórico, vamos à Plaza Mayor onde se situa o Palácio del Gobierno que, em razão de tremores, por hora políticos, acha-se resguardado por tropas do exército. À sua esquerda, encontra-se a Casa Arzobispal, destacando-se desse conjunto arquitetônico, construído em pedra clara, os belíssimos balcões em madeira escura - primoroso trabalho em talha - dignos de serem apreciados com mais vagar, porém meu tour é vapt vupt, tal qual uma ejaculação precoce (cruz credo, que comparação profana em se tratando de prédio nada laico!). Rapidamente, passamos em frente ao pátio da Catedral que se encontra coalhado de gente. Sentadas nos degraus que conduzem ao seu interior, vendedoras de velas oferecem - un sol, señorita – seus sebos luminosos a quem entra. O vai- e-vem incessante de pessoas, entrando e saindo do templo, confirma as comemorações da semana santa, data levada muito a sério pelos peruanos, povo deveras católico. Deixando toda aquela devoção para trás, vamos conhecer o cerro San Cristóbal, um outeiro árido, perto dali, onde em suas encostas, despidas de vegetação, se aloja o bairro de mesmo nome, cujas casas humildes denotam bem a classe social dos que o habitam. Por suas vielas estreitas trafega, com extrema rapidez e agilidade, um veículo peculiar – o chollo táxi. É um triciclo importado da China - alguns apresentam um pequeno toldo – guiado com incrível rapidez e muito usado pela população pobre da cidade. Para terminar o minitour, passeia-se pelos bairros de Lince e Rimac, ambos de classe média baixa, até se chegar a Miraflores (muito citado nos livros de Llosa) e San Isidro. Estes dois últimos são de classe média e média alta, com largas avenidas, casarões, shopping centers, enfim, tudo de bom pra quem só quer coisas belas e agradáveis, valorizados, ainda, pela bela vista do Pacífico que pode ser desfrutado do calçadão que o contorna ao longo de vários quilômetros.

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