sábado, 26 de março de 2005

Visitando as ruínas ao redor de Cusco

Cusco é uma cidade com mais de 3.000 anos de existência, considerada, portanto, a cidade mais antiga da América. Foi inicialmente povoada por pastores e agricultores. Posteriormente, depois de muitas guerras internas entre as diversas tribos indígenas, triunfou a inca (uma mescla de várias etnias), impulsionando o desenvolvimento desta civilização a partir de 1.200 d.c., graças ao extraordinário conhecimento que detinham sobre diversas ciências. Torna-se, dessa forma, a capital do império cuja prosperidade econômico-cultural provoca, ainda, assombro nos dias atuais. Com a chegada dos espanhóis em 1533, houve uma brutal interrupção no domínio desse povo, sendo transferida a capital para Lima. Sábado é o dia escolhido por mim para fazer uma excursão pelos arredores de Cusco onde estão situadas várias ruínas remanescentes do período inca. O primeiro lugar a ser visitado é Coricancha, ainda em Cusco, perto do hotel onde me hospedo. Embora não seja o mais imponente dos edifícios incas foi o mais respeitado e venerado por ser o templo do sol, astro estelar elevado à condição de deus no imaginário inca. Após breve descida para a inevitável sessão de fotos, rumamos a Sacsayhuaman. A respeito desse sítio há controvérsias: se foi construído com propósitos militares para defender o império inca de tribos invasoras, ou se com fins religiosos destinado a ser um grande templo dedicado ao deus sol. O conjunto arquitetônico, em si, é grandioso pois as pedras, algumas gigantescas - mais de 9 metros de altura -, faz com que perdure o mistério ainda não desvendado sobre o modo como os incas as carregaram até ali, considerando que eles não possuíam animais de tração. Ademais, também impressiona a maestria com que eles cortavam e encaixavam as rochas umas as outras, de forma que nem uma agulha conseguisse traspassá-las. Enquanto passeamos ao redor da magnífica construção, o guia informa que, em Sacsayhuaman, é celebrado, em 24 de junho, o solstício de inverno com uma grande festa, o Inti Raymi. Em todos esses sítios arqueológicos há invariavelmente vendedoras exibindo o lindo artesanato regional, daí meu lado consumista estar sendo sempre testado - pensam que resisto? Qual o quê! Compro dois lindos colares de pedras, um laranja e o outro verde e areia, lembrando um pouco as bijuterias usadas pela Betty do Flintstones. E lá se vai o microônibus até Puca Pucara, outra fortaleza militar (não foi à toa que os incas dominaram grande parte da América do Sul), composta de grandes muros, terraços e escadarias de impressionante envergadura arquitetônica. Por fim, eis Tambomachay, conhecida como baño del inca, construção cujo extraordinário sistema hidráulico compõe-se de piletas e desaguadouros em desníveis, por onde escorre água proveniente de um manancial situado em sua parte mais alta. Reservo a tarde para conhecer Quenqo, construção também feita com grandes blocos de pedras dispostas com precisão geométrica, cuja finalidade era a de servir de depósito para se armazenar chicha (bebida feita da fermentação do milho) ingerida durante os rituais incas. Este passeio, a cavalo, eu curto muito mais já que foge do esquema tradicional da excursão matinal. Ademais, o soroche havia me pegado e minha cabeça latejou demais durante toda a manhã. O que aliviou um pouco foi a muña, um arbusto cujas folhas contêm propriedades medicinais contra os efeitos da altitude. Cheiram-se as folhas - bem miudinhas elas - após esfregá-las na palma da mão; o odor lembra uma mistura de marijuana com menta. Bem legal passear por ali. Desço por uma cavidade escavada na rocha, conhecendo, assim, uma câmara subterrânea que termina no outro lado dessa passagem. Quando termina a cavalgada, ao cair do dia, volto a pé para Cusco, admirando do alto da colina aquela cidade milenar já se preparando para receber a noite que não tardará em envolver o lugar.

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