sexta-feira, 25 de março de 2005

Almoço em uma cuyeria

Havia contratado uma pequena agência, cujo proprietário chama-se José Puma Jallo, um cusquenho simpático e um tanto afeito ao trago. Iríamos conhecer dois sítios arqueológicos importantes situados perto de Cusco. E lá fomos nós, numa camioneta, em direção a Tipon. Saímos da rodovia e pegamos uma estradinha de terra que nos deixa em frente a um grande espaço gramado formado por 12 terraços cercados por paredes de pedras bem talhadas, e separados entre si por amuretas feitas do mesmo material. O sistema de irrigação é perfeito, pois os incas detinham um profundo conhecimento de engenharia hidráulica que surpreende até os dias de hoje. Ao longo dos terraços dispõem-se canaletas que escoam água irrigando-os. A água provém de um dos inúmeros rios cujas nascentes formam-se lá em cima, no cume de uma daquelas verdejantes montanhas, dispostas em círculo, como se abraçassem, protegessem os cereais que ali eram plantados antigamente. Qualquer coisa de espetacular essas montanhas, gente! Fico encantada porque aqui no Brasil costuma-se chamar qualquer morro mais alto de montanha. Qual o quê! Montanhas são estas do Peru, isso sim! Subimos, então, José mais eu, o flanco de uma delas, trilhando uma via de pedras feitas ao capricho em cujo centro destaca-se uma canaleta. Eu não quero mais saber de parar, por mim iria até o cume daquela formidável elevação da crosta terrestre, contribuindo em muito para minha animação o céu azul, a temperatura amena e um cheirinho bom de erva similar ao da macela. Entretanto, como temos de prosseguir com nosso tour, sou obrigada a descer, meio a contragosto. O destino seguinte é Pikillaqta, uma cidade construída há aproximadamente 1.200 anos, anterior, portanto, aos incas. Calcula-se que sua população alcançou 10.000 almas nos áureos tempos. Entretanto, não foi esse povo tão sofisticado quanto os incas no tocante aos conhecimentos de arquitetura e engenharia, o que se evidencia pelo uso de pedras pequenas em suas construções ao contrário dos grandes blocos de rocha utilizados por aqueles. Terminamos o passeio, almoçando em uma cuyeria, restaurante cujo prato típico é o cuy, um tipo de leitão, assado inteiro, num pequeno forno de barro ovalado (dá para se distinguir, por entre a boca aberta do animalito, seus dentinhos afilados avultando, dois do maxilar superior e dois do inferior). Acompanha rocoto relleno (pimentões recheados com ervilhas e cenouras) mais batata assada e talharim (viva os carboidratos!). Pra temperar o petisco, à parte, num potinho, aji (molho de pimentão seco e triturado misturado com maní). Comemos tudo, empinando de quebra uma cerva cusquenha (feita, segundo a propaganda oficial, da mais pura água da terra oriunda do degelo dos glaciares). Um dia depois do passeio, José, confirmando sua terna afeição pelo tragoléu, telefona, meio bebum, lançando-me galanteios desarticulados. Aconselho-o, maternalmente, a curar a mona. Fazer o quê?

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