domingo, 27 de março de 2005

Domingueira no Vale Sagrado

Domingão, esplêndido o dia, pra ninguém botar defeito, o azul do céu embranquecido aqui e ali por nuvens grandes, daquelas bem fofonas. Perfeito pra visitar as cidades de Písac, Ollantaytambo e Chinchero situadas no Vale Sagrado. A primeira parada é em Písaq, importante centro artesanal da região, onde, neste dia da semana, ocorre, na praça principal, uma enorme feira com centenas de bancas, uma ao lado da outra, em que se encontra exposta à venda o colorido artesanato regional. Como sói acontecer nesse tipo de excursão nos dão uma hora pra percorrê-la! Fico chateada com tão breve espaço de tempo, mas depois agradeço intimamente porque me ponho bem doida diante de tanta variedade de produtos: quero comprar de tudo um pouco. Uma das coisas adquiridas é o casaquinho de lã coloridíssimo pra meu afilhado. Enquanto mastigo uma espiga de milho com queijo (os grãos são enormes, nunca até então vira nada igual) comprada de uma simpática vendedora ambulante, vou de barraca em barraca perguntando o preço das mercadorias. Meio a contragosto, abandono a feira, embarco no ônibus e lá me vou visitar o complexo arqueológico de Písac, situado no alto de um cerro de onde se avista boa parte do Vale Sagrado. Sento-me numa mureta e ponho-me a observar a cidadezinha e sua buliçosa feira semanal. As ruínas compõem-se de patamares e edificações dispersos pela encosta da montanha, destacando-se dentre elas El Hintihuatana (em quéchua, significa relógio de sol) cuja finalidade, segundo os pesquisadores, seria a de servir de observatório astronômico. Com apenas um templo e ênfase na administração dos produtos agrícolas, tudo leva a crer, tenha sido uma fazenda real pertencente a um imperador guerreiro, o inca Pachacútec. Depois de almoçarmos em um restaurante a beira da estrada, seguimos para Ollantaytambo, pequeno lugarejo onde se localiza a fortaleza de mesmo nome. É um lugar en-can-ta-dor, bom pra ficar um ou dois dias, percorrendo com calma as incríveis ruínas, pra mim as mais belas das que já visitara. Deslumbro-me com a variedade multicolorida de bonecas expostas na frente das lojas, são as mais lindas de todas as que vira, afora serem mais baratas que as duas adquiridas em Cusco e Písac; morro de pena em não poder comprá-las, porém se continuar neste frenesi consumista não haverá mala suficiente para acomodar tanta bugiganga. Funcionava este reduto militar também como observatório astronômico, comportando dois templos: um dedicado ao sol e outro à água. A sua frente, ergue-se o cerro Pincuylluna, onde estão diversas edificações em pedra, destacando-se uma composta por três blocos retangulares idênticos, dispostos um sobre o outro, com seis janelas na fachada e mais seis na outra parede. Vistos de frente lembram um edifício de três pisos; foram usados como depósito de armazenagem de produtos agrícolas. À sua esquerda, um grande bloco de pedra representa, para os moradores do lugar, o rosto de um inca. Parto lastimando o pouco tempo em que ali ficamos. O último lugar da excursão será Chinchero, localidade situada a 3.762 metros, portanto muito elevada do que as duas anteriores, cujas altitudes médias são em torno de 2.800 metros. Foi fundada com o objetivo de servir de residência de descanso ao inca Túpac Yupanqui que, em continuidade à obra de seu pai, Pachacútec, expandiu e consolidou o império inca. Um de seus feitos notáveis foi empreender uma viagem marítima até a Polinésia com duração de 9 meses. Os restos do palácio, a igreja colonial (embora pequena e sem os magníficos adornos de prata e ouro das demais, apresenta teto e paredes pintados com afrescos de imagens sacras) e a colorida feira dominical (quando chegamos as barracas, infelizmente, estão sendo desarmadas pois já vai avançada em muito a tarde) são seus principais atrativos. As casas pintadas de branco dão um toque especial ao delicioso vilarejo. Amo Chinchero tanto quanto Ollantaytambo. Se puder, retornarei com gosto a ambas, dessa vez me quedando com vagar em cada um deles para melhor desfrutar suas belezas.

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