29/03/2017 – Quarta-feira – 12º dia de Trek Everest BC – Namche Bazaar a Tengboche
Com
céu de brigadeiro, às 6 da manhã, faz frio, coisa de 5º C. Avisto, enfim, os generosos flancos cobertos de neve
do Kungde. Saímos de Namche às 8 e 15, rumo a
Tengboche, onde pernoitaremos. A trilha de chão batido, aberta em encosta de
montanha, é limitada à direita por penhascos que formam o paredão oeste do
canyon onde desfila o rio Dudh Koshi. Segue nessa moleza até Phunki Tenga,
salvo curtos trechos de subidas ou descidas mais ardidas
devido à presença dos
famigerados degraus de pedra. É um mar de montanhas e gargantas que se sucedem
vertiginosamente. A cada curva de estrada desponta, ao norte, o quase
imperceptível cume do Everest, escondido pela escura cimeira sul do Nuptse e
pela grandiosidade dos paredões do Lhotse. À leste, as duas cristas, tais asas angelicais encravadas em cada lado da pirâmide principal do Ama Dablam, parecem
abençoar a região. Apesar de ser um 6 mil (mais exatamente 6.812 metros) e o terceiro
mais procurado pico do Himalaia, isso não quer dizer que seja uma montanha
facilmente escalável. Pelo contrário, exige alto nível de conhecimento técnico
em sua ascensão. Nos dois mirantes, onde há stupas caiadas de branco, os
turistas param pra curtir e fotografar Everest, Nuptse, Lhotse e Ama Dablam,
os mais emblemáticos da região. O motivo
pro crescente afluxo de turistas na trilha se deve, a um, porque a maioria são jovens com pouco dias de férias, e, a
dois, porque partindo de
Lukla o bate e volta do trek ao Everest BC dura 15 dias. Como a alta temporada
da primavera está em seu início, o número de turistas indo pra Gorak Shep é bem
mais superior ao que retornam de lá. Paramos prum chá em Kyangjuma, donde
desfruto, sentada a uma mesa ao ar livre, as nunca cansativas presenças de Ama
Dablam, Lhotse e Taboche destacando-se contra o fundo azul do céu. O cenário
magnífico, a aconchegante vila e a simpatia de seus moradores faz com que eu
lamente não poder pousar aqui. Ao sair de Kyangjuma, percorro uma alameda de
rododendros, pena que ainda não floriram. O tempo muda, assim, num estalar de
dedos. Quando me dou conta, o céu nublou geral e nem bem 11 e 30 são....tsk tsk
tsk. Claro está que ausente o sol, baixa uma friaca. Uma boa descida conduz a
mais uma das tantas pontes metálicas que unem uma margem a outra do
rio Dudh Koshi. Continuo
ladeira abaixo até Phunki Tenga, porque a vila se alça à modesta altitude de
3.250 metros, mais abaixo, portanto, de Kyangjuma, situada a 3.600
metros. Nir se dirige ao check point existente na vila onde aproveitamos também pra
almoçar. A partir de Phunki Tenga, dentro dum bosque de coníferas, ziguezagueando por encosta de montanha, começa a fudida duma subida tão íngreme é, demorando a
exaustiva pernada 1 hora e 45 minutos. Numa curva de trilha, as nuvens de tão baixas flutuam a poucos metros do solo. Encontramos Tengboche às 14:30 envolta em brumas.
Um pórtico com rodas de oração em seu interior marca a entrada na vila. Nossa
guest house com o sugestivo nome Tashi Delek (saudação em tibetano que significa boa sorte) fica a 50
passos do monastério onde assisto a breve cerimônia budista naquele
que é considerado o templo mais importante do Solukhumbu. Jovens da região são
enviados pra estudar budismo ali, devendo permanecer castos durante o curso.
Após a graduação, os casamentos não só são permitidos como incentivados. Durante a janta, no
aconchegante refeitório envidraçado, rememoro os impressionantes procedimentos
realizados, à tarde, na trilha por um jovem porter (95% têm entre 16 a 35 anos). Carregando um compensado de 2,50 m por 70 cm de largura, o rapaz usava
na lombar uma espécie de rolinho pendurado às costas de modo a amortecer o
impacto da madeira na coluna. Na testa, uma faixa de pano presa à carga firma e
equilibra melhor o fardo. Chego à
conclusão de que os verdadeiros super heróis são eles, os porters!!




Um comentário:
Eu não tenho dúvida nenhuma de que eles são os heróis de todas as histórias de ascensão às montanhas.
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