Às 5 e 30 quando acordo está um baita dia o que não me espanta porque quando levantei durante a madrugada para fazer xixi o céu estava todo estrelado. Às 8 e 15, nos despedimos de
Tengboche, donde se tem uma visão
espetacular do Nuptse, Lhotse e Ama Dablam. Ah, do Everest mal e mal se vê a
miniponta de seu cume, motivo por que nem merece minha atenção, é um anão diante
dos outros hahahaha!! O movimento de helicópteros está
animado, inclusive um
deles pousa aqui na frente do hotel pra deixar alimentos e pegar turistas que
retornam a Kathmandu. Nem sei se é o caso desses, mas muitos turistas não conseguem completar o circuito Everest BC por causa do mal de altitude. A trilha, inicialmente, é uma descidinha
no bosque de rododendros. Depois só encosta de montanha a céu aberto. Do
Nuptse, Lhotse e do minúsculo e escuro ponto que é o Everest pouco se vê porque há
sempre uma parede de nuvens escondendo-os. O Ama Dablam, contudo, não deixa
barato pras nuvens, e impõe sua branca nudez sobre a região. O dia continua
lindaço. Kungde, pico do qual gosto muito, fica pra trás, mas ainda se vê à
direita o leque de rochas que forma a parede oeste do Thamserku. Não é uma trilha
exigente embora continuemos a ganhar altitude gradualmente. Passamos por
Pangboche encarapitada a 3.985 metros. A vila tem boas guest houses, feitas de
pedras, material usado na construção de 90% das
residências do Solukhumbu.
Muitos currais de yaks, todos eles vazios, já que o transporte de cargas nesta
época do ano não permite que os bichos esquentem lugar. Daqui pra frente mulas
e dzos não têm mais vez nas trilhas. Pangboche é porta de entrada pra quem quer
escalar Ama Dablam. Pra tanto, deve se cruzar o rio Dudh Koshi e pegar a
trilha que conduz àquele acampamento-base. Uma estradinha bem estreita, num terreno
escarpado onde lá embaixo se encontra o Dudh Koshi, desce até Shomare onde paramos
prum lunch break. Aqui já está almoçando o simpático casal de alemães que conheci em Junbesi
e que ocasionalmente encontro. A partir de Shomare, a
paisagem sofre dramática alteração: salvo a presença de pequenos arbustos espinhentos
inexiste qualquer outro tipo de vegetação. Caminhamos por 2 horas no árido vale
banhado agora pelo Imja Khola. Cercado por montanhas sem grande expressão,
apenas Ama Dablam é digno de nota. Conforme nos deslocamos, novas faces Ama desfila de seu mesmerizante e esquizofrênico perfil. Quando
próxima de Dingboche, se agiganta, à esquerda, Taboche. No fundão da vila, destaca-se, ao lado do Lhotse, Island Peak, montanha muito
procurada por turistas devido ao seu status de “facinha”, também é escalada pra
aclimatar antes de os montanhistas se lançarem em busca do cume do Everest. Às
14:00 estamos entrando em Dingboche cuja rua principal, demarcada por muros de
pedras, tem em ambos os lados lodges, padaria e até um salão de sinuca. Várias
lojinhas vendem desde toucas de lã a papel higiênico. O tempo muda a partir das
16 e 30, baixando aquela cerração e sensível queda de temperatura. Após
conversar com Silvia, jovem italiana de 20 anos, que viaja sozinha, carregando
pesada mochila, vou pro quarto onde descanso até a hora da janta. Os 4.500
metros de altitude - não é pouca coisa, não é mesmo? - estão cobrando seu
preço, na forma duma dorzinha de cabeça e um pouco de sono. Agora 18 e 20, vejo
pela janela envidraçada do refeitório que a cerração se dissipou restando
apenas pequenas caudas de nuvens nas partes mais baixas das encostas das
montanhas ao redor da vila. Island Peak, até então obnubilado, ressurge lindo tal
qual bolo polvilhado com açúcar de confeiteiro.



31/03/2017 – Sexta-feira – 14º
dia de Trek Everest BC – Dingboche
Desperta às 5 da manhã porque, como não gosto de fechar cortinas pra escurecer o quarto, a claridade é o melhor despertador já inventado. O dia promete ser deliciosamente comportado. Agora 7 e 30, o bom tempo dá alô exibindo impecável céu
de brigadeiro. Dentro do hotel a sensação térmica é mais baixa que a da rua
onde o termômetro marca 5ºC. Hoje é dia de “descanso” em Dingboche. Descanso, em treks que envolvem alta montanha,
nem sempre significa ficar de barriga pra cima, sem nada a fazer. Pra nos
fortalecer, já que daqui em diante, só há ganho de altitude, vamos aclimatizar subindo
o Nagarjun, um pico de 5.040 metros. O ascenso é suuuuperrrr puxado. Nem
consigo curtir o visual enquanto calcorreio a puta rampa que conduz ao cume porque só concentro em
harmonizar a respiração a cada passo dado. Meu foco é respirar com
calma e caminhar sem pressa de chegar. Descanso algumas vezes pra recuperar o fôlego
sem sequer pensar em fotografar ou filmar os arredores. A energia dirige-se apenas pro cobiçado cume. Que alívio quando alcanço o amontoado de
rochas escuras ao final da duríssima, e bota dura nisso, ascensão ao cume do Nagarjun!!
O cenário é recompensador: à leste Ama Dablam, Kangtega (6.782 metros) e Thamserku,
ao sul, nas bandas de Namche, Kungde e, a sudoeste, Taboche (6.542 metros) e
Cholatse (6.440 metros) voltados pro vale que leva a Lobuche. Dá pra ver ainda
Island
Peak, também conhecido como Imja Tse (6.160 metros) bem como a perfeita forma
piramidal do Cho Polu (6.735 metros). E pra completar tanta belezura e grandeza,
avisto, de inhapa, boa parte do flanco nordeste do Makalu (8.463 metros)!! Sorte
nossa de o tempo estar tão legal, proporcionando alta visibilidade da região. Durante nossa permanência no pequeno cume do Nagarjum, vão chegando mais turistas,
alguns com ar abatido, outros bem serelepes. À margem direita do rio
Tsola, se vê a vila de Periche, segundo Nir bem mais fria e ventosa que
Dingboche embora situada a mesma altitude. O tempo, pouca demora, mostra seus
maus bofes e rapidinho a cerração encobre a paisagem, motivo pelo qual iniciamos
o descenso pelo bem demarcado sendero. Não tão cansativa, é claro, quanto a
subida, exige ainda assim bastante cuidado porque coberta de areia fina. Percebo quão bom é o uso dos bastões
nesse tipo de terreno, evitando escorregões à toa. Além da cerração, o frio ventinho
que sopra aumenta o desconforto durante a descida. Chego exausta
em Dingboche e,
após o almoço, venho pro quarto descansar. Aquecida embaixo do edredom, entremeio
leitura de contos de Katherine Mansfield com deliciosas cochiladas. Tenho de
fazer certo esforço pra levantar, porque se não tivesse de jantar permaneceria
deitada. Não só a altitude quanto o tempo colabora pra que eu me sinta
preguiçosa. Sinto que o esforço despendido na descida do Nagarjun deixou marcas dolorosas em minhas
coxas. O número de turistas aumenta a cada dia que passa, tanto que hoje
a Guest
House Yak, onde me hospedo, se encontra com lotação esgotada ao contrário de
ontem, parcialmente ocupada. Observo que as pousadas, por questão econômica, não utilizam em seu interior
isolamento acústico. Assim, as paredes que
separam os dormitórios não passam de finas divisórias de compensado, razão por que
deixam vazar o mais insignificante dos ruídos. Em meio à vulgaridade dos sons emitidos pelos
vizinhos de quarto, observo que o céu noturno, até então envolto em brumas, ostenta
em meio a oceanos de estrelas uma lua crescente.



Um comentário:
Realmente foi um dia maravilhoso, este! Quantas paisagens maravilhosas, que montanhas fabulosas! Tudo tão belo!
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