segunda-feira, 16 de junho de 2008

O mágico Paquistão

Pois não é que estou indo pro Paquistão?!! Sim, sim e sim!! Tudo começou quando li o livro do Nicleviz falando sobre o país e da beleza de suas montanhas. Afora isso, recebi um convite de meu primo, Carlos Eduardo - vice-cônsul em Islamabad - para assistir ao seu casamento. Dá pra recusar? Então, é claro, excitada, comecei a preparar minha viagem em fevereiro. Através dum conhecido, obtive o email de Manoel Morgado, guia especializado em viagens à Ásia, que, por sua vez, me indicou a Panoramic Pakistan. Assim, dezenas de emails foram trocados entre mim e Tahir, proprietário dessa agência especializada em treks. Meu roteiro foi definido entre tantos treks oferecidos: ir até Concórdia onde se situam 4 dos picos com mais de 8 mil metros, entre eles o famoso K2. Pra minha sorte, a Emirates inaugurou uma linha aérea Sampa-Dubai e lá vou eu num poderoso avião 777, bem pimpona. O avião, lotado de brasileiros, a maioria de origem árabe. Muçulmanos rezam, na traseira da aeronave, ajoelhados sobre seus tapetinhos. Após 14 horas de vôo, chego a Dubai. Não posso sair do aeroporto porque não tenho visto, o que não me incomoda nem um pouco. Afinal, a espera é breve – 3 horas e 30 minutos - até embarcar no avião que me conduzirá a Islamabad. Há muita distração: inúmeras lojas, com os indefectíveis produtos de free shop, oferecem perfumes, cremes, bebidas alcoólicas, material eletrônico e roupas de marcas famosas, entre as quais se destacam as grifes Versace e Armani. Joalherias expõem jóias, cujo preço é calculado por grama de ouro. Muitas bijuterias, afora produtos típicos, como camelos, estatuetas de mulheres com burkas, esculpidas em madeira e porcelana, samovares, vasinhos, enfim, uma miscelânea de bugigangas de encher os olhos. Há também livrarias, cabeleireiros e duas salas destinadas a orações, uma masculina e outra feminina. Muita gente, sentada, espera seus vôos; outras, largadas, no chão acarpetado, dormem, bem à vontade. A maioria - árabes, indianos, paquistaneses, afegãos, afora os africanos com suas roupas coloridíssimas - perambula pelo imenso recinto. Poucos ocidentais. Mulheres de burka passam, envoltas em seus panos pretos, tais quais morceguinhos apressados. Homens, com longas barbas, vestem shalwar e kameez cujas tonalidades predominantes são branco, azul claro e bege. O avião parte de Dubai, pontualmente, e quando entra no espaço aéreo paquistanês, olho pela janela e avisto uma paisagem árida. À medida que nos aproximamos de Islamabad, tons de verde pincelam as montanhas. Já no desembarque, sinto um bafão de calor entrando narinas adentro: sei que o verão aqui é tórrido. O aeroporto é pequeno, minha passagem pela aduana se faz sem problema algum. Tudo muito rápido. A demora fica por conta das bagagens: 25 minutos até as duas malas surgirem na esteira. Meu primo está me esperando. Embarcamos em sua caminhonete enquanto o chofer, Mr. Baig, simpático e solícito, abre a porta pra eu entrar. Como é hora do rush, 9:30 da manhã, e o aeroporto fica perto de Rawalpindhi, uma cidade situada a 40 km de Islamabad, custamos quase uma hora até chegarmos a sua casa. Islamabad, com quase um milhão de habitantes, foi construída na década de 60 com o objetivo de facilitar a integração entre as províncias já que a antiga capital – Karachi - se situa no extremo sul do país, à beira do Mar Arábico, no Golfo Pérsico. Dizem que sua planificação foi inspirada na de Brasília....há, contudo, opiniões divergentes. Divide-se em setores e atualmente está na letra I. O país tem quatro províncias: Punjab, Sindh, Baluchistan e NWFP, além da Northern Areas e Kashimir. É uma cidade de curiosos contrastes: largas avenidas arborizadas são cortadas por ruas de chão batido. Imensas e suntuosas casas, tudo, porém, de gosto duvidoso. Sou atraída por um pitoresco tipo de transporte coletivo, coloridíssimo, em cuja carroceria há dois bancos dispostos um em frente ao outro. Onde normalmente caberiam 6 pessoas, espremem-se 12 criaturas, algumas sentadas no chão, isso sem contar as que se dependuram no estribo externo do veículo. Há espalhadas, na cidade, muitas áreas arborizadas e três lagos abastecem de água a capital. Este ano, Islamabad vem sofrendo cortes de luz, em horários pré-estabelecidos, com uma hora de duração, num total de 5 por dia. Em regiões pobres, os cortes duram 12 horas!! As velas estão sempre a mão no interior das casas. No passeio que dou pelas ruas adjacentes à casa de meu primo, escuto o canto dos moazan chamando os fiéis para as orações. Dura uns três minutos. É muito legal. Me sinto fora de casa mesmo....que legal!! Gralhas e corvos voam entre as árvores. Os homens me encaram curiosos, alguns tentam se aproximar mas desistem quando finjo que não os percebo. Escuto gracejos em urdu, a língua oficial do país. À tarde, o pessoal da agência me busca na casa de meu primo pra me levar até o Alpine Club Pakistan, entidade credenciada pelo Ministério do Turismo, a conceder o briefing, tanto para escalada quanto para trekking. Sou recebida pelo secretário da entidade, um senhor de barbas brancas que, após uma breve digressão sobre os malefícios do lixo deixado ao longo das trilhas, me entrega vários folhetos turísticos. Tudo muito rápido e sem grandes complicações. Meu inglês, apesar de fraquinho, dá pro gasto. No dia seguinte, terça-feira, depois de dormir 16 horas - deitei às 22:30 e acordei às 14:30 - acordo justo na hora do almoço. Provo o delicioso samosa, um bolinho feito de massa folhada finíssima, recheado com batata, legumes, carne ou frango. Passamos o dia em casa, nós três, meu primo, sua mulher, Renata, e eu, conversando. Lá pelas tantas os dois somem. Intrigada, me pergunto onde se enfiou o casal. Quando retornam, o mistério se esclarece pela cara de gatos satisfeitos dos dois: estavam no quarto. Afinal, ainda, estão em lua de mel! Na quarta-feira, acordo cedo com o barulho da chuva. A época das monções se aproxima. O céu continua encoberto e o calor está pegando. Vou à agência conversar sobre os preparativos do trek com Tahir, um homem calmo que adora o que faz. Ele me explica que, como a temporada de turismo está fraca, em decorrência de a situação política não ser lá das mais tranqüilas, serei a única turista a fazer a caminhada de 12 dias. Sou apresentada a Ali, meu guia. Moreno e magrinho, ele se mostra curioso sobre se gosto de bebidas alcoólicas. “Do you drink whisky? Meio receosa porque sei que os mulçumanos não aprovam o tragoléu, respondo, cautelosamente: “É...uma tacinha de vinho (que mentira!) quando chego em casa após o serviço”. Vejo seus olhos brilharem. Ele dá a entender que gosta do destilado. Após, peço que Mr. Baig me leve numa casa de câmbio onde troco dólares por rúpias. Guardas fortemente armados na porta do estabelecimento. Ai, ai, ai.... Saio de lá o mais rápido que posso. Vendedores ambulantes, nas calçadas, oferecem enormes pêssegos aveludados, mangas, cerejas, maçãs, melancias e melões. Não resisto e digo a ele que estacione o carro: compro 6 pêssegos e 3 mangas. Quando chego em casa, peço a Zulekha, a empregada, para fazer uma salada de frutas. Ela enverga a roupa tradicional: shalwar, qameez e chadar (tanto os homens quanto as mulheres usam o mesmo traje, uma calça comprida e uma bata que vai até a altura da canela. A diferença está na cor, o traje masculino é de uma única tonalidade: branco, bege ou azul claro; o feminino é colorido, exceto aquele usado por famílias mais severas cuja cor adotada é o preto). Alta, magra, porte elegante, 45 anos, Zulekha usa o cabelo trançado até a cintura. Fala toscamente o inglês. Embora não entenda patavina de português, curte ficar escutando nosso conversê, sentada, também, na sala, enquanto se abana majestosamente com um leque. Minha prima aponta pra ela e faz uma cara de desagrado. Eu rio, feliz, tão bom estar fora de casa!!

2 comentários:

Anônimo disse...

I'm thankful with your blog it is very useful to me.

Anônimo disse...

Katon, Goukakyu no jutsu.