Pretendo com este blog descrever viagens que fiz e farei por este tão lindo planeta, resgatando da memória as impressões armazenadas, algumas já esmaecidas pelo tempo, outras prudentemente registradas pelo olho mágico das lembranças fotográficas.
domingo, 11 de agosto de 2013
Regressando a Ciudad Blanca
Deixo Portinho na madrugada dum sábado chuvoso. Com breve parada em Guarulhos pra troca de aeronave, toca
pra Lima onde mais uma vez outra conexão (oh, não!!). Meu destino?
Arequipa, por supuesto! Em Lima, um brevíssimo encontro com Sergio,proprietário duma agência em Huaraz, por mim contratada há um par de anos atrás quando fiz a Cordilheira Huayhuash. Um mês antes da viagem, enviei email, pedindo-lhe que se encarregasse do meu roteiro. Como é comum em todo o Peru, dois
cães da Polícia Nacional farejam as bagagens quando desembarco em Arequipa. Pra
minha surpresa, no desembarque nem sinal do cara que estaria a minha espera com a tal placa com meu
nome. Em sendo assim, não tenho outra alternativa senão pegar um
táxi, ordenando ao motora que me conduza ao hotel. Situado na traseira do Monastério Santa Catalina, eis-me hospedada no coração do centro histórico da cidade. Assim que chego, telefono pra Sergio já meio puta da cara. Pouco depois, surge Ivan, dono duma agência na cidade, a quem Sergio, como é usual nesse ramo de negócio, transferira responsabilidade na execução dos passeios. Tentando justificar o injustificável (a
ausência de alguém no aeroporto),corto sua explicação com certa rispidez.
Acabamos nos acertando ao cabo de certo tempo, até porque estou de sangue doce e meu espírito belicoso tá de férias também. Como o trek ao Colca só iniciará na
segunda, combino um passeio de bici pro dia seguinte. Pedal domingueiro, em qualquer lugar, é
tudo de bom, ainda mais aqui em Arequipa cuja altitude - 2.300 m acima do
nível do mar - é o desafio. Ah.....essa Arequipa! Uma pedrinha nas minhas botas que vem de longe magoando um de meus pés. O que aconteceu foi o seguinte: em
2005, estreei no montanhismo, percorrendo, em 4 dias, a famosa trilha até Machu
Picchu. Terminada a pernada, o plano era conhecer Arequipa, visitar o canyon
Colca, dar uma passadinha em San Pedro do Atacama, terminando a viagem em
Santiago, curtindo um bom hotel 4 stars. Dei, entretanto, um baita azar!! Fui
premiada com a tal síndrome do piriforme. Pra quem não sabe, trata-se duma
inflamação no nervo ciático. As dores são excruciantes. Resultado: minha viagem foi na cama dum hotel em Arequipa onde
permaneci durante 8 dias deitada, vendo 24 horas por dia na TV, programas de
culinária peruana, mexicana e chilena. Meu espanhol, diga-se de passagem, melhorou consideravelmente. Entretanto, a dor na bunda e na perna esquerda era
tanta que não suportava ficar sentada nenhum minuto. O seguro de saúde só
liberou meu retorno ao Brasil quando o médico arequipenho me deu alta. E de
1ª classe, na saudosa Varig, regressei pra casa. Primeira e última vez que
usufruí tal benefício. Os anos se passaram, outras viagens realizei, mas a
frustração de não ter conhecido Arequipa, como desejara, volta e meia me
azucrinava. Não deu outra, este ano, aproveitando 10 dias de férias que ainda me
restavam de 2012, resolvi regressar à Ciudad
Blanca, como é conhecida a segunda maior cidade peruana, situada ao sul do país. Esta denominação
deve-se à coloração clara de muitas de suas igrejas e casas, construídas com
pedra de cantaria, aqui conhecidas como sillar. Terminado os acertos burocráticos
com Ivan sobre meu tour, trato de dar um pequeno rolê pelas redondezas. Lembro que, em
2005, já sentindo bastante dor, no terraço dum restaurante, situado na encantadora viela entre as calles Santa Catalina e San Francisco, provei
pela primeira vez ceviche. Curiosa, gosto sempre de experimentar pratos típicos. Escolho na Plaza de Armas um dos diversos restaurantes que ali se oferecem. Peço, é claro, ceviche misto. De bebida, una copa de pisco
sour! Uma decepção o ceviche: moluscos duros e sabendo excessivamente a limão. O pisco? Razoável. Como sou, às vezes, meio-poliana, trato de
me consolar curtindo o visual feericamente iluminado que se tem da Catedral e
da Plaza de Armas. Os restaurantes, localizados sobre as arcadas dos edifícios
que circundam a praça, também exibem profusa iluminação. Impera no quadrilátero um eterno ar
natalino! Os arequipenhos curtem, alegres, a noite de sábado, inundando de risos e conversê as ruas. Eu, no entanto, bem mal dormida, acordada desde as 4 da manhã, tendo viajado mais de 10 horas espremida numa poltrona da classe econômica, retorno ao hotel vencida pelo cansaço. Durmo
com a TV ligada em programas de culinária, por supuesto!
No domingo,
acordo assanhada porque o progama é um pedal na cidade. Será um rolê de aproximadamente 20 km, percorrendo
alguns distritos – os nossos bairros - emblemáticos da cidade. Conheço, então, o bem cuidado distrito de Selva Alegre e seu parque. Após uma suave
subida, deixa-se pra trás o asfalto e segue-se por uma estreita estradinha de
chão batido até o Mirador de Carmen Alto. Atrolhado de carros e ônibus com turistas,
o local oferece uma panorâmica dos vulcões Chachani e Misti. A única
coisa boa do lugar é que nãohá – graças a deus - a maldita interferência dos
fios de eletricidade que sujam a paisagem do centro da cidade. Do Mirador, voltamos
ao asfalto e seguimos até o Santuário da Virgem de Chapi, padroeira de Arequipa. Situado no vale de
Chilina, às margens do rio Chili, no local, pratica-se rafting e escalada. Turistas
e arequipenhos mostram suas habilidades no paredão de arenito cuja maior graduação
alcança um desafiante 7B. Em dois botes de borracha, outra leva de turistas
pratica rafting no rio que, nessa época do ano, de tímidas chuvas, não ultrapassa
o nível 3. Dia supimpa, calor de 23º C, sem nuvem alguma no céu, o que evidencia o gostoso clima seco, tipo semi-árido da região. Com fome – já são 13 horas - peço a
Adrian, meu guia, que me leve a uma picanteria onde são preparadas comidas
típicas. Dirigimo-nos pois aodistrito de Cayma, pedalando ao longo da larga avenida
dividida ao meio por canteiros arborizados. Sinto vontade de cantar a plenos
pulmões, tão contente estou! Entramos no Pataccala, restaurante popular, famoso pelos bons preços e
fartura de comida. O espaço, embora simples, é simpático e limpo. A garçonete, uma mocinha, risonha e gentil. Sentamos ao
ar livre curtindo as esverdeadas águas do rio Chili. Dessa vez, além do Misti e
do Chachani, posso apreciar ainda o Pichu Pichu, localizado à direita do
Misti. Reza alenda que este vulcão por ser o guardião de Arequipa é considerado o
vulcão mais importante da região embora não seja o maior nem o mais difícil de
ascender. Do interior da casa, ouve-se um rádio tocando uma música criolla, interpretada
pela tradicionalíssima cantante limenha Carmencita Lara. Particularmente, acho a música peruana bem chata, com muita lamúria sobre desamores e traições. Melhor voltar à comida, que é bem melhor. De entrada, oferecem, em todos os lugares, um potinho com graúdos grãos de milho torrados com um pouco de sal. Peço uma jarra de chicha, uma bebida
fermentada do milho cuja coloração é vermelha. Do menu, escolho um Americano, mais PF impossível. Acomodados no prato, rocoto relleno (pimentão recheado com pedaços de carne), pastel de papas (rodelas
de batatas dispostas em camadas, cobertas por fatias dequeijo), chancho (porco), cuja pele exibe-se dourada e crocante, e um soltero de cuchicara (cebola
roxa, cenouras, abas e fatias finas de porco, temperados com limão. À parte, uma salada
de tomates com batatas. Gostosa barbárie de comida, embora pesada, tanto que
nem consegui terminá-la tampouco jantar à noite. Retomamos o pedal, dirigindo-nos
ao distrito de Janahuara pra conhecer seu famoso Mirador. Exibindo arcos
redondos de sillar e, convenientemente situado no topo de uma colina, oferece uma ampla vista da cidade e, claro, a imagem do sempre onipresente
vulcão Misti. Em frente à praça, o templo de San Juan Bautista,
datado de 1750, cuja frontaria é caprichosamente esculpida, também, em pedra
sillar. No regresso ao hotel, pedalamos por um trecho do distrito de São Lazaro, o bairro mais
antigo da cidade, com ruas estreitas e vasos de gerâneos pendurados nos muros e
peitoris das casas. Adorável meu dia. Embora não tenha tomado banho, dormi de alma lavada....hehe
Um comentário:
Se você é meio Polyana, eu sou totalmente! Hehehehe!
Alegre com seu lindo passeio!
Lindíssimas paisagens peruanas!
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