Saímos
de Sangalle às 05 e 30 da manhã. Acompanham-nos Bliss e Fionnuala. Seu guia combinou de
deixar a vila às 4 e 30 e as gurias quando souberam que nós sairíamos às 5 e
30, pediram pra ir conoco! Ainda escuro, ligo a lanterna de testa. Decorridos
40 minutos,
desnecessário seu uso, já que a claridade da manhã se impôs. Fionnuala
tão falante, ontem à noite, mantém-se quase muda durante a caminhada. Ah,
nada como um tragoléu pra soltar a língua das pessoas e day after voltar a
emudecê-las, hehe. Já Bliss mantém seu sorriso cheio de dentes. A trilha que, ontem, vista à distância
tanto temor me inspirou, hoje não é tudo aquilo que eu
imaginara. Essas perspectivas enganadoras...tsk tsk tsk! Não dá pra considerá-la fácil, afinal se trata dum desnível de 1.000 metros de ininterrupto
ascenso, mas difícil não é. Sem maiores dificuldades técnicas, o bem marcado caminho
exibe em seu lado direito o lindo visual do canyon onde se vêem, próximas uma da outra, as vilas de Malata e Cosñirhua, situadas no paredão oposto. Passam por
nós alguns turistas montados em mulas. A subida
deve tê-los amendrontados
ou, então, mais provável, estão com as pernas esbagaçadas da descida de
Cabanaconde a Sangalle. Encontro um grupo de brasileiros. Um deles, um gordão,
enrolado na bandeira nacional, botando os bofes pela boca, só sabe dizer que
está fudido, apontando pras pernas. Indago o óbvio ululante: “mas cara, por que
tu não contratou uma mula?” E o gorducho,
bem humorado (dificilmente um gordo não é bem humorado ou metido a
engraçadinho....por que será?), responde que as mulas só aguentam até 80 kg,
peso que ele tem em dobro, hahahaha!!! Hilária a situação do gordo, tadinho!
A
garotada está viajando pela América do Sul com a intenção de fazer um
documentário tipo reality show pra tentar vendê-lo a um canal fechado de TV
quando retornarem ao Brasil. Numa das tantas dobras da trilha, curtindo um rock transmitido por um aparelhinho de som, um casal, com ar cansado, sentado no chão,
recupera as energias da íngreme subida. Em 2 horas e 50 minutos - poderia ter
feito em menos tempos, mas paro toda hora pra fotografar e filmar – alcançamos o
topo após 4 km de percurso. Ali, dezenas de jovens, felizes e orgulhosos de sua
façanha, descansam após o cansativo ascenso. Mais uma caminhadinha de hora e meia até Cabanaconde onde desayunamos enquanto esperamos a van que nos levará de volta a Arequipa. Embora
sempre seja servido o mesmo desayuno - chá, geleia de morango, manteiga e pão –
como com gosto, até porque é muito gostosa a singela refeição. Embarcamos na
van onde já se encontra acomodado um bando de adolescentes franceses, todos magros e nada simpáticos.
Em Maca, na rua principal, mulheres apregoam a sempre usual parafernália de produtos
típicos: mantas, casacos, gorros e bonecas. Num poste, amarrados com um cordão, uma lhama
e um gavião são alugados aos cliques fotográficos dos turistas em troca de
alguns soles. Vejo uma sorridente Bliss com a ave pousada no ombro sendo
fotografada por Fionnuala, hehehe. Quase caio na tentação de fazer o mesmo mas devido
ao pouco tempo que o guia nos deu prefiro visitar a linda igreja pintada de
cal, com o átrio murado! Curto demais fazer os 3 pedidos a que se tem direito
quando se entra num templo pela primeira vez. Na rua ao lado da igreja, uma festa
com banda e dançarinos usando máscaras de árabes está iniciando. Alguns homens
fazem uma rodinha e se põem a dançar. Moças, exibindo lindos trajes típicos caprichosamente bordados, sentam-se à beira da calçada, bebendo refrigerante. Lamento não poder ficar porém a van
já está quase partindo. Descemos rapidamente num mirador donde se avistam o nevado
Quehuisha e, no vale abaixo, a vila de Madrigal. No fundão duma
garganta, uma mina de prata abandonada. A próxima parada é Yanque onde curtimos
deliciosas piscinas de águas termais. As melhores do trek, sem sombra de
dúvida! Sem semelhança com as de Llhuar e Sangalle, são feitas de
pedras, bem rudimentares. Relaxo feliz da vida nas cálidas águas. Em frente,
dois vestiários feitos de carrizo com 2 chuveiros pra quem quiser tomar uma ducha,
dessa feita usando sabonete. Rumamos então para Chivay onde almoçamos no mesmo restaurante
onde desaiunamos há 5 dias atrás, quando o trekking teve início. O bufê do Sumac
Wasi oferece diversos pratos típicos e custa 25 soles. Tão sumpimpa a refeição,
que repeti 3 vezes!! Chego em Arequipa às 17 e 30. Cansada, saio e
compro salteñas
(prefiro às empanadas) mais uma tortinha de morango. Levo tudo pro hotel. Pego, então, um copo de chá na recepção e subo pro meu quarto. Muito a organizar já que daqui a 2 dias enfrento outro trekking. E no maior vulcão da cordilheira vulcânica, o Chachani, com 6.057 m. O objetivo é alcançar sua cumbre. Vamos ver no que dá! Qual não é minha surpresa quando abro o Face e dou de cara com o alegre convite de Vevê Mambrini, jornalista paulista, anunciando que está também em Arequipa. "Simbora tomar uma cerveja?" Pergunto onde ela se encontra mas fico sem resposta. Deve estar em algum lugar onde não há wifi....que pena! Mas desencano rapidinho. Estou deveras cansada e minha pilha não ia durar muito. Melhor dormir e descansar pra amanhã estar 100% reenergizada!
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Um comentário:
Esse "gostinho de quero mais" é recorrente, não é mesmo minha amiga? Geralmente voltamos desses lugares energizados e incrivelmente hipnotizados pelas belezas que vivenciamos.
Quando eu retorno das andanças nas montanhas fico a enxergá-las durante muito tempo ainda....
Fico impregnada de natureza!
Muito linda a sua viagem!
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