sábado, 31 de dezembro de 2011

No reino de Joia!

Choveu a noite inteira e ainda chove agora de manhã motivo por que todos continuam em suas “camas” até 10 horas! Ah.....dia chuvoso rima com preguiçoso, pois favorece demais a indolência. Como a pernada do dia é de pouca monta, continuamos deitados um bom tempo mesmo após acordar. Próxima de Carol e André - meu saco de dormir está colado à barraca do casal – tagarelo ora com um ora com outro. Sou irritantemente animada desde que acordo. De Dmitri, com a cabeça coberta inteiramente pelo saco de dormir, Marcelo e Vini não se ouve um pio sequer. Tem importância, não! Falo pelos três, sem esforço algum. Fazer as despesas da conversa é comigo mesma, hehe. O mingau de aveia, no desjejum, é tudo de bom ainda mais quando acompanhado com salada de frutas, mel, canela e granola. É uma bomba energética que enche a pancinha por horas e horas!! Sem pressa, todos arrumam suas mochilas, sabedores de que o dia vai ser light. Depois duma última olhada pra ver se nada foi esquecido, nos despedimos da toca e seguimos em frente porque atrás vem gente. Gente que nem se percebe, por supuesto! Assim, um séquito curioso de seres pertencentes a outras dimensões nos seguem. Duendes....gnomos....quem sabe? O que os olhos não vêem, o coração sente, não é mesmo? O leito do Guariba espuma e transborda de tão cheio, tomando conta, por completo, das margens suas turbulentas águas. Sem uma nesga de terra seca pra se caminhar, tendo de lidar com uma puta duma correnteza, mais a temível possibilidade do surgimento duma tromba d’água que, com certeza, nos levaria de roldão rio abaixo, a travessura do dia – adentrar as entranhas do Guariba - resta abortada. Fico chateada, é claro, mas me consolo por ter conhecido sua magnífica embocadura, que se prolonga ao longo da estreita e escura garganta, sinalizada pelos grandiosos paredões rochosos. Pensando bem, presenciar as forças indomáveis da natureza, materializadas no chuvaral que transformou o leito pacífico do Guariba nesse caudal frenético, não tem preço! E deixo correr solta, através da minha imaginação, a descrição feita por Dmitri do interior desse pequeno e charmoso canyon. De como se alarga, depois de 3 horas de caminhada leito acima, revelando um cachoeirão que despenca pelo seu paredão direito, retomando, novamente, sua vocação estreita. É....vou ter de regressar!! Quero checar com meus próprios olhos o cenário descrito por Dmitri. Reunidos à beira do Guariba, traçamos uma estratégia pra atravessar um curto trecho do rio onde não há outro jeito senão o de entrar em suas águas e peitar a turbulenta correnteza. Assim, necessário se faz contornar o gigantesco pilar esquerdo, um dos dois guardiões da boca do Guariba, a fim de alcançar a trilha que nos conduzirá, então, à pousada onde iremos pernoitar. Ultrapassado o crux do dia, molhados que nem peixes, penetramos na exuberante mata de galeria, úmida e sombria, percorrendo o carreiro aberto desde tempos imemoriais, quiçá, por bandeirantes e escravos fujões. Pontuada por arroios e pequenas cascatinhas, com pedras cobertas de limo cuja textura aveludada agrada tanto ao tato, a trilha revela insetos coloridos e joaninhas pousadas nas folhas dos arbustos. Não dá outra, paro para clicá-los. Sem maiores complicações, exceto alguns vara-matos que surgem pra embaraçar o caminho – cá entre nós, um perrenguinho até que é bom, hein? - a trilha é tri fácil, exigindo nem esforço físico sequer muita atenção. A coloração do Pati, em certos trechos, é despudoradamente linda! A tonalidade de topázio amarelo-avermelhado de suas águas cria um contraste espetacular com o verde da vegetação. Perto de nosso destino, visualizo com nitidez, à esquerda de quem sobe o Pati, os paredões das serras da Cotiguiba e do Sobradinho, fazendo-lhes frente a muralha rochosa da serra do Ramalho. Ali foi escavada a ladeira do Império, única via de acesso à Andaraí. Acalorados, resolvemos nos refrescar num dos inúmeros e encantadores poços que o Pati tem a oferecer. Claro está que aproveitamos a pausa e dale a mastigar qualquer coisa. Nem que sejam barras de cereais, hehe. Ao que me consta, ninguém tem vocação pra virar faquir! Às 4 da tarde, aportamos no terreiro da casa de seu Jóia, proprietário da pousada do Império, nossa querência durante 2 dias. Infelizmente, a figura mais o filho foram curtir o réveillon em Andaraí, deixando Dª Edileuza como única anfitriã. E a esposa de seu Jóia, uma magrinha de cara enfezada, tá com aqueles beiços!! Também pudera, né?! Conheço, enfim, a tão falada Sara, sempre na ponta da língua de Dmitri. A soteropolitana, dona de olhos verdes e fala mansa, veio ao encontro de seu namorado pra com ele festejar o ano novo. Dmitri não cabe em si de contente ao rever sua bem-amada. Nossa pousada é uma singela casa de alvenaria com 5 ou 6 quartos e dois banheiros. Luz elétrica? Faz-me rir!! Na casa de seu Joia, o acesso ao fogão a lenha é liberado aos guias. Assim, ali, podem eles cozinhar as refeições de seus clientes trocando ideias com os donos da casa. Dmitri some de nossas vistas e Sara informa que ele está preparando nossa ceia. Com jeito, já que Dª Edileuza continua de cara amarrada, assunto se não tem ela, por ventura, em algum cantinho de sua casa, uma pinguinha dando sopa. Ela some dentro de casa e me entrega ½ garrafa de Abaíra. Eita mulher de fé!! Com limões colhidos diretos dos galhos de um dos vários limoeiros plantados ao redor da pousada, faço aquela caipirinha, drinque em que, modéstia, à parte, sou especialista. E bem na hora do ângelus, abrimos os trabalhos, brindando, solenemente, ao último tragoléu de 2011. Sentada no terreiro, olho pro céu, constato que sua cor permanece inalterável: cinzenta desde que acordei. Pousam, vez por outra numa mangueira, saíras de diversas colorações, respingando de azul, vermelho, amarelo e verde os galhos da árvore. Depois da janta, uma suculenta lasanha à bolonhesa, ficamos bebericando um Concha y Toro ao ar livre. Que virada de ano! Fogos de artifício pra quê, se miríades de pirilampos passam aos borbotões, de lá pra cá, iluminando o breu da noite! E que venga 2012!! Estou prontita, hahaha!!

Um comentário:

Miriam Chaudon disse...

Pensei sobre isto no capítulo anterior da aventura....imagina uma tromba d'água nesse canyon! Deus me livre!!!!
E em 2012 enfim nos conhecemos!
Beijos amiga!