segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Pico do Itobira

Hoje tem início o trek de 3 dias que farei pra conhecer os outros 2 picos mais altos da Bahia. Assim, despeço-me de Ninha e Anfilófio, conhecido como Filó, dono da pousada Rio de Contas. Mais uma vez a valorosa Rural percorre a estrada que leva a Mato Grosso, quebrando, entretanto, à esquerda em direção à Fazendola, vilarejo com meia dúzia de casas de adobe por onde passamos. Em Kaiombola, outra vilazinha cujos moradores pertencem a uma mesma família, Ed deixa o carro com seu irmão que levará o veículo até Catolés de Cima ponto final de nossa caminhada. Aliás Ed é casado com um membro do clã, a jovem Adriana com quem tem uma filha, Sara, um bebê de 6 meses.  Às 10 e 45 tem início a pernada. O dia bem ensolarado permite que já se aviste nitidamente o Pico Itobira. Após uma subida bem áspera – ainda bem que são só 20 minutos - num costão de pura pedra, vislumbra-se o vale do Camburu lá embaixo e a frente o pico surge mostrando uma face arredondada. Nossa direção é norte e nos encontramos a uma altitude de 1.940 m. O dia lindo, calorzão manero, céu azul com fofésimas nuvens brancas espalhadas ao léu, aqui e acolá. Depois da subida cascuda, uma descida duns 15 minutos até um riacho onde paramos brevemente pra recuperar o fôlego. Campos de microliceas rosadas duns 2 metros de altura compensam uma outra subida por uma trilha que conduz até a base da parede. Deixamos nossas mochilas amoitadas. Pra que levar peso se vamos voltar pelo mesmo caminho, não é mesmo? Mais uma subida, of course, porque afinal, vamos conhecer o topo do Itobira. Subida gostosa com algumas pequenas escalaminhadas até o cume cuja vegetação é diferente da do Pico das Almas e muito mais interessante. Muitas plantas que em não sendo flores lembram rosas embora sua coloração seja verde. Microliceas amarelas, calhandras brancas, orquídeas, enfim, uma variedade de flores estupendas. Pra se alcançar o topo, uma rocha que se eleva a 4 m do solo, uma pequena escalada é necessária. Ed me dá uma ajuda e eis eu lá em cima desfrutando aquele cenário com Rio de Contas ao sul, Pico das Almas a oeste e Barbados ao norte, sem contar uma infinidade doutras elevações como o lindo morro do Silvanos que se esparrama diante de meus olhos. Um cercado de pedras com uma forma ovalada evidencia que por aqui os Imutáveis (uma galera que curte esoterismo e sobe os picos vestidos de branco) vêm celebrar seus rituais. Descemos do topo e temos pela frente uma boa duma subida seguida duma descida até um córrego. À medida que vamos rodeando o Itobira vou visualizando suas diversas faces: a redondez da face oeste lembra um panetone, já quem se encontra em Rio de Contas avista-o com uma feição pontuda. A leste, novamente vejo Itobira arredondado mas não como um bloco único pero fracionado em duas elevações; por fim, a cara nordeste mostra um super paredão dominando a paisagem. Lindo demais esse ângulo do Itobira! Os indefectíveis pepalantos pontuam de branco a trilha. Não sou partidária de escutar música enquanto caminho, prefiro mil vezes ter como trilha sonora o gorgeio de pássaros e o barulhinho bom da água dos riachos escorrendo por seus pedregosos leitos. Ah, e claro o zumbido dos famigerados pernilongos que zunem ao redor de meu corpo. Num córrego onde paramos pra encher os cantis, Ed me avisa que tem uma jararaca atrás de mim. E a danada tá mirando minha bunda, uai. Subidas e descidas em terreno pedregoso se sucedem alternadamente. Pra finalizar pernada tão gostosa, após o último aclive do dia, bem curto, eis a Lapa das Mutucas ou das Taquaras, lugar onde pernoitaremos. Ainda é dia claro porque nem 18 horas são. Até que caminhamos bem, considerando que a distância percorrida é de mais ou menos 15 km. Resolvemos nem armar as barracas, estendendo sobre a palha que se encontra no chão da gruta nossos sacos de dormir. Ed acende fogo num improvisado fogão de pedra já existente, feito provavelmente pelos Imutáveis, onde aquece uma sopa de pacote cujo acompanhamento são bolachas salgadas porque o querido guia se esqueceu de trazer pão. “Luxuosíssima” ceia, hehe!! À noite, o tac tac dos besouros batendo suas asas e as estrelas brilhando na boca da lapa embalam meu sono. Um mocó passa perto donde estamos deitados quebrando o silêncio da gruta. Apesar de Ed ter ligado a lanterna não consegue dar um flagra no bicho...que pena!

Um comentário:

Nandinha disse...

Olá quanto tempo vc gastou até a base do pico?