quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Ponte de Pedra

Para alcançar a Ponte de Pedra, sobe-se em meio a uma mata de galeria forrada de folhas secas. Há que se tomar cuidado na volta, ao descer, porque as folhas tornam o caminho pra lá de escorregadio, perigando se levar um belo dum tombo. Entretanto, no meio de tanta beleza, as queimadas não pouparam também este belo recanto do cerrado: no chão fofo de cinzas, fumegando aqui e ali, diversos troncos de árvores, ainda em brasa, são as cicatrizes deixadas pela ação deletéria do fogo. Após a subida, me deparo com um platô adornado por belas formações rochosas de cor escura em contraste com o solo de areia branca pontilhado de quartzito. Após uma curta descida surge a Ponte: um ma-ra-vi-lho-so arco de pedra de 30 metros de altura sobre o rio São Domingos. Um trabalho de erosão fluvial construído ao longo de milhões de ano e que deverá tomar outra forma daqui a tantos outros. Reflito com meus botões que a natureza é uma escultora sem pressa alguma pra terminar seus temas. Pensando bem, ela nunca os dá por encerrados. Mergulho no poço situado abaixo deste magnífico monumento banhando-me em suas águas claras e refrescantes. Descansados, Jair e eu subimos, novamente, atravessando um corredor de rochas irregulares que conduz ao alto da Ponte. Venta muito, lembro de Porto Alegre e da Patagônia argentina. Lá de cima, posso admirar as belas escarpas da serra de Santana e também do vão do Paranã. A extensa língua de fumaça denuncia a queimada mais além. Porra, gente, merda nojenta esse fogo, não dá trégua nunca! Abaixo, o rio São Domingos atravessa uma garganta que se estende em direção ao Parque. Na margem oposta à que nos encontramos, há uma cachoeira formando dois grandes degraus e um poço em cada um deles. A primeira queda, calculo, deve ser de 30 metros, a segunda talvez ultrapasse os 50 metros de altura. Aiaiaiai....que vontade de fazer um rappel nelas!! No retorno a Cavalcante, Jair, a meu pedido, põe um cd de Nelson Nascimento que se autointitula o “Rei da Pizadinha”. Trata-se de um novo jeito de dançar o forró com letras contendo duplos sentidos pra lá de maliciosas. Mais uma vez paramos no bar da Helia pra tomarmos nossa já tradicional pinga. Batizo este momento de "happy hour cavalcantense". Como chego cedo na pousada, ainda nem são 4 da tarde, vou explorar a trilha que leva à cachoeira do Rio São Bartolomeu e enveredo pela mais longa (há outra mais curta de apenas 30 minutos) chamada trilha do ouro com duração de uma hora e trinta minutos. As araras passam em par confirmando sua vocação de mútua fidelidade. O silêncio, vez por outra, é interrompido pelo grasnar barulhento das aves. Alcanço o belo Poço do Buriti, que antecede à queda d’água, assim chamado porque em uma de suas margens destaca-se, solitário, este belo exemplar de palmeira. Tomo mais um banho, o enésimo do dia, coisa boa! Apesar de ser meu último dia em Cavalcante, me consolo: retorno - graças a deus - não pra casa, mas a Alto Paraíso onde vou ficar mais uns dias. Coisa boa estão saindo estas minhas férias!

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