Na segunda-feira, tiro o dia pra descansar. Fico na cama lendo o último livro da Danusa Leão, uma narrativa sobre viagens a algumas cidades européias. A prosa da capixaba é leve, bem humorada. Ademais, fornece dicas de lugares que fogem do circuito convencional. É tudo do que preciso pra desopilar. Em torno das 9, levanto e vou pro refeitório. Bebo um copo de leite e descasco uma banana. Mariazinha, na cozinha, junto com sua ajudante Bia, outra xará (ultimamente, tenho conhecido tantas Beatriz!), prepara sei lá o quê no fogão pro almoço. Aliás, quando se encontra na pousada, está sempre às voltas com as panelas porque, cozinheira ciumenta que é, não admite intromissões em seu reino. Arrisquei uma vez e nunca mais, depois que vi sua cara feia me fuzilando com os olhos....eu hein?! Vá lá que resolva botar veneno na minha comida, né? Ficamos batendo papo e dando risada de bobagens Vez por outra trocamos pequenas alfinetadas, nos deleitando quando alguém, que não nos conhece, leva a sério esse jeito falsamente inamistoso de nos relacionarmos. Curtimos demais representar esse teatrinho! E assim continuamos na boa até a hora do almoço. Terminada a refeição, vou pra cabana descansar, assisto um pouco de tevê e depois vou visitar Kaloca percorrendo a pé os 2 km que separam sua casa da pousada. Durante a caminhada, paro pra fotograr flores e curto o vôo de um bando de gralhas voando no céu. Encontro meu guia saindo. Pego uma carona com ele e lá vamos nós em sua motoca até Praia Grande. Procuro uma loja que venda revistas mas nada encontro. Pergunto a uma vendedora como o povo daqui faz quando quer comprar alguma. Responde que as pessoas ou têm assinatura ou então vão a Torres comprá-las. Aproveito e visito Inês, uma conhecida, dona dum restaurante, já que me restam 30 minutos antes de encontrar Kaloca, na praça, às 15:30. Retornamos à sua casa e lá fico batendo papo com ele mais um pouco na sede da Aparados. Retorno a pé pra pousada e vou ao refeitório bebericar minha tradicional cachacinha de ervas enquanto aguardo o horário da janta. Durante a refeição, os dois guris de Rio do Sul contam que irão rapelar a mesma seqüência de cachus que eu descera no Rapel do Café, sábado à tarde. Decido ir junto também. Pouco importa se já as fizera há dois dias atrás. Quanto mais pratico mais experiência adquiro. Na manhã seguinte, pego uma carona com eles de carro até a Aparados. Kaloca está com um amigo, Marcolino, e os dois seguem de moto na frente. O pai dos guris resolveu também fazer os rapeis e quando chegamos no café do Valmor, pegamos a trilha em direção até a oitava cachoeira. Já na subida, um pouco íngreme, o guri de 16 anos, que largara na frente igual a um potrinho marrento, começa a dar sinal de cansado e logo logo fica pra trás. Bufando nos alcança e reclama um pouco. Comento que não dá pra gente acompanhar o ritmo de Kaloca e Marcolino porque eles têm muito preparo físico (o guri tentara por isso está botando os bofes pela boca). Chegando na oitava cachoeira, com 37 m, desço primeiro e lá de baixo fico observando a rapelagem dos três. O guri é o primeiro. Percebo pelo jeito como posiciona as pernas e segura a corda com o braço direito, um pouco de medo, natural pra quem faz rapel pela primeira vez. Contudo, partindo dele que já houvera praticado um pouco dessa técnica, ainda que em parede de cimento, somada à sua atitude um tanto quanto presunçosa, quando dera a entender que tiraria de letra rapeis em cachoeira, eu estranho. Na segunda cachoeira, uma rampa suave, descemos sem quaisquer dificuldades. Até criança tira de letra essa cachu! Quando alcançamos a Sinistra com seus 47 m, percebo que o guri já está começando a sentir o cutuco. Ele, que, até então, não manifestara vontade de ser o primeiro, se escala pra ir na frente. Bem típico de quem está levando medo. Ele custa pra entrar na posição de rapel e mais ainda pra descer os primeiros metros da cachu, revelando com isso seu temor. E nas duas cachoeiras restantes, tenho oportunidade de confirmar que a presunção inicial, manifestada pelo garoto, escoou água abaixo, literalmente. E não resisto a um comentário levemente provocante: “bem diferente de fazer rapel em parede, né? Ele, embora mais humilde, ainda não dá o braço a torcer, lançando leves muxoxos de pouco caso. Seu pai e irmão que, em nenhum momento se jactaram, desceram bem mais tranqüilos porque não se furtaram a demonstrar seus temores. Pois é, eu não disse que ainda pegava ele? Hehehehe.
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