sexta-feira, 10 de abril de 2009

Isabeloca e Castelos do Açu

Chego na praça, em frente à igreja São Francisco Xavier, na Tijuca, às 5:15. O grupo, de 16 pessoas, incluídos os dois guias, Sylvio e Marcos, já lá se encontram. O trekking iniciará em Petrópolis e terminará em Teresopólis, considerando que a travessia nesse sentido proporciona uma visualização frontal das montanhas e picos da região. Em Corrêas, distrito da cidade, escolhida por D. Pedro II, pra veranear com sua corte, descemos pro desjejum; afinal ninguém conseguira tomar café tendo de acordar às 4:30 da madruga. Peço algo bem tradicionalmente carioca: média e pãozinho francês tostado na chapa com queijo de Minas. Após a refeição, rumamos em direção à portaria do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, localizada no bairro do Bom Fim. O percurso, nesse primeiro dia de trekking, é de 8 km. Iniciamos a trilha às 8:30. Estou cheia de expectativas. Sei, pelo que li na internete, que é percurso difícil embora só perfaça 27 km. Fazemos uma parada após 40 minutos de caminhada. Um homem, que regula de idade comigo, desiste. Não adiantam os apelos dos guias. Ele mostra-se irredutível. “Não vou conseguir, não quero atrapalhar.” Ao meu lado, duas mulheres, também coroas, queixam-se das mochilas pesadas. Comentam que não costumam carregar peso pois sempre contratam porteadores em suas andanças. Eu, na boa com minha mochila - pesa no máximo 4 kg - (não levo barraca porque Sylvio, em contatos via email, garantira-me acomodação na barraca dum amigo), carrego apenas saco de dormir, isolante, roupa de fleece pra dormir (já sei de antemão que faz frio durante a noite, podendo a temperatura cair pra até 2º C) e o estritamente necessário pra comer, sem frescura alguma. Nos embrenhamos mata atântica adentro, uma subida sem maiores dificuldades até a primeira parada, no morro do Queijo (1.635m). A paisagem, trilegal, tem como cenário lá embaixo o vale do Bom Fim, os morros do Alcobaça e Alicate, à direita, e uma parte de Petrópolis mais adiante. Mais uma subida e alcança-se o Ajax onde há uma fonte d’água onde reabastecemos nossos cantis. Os guias aconselham o uso de clorim (aliás, em todo o trajeto, somos obrigados a pôr esse desinfetante já que os cursos d’água não são lá dos mais confiáveis). Continua-se subindo, agora pelo morro do Açu, uma encosta íngreme pra caramba, a Isabeloca, assim chamada em homenagem à princesa Isabel, em suas caçadas pela região. Há outra versão de que a denominção do morro origina-se do nome duma escrava, xará da princesa, que fugiu dos senhores de engenho, buscando abrigo nessa região. No término da subida, a vegetação abundante, cede terreno a um lajedo pedregoso, destacando-se, tão-somente touceiras de bromélias e tufos de capim. O dia, até então, claro cede vez ao nevoeiro. As nuvens vêm e vão, deixando poucos rasgos de azul no céu. Já na crista do morro do Açu, vislumbro, surgindo entre a bruma, os imponentes Castelos do Açu (2.216m), situados no cume do morro. Trata-se de dois gigantescos blocos de granito polido, um a frente do outro, tendo mais adiante dois menores, cujo formato lembra uma tartaruga. Cheia de reentrâncias, os dois colossos rochosos formam pequenas grutas, abrigo generoso pra quem não quer levar barraca. Chama a atenção uma cruz, contruída em homenagem a alguns montanhistas, mortos numa tempestade de raios em 1992. De repente, abre-se um claro no céu, logo obnubilado por outro bando maluco de espessas nuvens. Difícil ver os Castelos de Açu desembaraçados. Ambiente espectral. Nuvens sucedem-se e novamente o céu se faz limpo. Vejo, no interior de uma das grutas, um bando de jovens. Curiosa, não resisto, vou até lá. Preparam um ranguinho pra lá de maneiro: arroz com frutos do mar. Que finos eles! Poxa, esses seguem mesmo a cartilha católica de não comer carne vermelha na sexta-feira santa. Fico com água na boca, louca pra receber um convite que – snif - não vem. Vou então, procurar meu grupo e encontro-os mais adiante, armando o acampamento. Uma parte do pessoal fica num terreno apelidado, por Marcão, de favela. A barraca, onde vou dormir, está armada num terreno mais elevado, e pertence a Vagner, um cara muito legal, desenhista de moda. Dormirá conosco, também, Flavio, um magrão de olhos fundos e penetrantes, muito na dele. Depois de muito debate, fazemos um rango comunitário. Paulo oferece arroz e Vagner, a lingüiça. O arroz, embora meio duro (castigo, talvez, por não estarmos respeitando as santas tradições católicas?), é assim mesmo devorado com certa sofreguidão...nada como a fome, né?! E começa a chover, e forte. Somos obrigados, assim, a entrar dentro da barraca. E são apenas 18 horas....droga!! Tiro meu celular e jogo Galaxy Ball até o término da bateria. Sem outra alternativa, converso com Vagner até cair no sono, fazer o quê, né?

Um comentário:

ronie disse...

finalmente, adorei!

aqui vai meu site com o album de fotografias, onde inclusive aparece voce e seu grupo...

http://roneymonte.cjb.net

beijos e ate a proxima
roney