Depois de 4 anos de preparação psicológica, e quase 2 tentando tirar a carteira de motorista, vou, finalmente, dirigindo até Praia Grande, um de meus sonhos há muito acalentado. Sem nenhum constrangimento, revelo pra vocês que tomei bomba em cinco exames de habilitação, só na sexta vez, dia 23 de dezembro, iupi hurra, consegui, finalmente, passar (de tão feliz, sapequei beijocas não só no Rafael, meu instrutor, como no atônito examinador). Foi o melhor presente de Natal ganho até hoje!! Bye Bye Unesuuullll!! Coisa boa nevermore ter de pegar o sacolejante ônibus com quinquilhões de paradas estrada afora, sem falar na preocupação constante, caso dê vontade de fazer xixi ou outra coisa, pois o veículo é sem banheiro. Saio de Porto às 7:15 e chego às 11:20 na cidade dos canyons. Paro duas vezes pra descansar, tomar cafezinho e fumar cigarrinhos, na santa paz de quem pode partir e chegar na hora que lhe dê na veneta. Minha média de velocidade não ultrapassa os 70km/h nos 242 km de percurso entre as duas cidades. Estou adorando esta nova aventura, encantada em dirigir na estrada. A sensação de liberdade enche o meu coração de alegria. Lembro várias vezes de meu pai, exímio motora, agora, habitando outra galáxia. Ele, com certeza, deve estar sentindo um baita orgulho de mim. Pode crer, velhinho, é isso aí, tá no sangue! Abro um tantinho do vidro pra deixar entrar o vento e passo a viagem toda, curtindo altos sons em meu cd player. Vez por outra arrisco uma olhadinha na bela paisagem das lagunas, abundantes nessa região. Mariazinha me espera com um feijão tropeiro. Almoçamos enquanto botamos o papo em dia. Depois que baixa a adrenalina da emoção da viagem, vou descansar um pouco antes que Kaloca venha me buscar. Vou repetir - quarta vez? - os rapeis da Magia das Águas. O dia lindo, quente, sem nuvem alguma a embaçar o azul do céu. Desisto, contudo, de fazer as duas últimas cachoeiras porque minha coxa direita recomeçou a doer. Tenho de me poupar senão a leve distensão pode resultar em algo mais sério. Combinamos então uma atividade amena pro domingo e retorno à pousada. Dia seguinte, o tempo permanece ma-ra-vi-lho-so. Kaloca surge lá pelas 9:30 em sua moto, e nos tocamos pra Pedra Branca. Vamos hoje fazer novos rapeis nessa linda montanha cuja cor, como o próprio nome indica, é esbranquiçada devido aos líquenes que a revestem. Subimos pela crista oeste (a leste, segundo palavras de Kaloca, é pra pêlo duro porque cheia de mato cerrado), uma encosta íngreme coberta de mata atlântica até o topo da Pedra. Paramos pra olhar o vale da Pedra Branca onde o rio Mampituba imprime, na paisagem, um sinuoso rastro prateado. Urubus voam ali e acolá. Nossos rapeis, desta feita, serão feitos a partir do colo que une os dois cumes deste maciço formado por pedras que, embora basálticas, são muito quebradiças. Pra chegar à Pedra Branca, segue-se por uma estradinha de chão batido passando pelas comunidades da Mãe dos Homens e Roça da Estância até alcançar a de São Roque, encravada nos fundões de Praia Grande. Na verdade, a Pedra Branca situa-se no Rio Grande do Sul já que se atravessa o rio Mampituba, divisa entre os dois estados. Apresenta o colosso rochoso duas paredes, a norte e a sul. A primeira apresenta 9 vias de escalada, a saber: Formiga (50m), Decisão (75m); Caterpillar (60m); Morcegos (90m); Xocleng (90m); Ratazana (100m); Jararaca (80m); Urubu Rei (140m); Camaleão (130m). Já a segunda, muito úmida, porque não bate muito sol, apresenta-se, quase, inteiramente, coberta por densa vegetação, o que impede a prática desse esporte. Do topo dessa Pedra, é, ainda, possível aos amantes de base jump lançar-se em proezas aéreas, aterrissando no vale. Bueno, pra chegar ao pico onde os rapeis irão começar, desço uma parede quase vertical duns 30 m. O platozinho é estreito pra caramba, e vejo, a uma altura de 600 m, o vale da Pedra Branca, à esquerda, e o canyon Josafaz, à direita. É de amedrontar a altura, pelo menos pra mim. A caro custo, chego na via, a clássica Urubu Rei (confesso, até pensei em desistir, usando como desculpa a distensão na virilha), e me posiciono. Kaloca rapela primeiro, soltando gritos animados de modo a me incentivar. Eu já mais tranqüila, inicio os procedimentos de descida. Ademais, o dia ajuda muito. Um reconfortante sol aquece meu corpo, nem sinal de vento, e aquele mundaréu de lindas pedras sequinhas bem à minha frente! É moleza, bem diferente de canionismo. Pendurada a uma altura de 400m, aprecio as chaminés escavadas entre as rochas justapostas e os belos degraus formados na parede, facilitando a escalada pra quem curte este esporte. São quatro os rapeis, num total de 100m de descida. Ancorada na rocha, entre uma cordada e outra, tenho, como apoio, apenas pequenas agarras. Arbustos floridos e bromélias nascem nos vãos das pedras. Líquenes e musgos recobrem o basalto. Muito louco o visual. Agora, já bem à vontade, dou-me ao luxo de pedir segurança a Kaloca e largo a corda pra filmar. O medo se evaporou. Chego ao final da via, lamentando o término da aventura. Uma caminhada, por uma estreita trilha na base da pedra, me deixa um pouco tensa porque se faz necessária uma pequena escalada, porém com ajuda de Kaloca supero as dificuldades. E eis nós de volta à crista oeste já descendo em direção ao vale da Pedra Branca. O sol, de final da tarde, bate em cheio nela, iluminando seu cume. Beleza pura! E finalizamos nossa indiada, chupando bergamotas, as primeiras da estação, colhidas do pé por Kaloca.
Um comentário:
Grande Bia!
Valeu pela sua visita!
Olha que legal, compartilhamos a mesma investida prazeirosa que é subir o Lascar! Que vista lá de cima hein! Vc conseguiu chegar no cume mesmo ou ficou na cratera? Muita gente para na cratera e começa a descer...
Gostei do seu blog, vou acompanha-lo sempre!
Até +
Paulo
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