Acordo cedo ao som do celular (um dos bons recursos deste aparelho é seu despertador), pois tenho de estar na agência às 7:30 já que a navegação pelo Canal Señoret e Seño Ultima Esperanza, pra visitar os glaciares Balmaceda e Serrano, iniciará às 8 horas. Um frio danado. Entre as pesadas nuvens, o sol desponta, exibindo uma coloração breve, porém, dramaticamente, avermelhada, em meio ao cinzento do céu. Partimos de Puerto Bories, situado no Canal Señoret, embarcando no lindo cutter 21 de Mayo, pintado de branco e vermelho. Seu interior está agradavelmente aquecido. Sento a uma mesa com duas viúvas setentonas, naturais de Santiago, muito simpáticas e falantes que adoram viajar. Passo uma boa parte da viagem na parte externa do barco embora rajadas de vento, bem como o próprio deslocamento do barco, levantem ondas que molham o tombadilho da embarcação. O frio é tanto que sou obrigada a usar luvas. Situados no Parque Bernard O’Higgins, ambos glaciares pendem do cerro Balmaceda e são porções do Campo de Gelo Sul. Já há muito deixamos pra trás o Canal Señoret e estamos agora singrando o Seño Ultima Esperanza. Tanto um quanto o outro fazem parte duma intrincada rede de inúmeros canais existentes na costa marítima do sul do Chile. Por eles, trafegam transatlânticos oriundos de Puerto Montt em passeios turísticos à região. O primeiro a ser visitado é o glaciar Balmaceda, após 3 horas de navegação. Anos atrás, este glaciar terminava no Seño Ultima Esperanza. Em decorrência dum processo de retrocesso, a parte final da rocha, nos dias de hoje, apresenta-se despida de gelo. Seguimos navegando ao largo do cerro Balmaceda de onde despencam lindas cachoeiras formando gigantescos degraus tal qual uma escada monumental. Transcorrida uma hora e meia de viagem, alcançamos o setor do Parque onde se localiza o Glaciar Serrano, já no final do Seño Ultima Esperanza. Descemos para visitá-lo. Uma chuva miúda se faz constante durante a caminhada de 1 km, através dum bosque magalhânico, onde murtillas, chauras, calafates e outros arbustos ainda exibem seus frutos e flores. Este glaciar ainda não retrocedeu e finda numa laguna formada pela águas de seu degelo. Reiniciamos a navegação até a estância Perales onde desembarcamos às 14 horas. E não é que o sol aparece, ulálá! É nos servido um almoço típico: sopa de legumes, assado de cordeiro, galinha, lingüiça e batata. Acompanha uma salada com tomate e alface. De sobremesa, salada de frutas. Jarras de vinho tinto e branco são postas à mesa. Escolho o rouge, combina melhor com a carne. Terminada a refeição, retornamos ao confortável cutter onde deito num dos bancos e cochilo, pesada de tanta comida. Aportamos às 17 horas em Puerto Bories. Uma van nos leva de volta a Natales e passo na loja de Rodrigo, a dois passos da agência. Encontro-o muito animado, conversando ao celular com seu filho mais velho que mora em Santiago. Aponta prum prato de sushi. Provo dois. Deliciosos. Comprara duma amiga que passara na loja à tarde, oferecendo-lhe os petiscos japoneses. Conversamos um tanto, e Rodrigo convida-me pra ir com ele buscar Joaquim que se encontra na casa de Vitória, em Puerto Bories. Enquanto rodamos pela estrada, vejo, através do céu, encoberto por densas nuvens escuras, uma pequena janela de azul que permanece aberta até o escurecer. Será o olho de deus zelando por nós? Sou arrancada de tais divagações quando Rodrigo indaga se não quero ir com ele e Joaquim a Calafate amanhã. Fico balançada com o convite. Uma aventura e tanto viajar com os dois até essa cidade argentina onde estivera há seis anos atrás. Contudo, rola uma gana forte de conhecer Porvenir. Sei lá se por causa do significado da palavra, se pelo som agradável de seu nome ou porque se queda na ilha da Tierra del Fuego, outro lugar a povoar meu imaginário. Provavelmente pelos três motivos. E um breve e intenso dilema, na escolha entre os dois lugares, perturba minha habitual segurança. Unidunitê, salamê, minguê.....aiaiaiai. Então, tomo minha decisão: é pra lá que vou, o que está por vir!
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