quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Arco-íris no rappel

Sentadas em um banco no jardinzinho da pousada em São Jorge enquanto esperamos pra irmos à Fazenda São Bento, Valéria que, desde ontem se sente mal do estômago, a conselho do massagista com quem na noite anterior havia entregue seu corpitcho sarado para relaxar das trilhas até então feitas, chupa compenetradamente uma laranja, daquelas azedas, usadas pra fazer doce em calda, fazendo horríveis caretas enquanto ouve as prescrições do paramédico- massagista que lhe aconselha entre outras coisas a não beber leite porém “um traguinho tá liberado”. Ora, Pece que vem chegando e se inteira do fato, não crê no que seus olhos estão presenciando. Indigna-se naquele seu jeito gozativo e começa a desancar o pobre homem. Não contente, o demolidor Pece desfaz da credulidade de Valeria a quem chama de tonta! Foi risada geral porque realmente a cena é muito engraçada. A pobre coitada penando pra comer toda a laranja enquanto Pece desfia sua lógica cartesiana de economista tentando convencê-la e a nós também da tremenda esparrela em que Val caíra. Descubro, tardiamente, um bar, quase em frente à pousada, cujo dono, seu Claro, vende uma cachaça de arnica dos deuses! Nem hesito, compro meio litro da pinga e o simpático velhinho deitado na rede armada no interior de seu comércio me avisa que a beberagem “é casadeira, moça”. Respondo que se não conseguir um marido, volto à São Jorge pra casar com ele. Ri deliciado da minha resposta, o seu Claro. Passamos a manhã na Fazenda São Bento rapelando a cachoeira Almécegas 1, uma queda d’água com 45 metros que termina num lindo poço de águas esverdeadas. Quando estou no fim da descida sabe o que me espera? Um arco-íris colorindo o poço! Terminado o rapel vamos pra outra cachoeira, situada um pouco mais adiante, a Almécegas 2, menor que a anterior, onde nos esbaldamos no seu lindo poço de largos lajedos. Por lá ficamos até o meio da tarde, quando então embarcamos na van e vamos conhecer outra propriedade, o Portal da Chapada. Nesta fazenda, foi construída uma trilha de 3.200 metros sendo 2.400 metros sobre uma passarela de madeira que atravessa uma mata galeria por onde flui o rio dos Couros. Pode-se observar durante o percurso uma grande variedade de árvores: copaíbas cuja resina serve pra fins medicinais (a casca que reveste o tronco é fina tal qual uma lâmina, de cor avermelhada), almécegas (sua resina é cheirosa e usada como incenso), angélicas, babaçu, murici cuja flor amarela é miúda, murtinha, peroba, quina branca e muitas outras variedades de vegetação típica do cerrado. Chama-me atenção a semente da peroba branca: fininha e meio amarelada é envolta por uma casca esverdeada com uma tessitura acamurçada. De volta ao aprazível restaurante dividido em dois grandes ambientes abertos e cobertos de folhas de indaiá, compro na lojinha de conveniências um livro super legal intitulado 100 Árvores do Cerrado.
Consternada fiquei quando, ao retornar de Cavalcante, soube que uma queimada incendiara todo os recintos do Portal da Chapada. À tardinha, retornamos a Alto Paraíso e vamos almoçar no restaurante Bom Fass. Pacheco me assopra que o dono é gaúcho. Fico bem contente quando, em viagem, encontro um conterrâneo. Não perco tempo e logo entabulo um conversê com o Atila Damasceno, como ele se chama. Descubro que já vive há 15 anos na cidade. Conta-me que é primo-irmão do André Damasceno, humorista, a quem admiro por sua caracterização de magro do Bonfa, além de imitar várias personalidades famosas, destacando-se a hilariante imitação de Leonel Brizola. Este mundo é bem pequeno, pois não?

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