sexta-feira, 1 de abril de 2005

Banhos nas Termas

Há em Águas Calientes, como o próprio nome indica, várias fontes termais onde se pode tomar relaxantes banhos após a trilha. Na sexta-feira, acordo e me dirijo a uma delas. Lá fico por uma hora deixando meu corpo cansado imerso nas águas tépidas. Como tenho de pegar o trem de volta a Cusco, saio das termas e vou passear um pouco pela cidade, situada ao sopé da colina onde foi construída Machu Picchu. É uma cidade nova, nada tem de antiga, lembra-me vagamente o Rio de Janeiro, já que cercada por abruptos morros pontudos deixando entrever, em meio à espessa vegetação que os cobrem, a coloração escura de suas rochas. A cidade situa-se, na verdade, no canyon do rio Urubamba (vem a ser este rio nada mais nada menos que um dos tributários do nosso Amazonas), dando por isso a impressão de ser quase sufocada por essa sucessão circular de morros em cujo meio ela se encontra. Rasgada em duas pelo rio, cujas espumentas águas amarronzadas escorrem céleres e barulhentas por entre os grandes blocos de rocha de seu leito, unem as margens, onde se localizam os dois setores da cidade, duas ou três pontes. Caminho pelas ruas estreitas parando aqui e ali pra tirar fotos, percorro ladeiras de algumas ruas transversais à avenida que margeia o Urubamba, avistando num ângulo de 360º as imponentes formações rochosas, algumas exibindo um denso círculo de nuvens que encobrem seus topos. Estou a 2.300 metros acima do nível do mar. Escolho um barzinho simpático com telhado de palha e cadeiras de vime dispostas ao ar livre pra bebericar uma cervejinha enquanto curto umas galinhas e um galo que por ali ciscam em plácido sossego. Às duas da tarde meu trem parte para Cusco e lá vou em direção à estação de trens. Não demora muito, o trem vermelho e amarelo apita anunciando sua chegada. A gare regurgita de turistas, numa babel de línguas e pessoas entusiasmadas com as recentes aventuras vividas. Embarco em meu vagão e, por sorte, sento-me num banco à direita de onde posso durante boa parte do percurso enxergar o Urubamba cujo ímpeto nervoso só arrefece depois de transcorridos dezenas de kilômetros. A ferrovia atravessa vários túneis escavados nas rochas. Ao longo dela, mais ruínas incas, algumas situadas perto de seus trilhos, construídas nas encostas dos cerros, à esquerda da via férrea. Não muito longe de Cusco, o Urubamba cede lugar a um de seus afluentes, cujas águas chamam atenção devido à sua tonalidade avermelhada oriunda dos resíduos de argila que sua correnteza arrasta dos cerros por onde atravessa. Para me entreter durante a viagem de 4 horas, recordo da emoção que havia sentido na sexta-feira santa em Cusco, quando à noite tive a oportunidade de admirar a procissão de Nosso Senhor de Los Temblores. O cortejo solene, formado por uma multidão de fiéis, orava com fervor em voz alta. No centro desfilava, seguro por vários homens vestidos de preto, circunspectos, um magnífico andor onde, estendida, jazia uma imagem do Cristo, protetor da região contra os tremores de terra que tanto a abalam. Chego a Cusco à noite, o brilho das luzes das casas e dos postes de iluminação das ruas indicam que mais uma vez retorno à urbe.

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