Sou acordada por Nonato às
2:30. Ensonada indago dos meus botões “por que tu te metes nessas roubadas hein guria?” Pouca
demora, feliz por estar de novo com o pé na trilha, já nem lembro mais o fugaz momento
de revolta. Neste último dia de pernada, unimos os 2 grupos. Assim lá vamos nós,
Rafa, Nina, eu, Nonato e Biziquinho, caminhando entre as dunas cuja aclividade
e declividade é bem menos acentuada que a dos dias anteriores. As lagoas se
sucedem amiúde, uma ao lado da outra. Pode ser impressão minha, mas tô achando
que nesta parte do parque há maior concentração delas. Circundamos as lagoas
das Emendadas que como o próprio nome diz são intercomunicantes, fruto daquele
processo em que a água da lagoa escava a duna, terminando, nesse caso, por se unir
a outra situada nas proximidades. Nonato liga seu celular em alto e bom som pra
que a gente escute músicas e lá vamos nós dançando, alegres, sobre as dunas. Nem o
tempo nublado – permanece acinzentado quase toda a manhã salvo raros claros
quando o sol consegue furar o bloqueio espesso das nuvens – consegue empanar a
beleza estonteante da travessia. Impossível descrever com fidelidade o visual dessas
dunas que de tão brancas machucam os olhos se desprotegidos e das águas transparentes
e coloridas das lagoas, impossível!! Inexistem adjetivos que façam jus à
beleza desse espetacular cenário! Biziquinho leva Igor pra que ele aprenda o
caminho e possa quando mais velho fazer guiadas solo. A pernada de 17 km
tem seu fim na lagoa das Andorinhas. Conseguimos fretar um bandeirantes, evitando
assim uns bons 15 km de caminhada até o centro de Santo Amaro. Desde as
Andorinhas até a entrada da zona urbana, há dezenas de lindas lagoas. Às suas
margens, turistas sentados em cadeiras sob a proteção de guarda-sóis, ao
lado caixas de isopor contendo cervejas e refris, curtem o sabadão. Almoçamos
no restaurante do Gordo à beira do rio Alegria. O estilo é sem estilo pero a
comida farta, boa e barata. O arroz de cuxá com camarão é ótimo e a pescada
frita deliciosamente crocante. Nosso grupo se dissolve com as gurias retornando
a São Luís, Nonato com seu sogro, de quadriciclo, pro Canto do Atins; já Biziquinho
e Igor pernoitam na cidade. Consigo com as cariocas do outro grupo uma
carona até o trevo de Pedras donde pego outra até Barreirinhas porque lá deixei
carro e bici na pousada de Assis. Não há como deixar de notar o número de
igrejas evangélicas no Maranhão. Aliás, os evangélicos são os novos
bandeirantes da fé. Não desprezam lugar algum, seja uma vila como Atins,
pequenas cidades como Barreirinhas ou grandes centros urbanos. Termino a noite
jantando num dos restaurantes situados defronte ao rio Preguiças com Benélia,
uma fofa que conheci no trevo enquanto tentava pegar carona pra Barreirinhas. Lastimo
não conseguir alongar mais a noite na agradável companhia da baiana, radicada
em Sampa mas o cansaço da travessia tá cobrando seu preço. Guardo, todavia, a convicção de que nos encontraremos em outras quebradas, podicre!! Morta de sono só
quero ir pra pousada e dormir porque amanhã a viagem continua....uhuuu!!
Domingo, então, me mando pra Tutoia pela MA 315, estrada de chão batido que passa
ao lado das dunas e lagoas dos Pequenos Lençois. Embora tenham sido construídos
no parque torres de eletricidade, não conseguem esses trambolhos de ferro e
fios desmoralizar a beleza de cenário. Dou carona prum simpático professor que,
parado na estrada porque o carro estragou, precisa ir a uma reunião em Paulino
Neves. Chego ao final da manhã em Tutoia, situada à beira mar, bem em frente ao
delta das Americas, formado pelo rio Parnaíba e seus afluentes. A praia de
águas calientes tem dunas, mangues, rios e ilhas. Dou um rolê de bici à
tardinha e enquanto me banho no mar desfruto dum dos mais lindos pores do sol de
minha vida. Mais uma vez pedalando, vou jantar no restaurante Jhony onde há
mesas dispostas no calçadão. Escolho uma e lá me sento, pedindo moqueca de
peixe e caipirinha, bem preparadas ambas. O garçom, acredite se quiser, pergunta
se sou estrangeira (?!). Mas bah, seu garçom, bem capaz, sou brasileirissímamente brasileira! Embalada talvez pela caipirinha, faço uma superficial reflexão sobre os temperamentos do maranhense do sul e do norte. Enquanto o maranhense do litoral me pareceu mais expansivo, um tantinho abusado, o do sul deixou a impressão de ser mais sério, embora uma coisa seja certa: ambos são amabilíssimos. Bueno, mudando de saco pra mala, ou seja, dum estado pro outro, amanhã não mais
estarei no Maranhão, o que lamento porque adorei o estado. Contudo, devo continuar
o abraçasso em outras plagas. Piauí....já já tô chegando!
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