segunda-feira, 16 de julho de 2012

Findi em Sampa

Na segunda-feira, enquanto a maioria das pessoas pega no batente, estou eu aqui em Guarulhos esperando meu voo para La Paz. Este é o terceiro ano que volto ao país. Tudo por conta da curta distância, preços convidativos e, mais importante, pencas de montanhas acessíveis a montanhistas medianas como eu. Embora o avião só parta às 13 e 30, temerosa do trânsito empata-foda paulistano, aproveito a ida de Cassandra ao aeroporto pra pegar Dib que retorna da Bolívia, e me mando junto com ela até Guarulhos na madrugada. Nem o conhecimento de Cassandra sobre o trânsito, evitou que ela se perdesse na tal marginal Pinheiros. Ala putcha, como são mal sinalizadas essas cidades brasileiras! Tu fica rodando, rodando, igual a cachorro perseguindo o próprio rabo, terminando em lugar algum, puta que os pariu! Como a espera será longa até eu embarcar (cheguei as 4 da manhã), deixo as duas malas no depósito de bagagens e fico zanzando de seca pra meca até as 8 da manhã, quando, então, exausta de sono, me dou por vencida e estendo meu corpitcho sobre duas mesinhas laterais às poltronas, caindo instantaneamente numa profunda e reparadora sonequinha. Apesar da curta duração - justo uma hora - bastou pra recarregar minhas baterias. Enquanto o boeing da BOA, companhia estatal boliviana, sobrevoa os céus, saboreio as lembranças de meu findi em Sampa onde revi amigos queridos, com direito inclusive a um pedal, organizado por uma de minhas anfitriãs, Vivi Mar, aguerrida esportista e aventureira. A querida menina convocou as amigas do peito e assim percorremos alegremente algumas das diversas trilhas que rasgam a serra da Cantareira naquela ensolarada tarde de sábado. Até então nutria pouca simpatia pela cidade. Dessa vez Sampa (devem ter sido os bons programas proporcionados pelas boas companhias) me pegou dum jeito que passei a vê-la com novos olhos, curtindo legal a tal de “dura poesia concreta de suas esquinas”, como tão bem definiu Caetano naqueles versos memoráveis sobre esta nem tão assim desvairada Paulicéia. A caminho da casa de Fabio, namorado de Vivi, de onde o pedal iniciou, assisti a um grandioso evento evangélico, animado por carros de som semelhantes àqueles usados pelos trios elétricos. Congregando milhares e milhares de pessoas que se moviam ao longo de uma das pistas da avenida 9 de Julho, o encontro religioso se estendeu até a noite. De olhos fechados, sentada no desconfortável assento da classe econômica, meu coração se aquece quando lembro a hospedagem generosa de Rosa, o sorriso largo de Cassandra e a agradável tarde domingueira que desfrutei na companhia de Barbara. Ah, graças às agulhinhas mágicas da acupuntura, aplicadas por esta gentil amiga no meu joelho, contundido durante o pedal do dia anterior, fiquei inteiraça e pronta pras montanhas bolivianas. Dá pra esquecer a sopa preparada pela hospitaleira Sandra, sogra de Vivi, e o tragoleu de vinho do Fabio, cuja língua ficou tal qual à de um chow chow? Bem capaz! Delicioso repassar bons momentos!! E foram tantos! Sem preço a carga de vibrações positivas que esses amigos me transmitiram. Na atual fase de minha vida, sofrendo em ver a derrocada mental de minha mãe, acometida pelo Mal de Alzheimer, foi um refrigério compartilhar momentos tão descontraídos junto a pessoas tão especiais. Quem tem amigos, de fato, não morre pagã! Já em El Alto, pego um táxi cujo motora, quando sabe que sou brasileira, entabola um conversê animado durante o trajeto até La Paz. Conta que, há 20 anos atrás, morou 2 anos em São Paulo, se exibindo com um conjunto de música folclórica boliviana. Confidencia que noivou com "una brasileña....muy distinta, muy distinta aquella señorita”, enfatiza com voz suave. E as confissões prosseguem. Revela, sem que eu tenha indagado, não ter sido essa a dama que se tornou sua “señora”. Aí sim, curiosa, disparo um "por quê?", permitindo, com essa oportuna deixa, que ele dê continuidade ao seu relato (acredito que mesmo que eu não houvesse perguntado, ele teria contado!). Esclarece que, em visita a La Paz, decidiu que seria incapaz de deixar pra trás sua mamacita, uma solitária viúva. Sua voz torna-se compungida quando relembra que, durante um tempo, enrolou a noiva brasileira, sem coragem de contar que não “volveria’. Um dia, encheu-se de coragem e, com o coração partido, falou a verdade. Que baita 171 emocional esse taxista de olhar pidão e voz de veludo!! A brasileira nem sabe do que se livrou, embora o sujeito fosse muito simpático e envolvente. Mas todos os safados o são, hehe. Por indicação de Davi Marski, líder da expedição a que vou me juntar no Condoriri, hospedo-me na Casa de Huespedes Montañes, ubicada em la calle Sagarnaga, zona de intenso comércio paceño. Ao contrário do ano passado, peço apenas uma sopinha com fatias de pão durante a janta. Não pretendo repetir a mancada do ano anterior  quando inventei, no primeiro dia na cidade, de mandar ver num restaurante chinês. O resultado? Puta dor de cabeça como se tivesse sido escoiceada não por uma mas por dezenas de mulas. Sem falar nas náuseas e vômitos durante um dia inteiro. Suo frio só de lembrar.

3 comentários:

ronie disse...

a Bolivia eh demais, adorei La Paz, toda cultura, uma cidade simples e muito bonita.

as montanhas entao sao demais, Huaina Potosi, etc... eita lugar bonito! quero voltar....

mas pedalar nessa altitude eu ainda nao pedalei, tenho curiosidade de como seria um pedal a 4000 metros de altura!

voce esta de parabens pelas aventuras, jamais consegue ficar parada!

beijos
Roney

Miriam Chaudon disse...

Bea, estava sentindo falta dos teus divertidos e "saborosos" relatos! Realmente vou degustando cada frase que leio de tuas postagens onde contas com tão natural fluência.
Muito bom vê-la novamente em seu playground montanhoso!
Preciso aprender muito contigo, amiga...tua alegria e positividade são contagiantes!!!
Muitos beijos!

Cassandra Cury disse...

Bea!!!! É sempre uma delícia os seus relatos e suas aventuras!!
Parar jamais, não é, amiga?
Besos