Vamos
eu, Bruno e sua amiga Vitoria ao Recanto das Famílias depois da partida de
Douglas. E Bruno tem razão quando ontem nos convidara pra vir curar a ressaca
no balneário. A temperatura fresca das águas cor de caramelo é um bálsamo pra
qualquer mal estar. E finalmente, na quarta-feira - aleluia! - começo a
conhecer a verdadeira Chapada das Mesas que tanto desejei! Que me perdoem os
farofeiros, mas Itapecuru e Lagoa Azul não fazem meu estilo. Graças então a
Aline, sou apresentada à Valeria que com seu marido Marcelo são donos da
estância ecológica Vereda Bonita. Combino um programa de dia inteiro pra
conhecer o lugar e pra lá nos tocamos, Bruno mais eu pela BR 230, enveredando
após 35 km numa estradinha de chão batido até chegarmos à sede da estância.
Banhado pelo rio Pedra Caída, um dos afluentes do Tocantins, o sítio alia
empreendimento turístico à recuperação e preservação do cerrado, visando ainda
à autossustentabilidade. Na passeio, guiado por Alaô, um bruxo que sabe tudo
sobre vegetação do cerrado, ele vai dando uma aula master sobre o assunto enquanto percorremos porções de cerrado, mata ciliar de
transição entre cerrado e floresta amazônica e campo. Durante toda a pernada,
nos acompanha a linda pastora alemã capa preta de pêlo longo Hanna. Na paisagem
pontuada por morros, tipo testemunhos, destacam-se o do Olho, um dos mais altos
da região, e o morro do Navio. De estaturas não muito elevadas e pouco
extensas, distinguem-se ainda as serras do Gado, Magra e a da Pirâmide da Pedra
Caída. Uma pequena parte do tour é feita no rio Pedra Caída, numa canoa movida
à vara conduzida por Elisafan, caseiro do sítio. Da água emergem troncos de
árvores cuja aparência espectral contrasta com o visual lindamente azulado do
céu manchado aqui e acolá por fiapos de nuvens. No curso do córrego Veredinha
há inúmeras cascatinhas e piscinas naturais onde numa delas encontro uma cesta
com frutas e água mineral. Não acredito no que vejo: merendinha em plena
manhã!! Que gesto delicado o de Valeria! Paro pra me banhar em vários pontos do
Veredinha cujas águas amareladas são clarinhas, clarinhas. Realmente é um
paraíso das águas este lugar. Terminado o passeio nos espera um baita almoço
preparado por Rita, mulher de Elisafan, cozinheira de mão cheia. Da refeição
fazem parte bifes acebolados com tomate, arroz, farofa, feijão mais salada de
alface, cenoura e beterraba plantadas na horta; de sobremesa, doce de banana
com gengibre. Empanturrada depois de comer e repetir, não resisto ao apelo da
rede e me jogo nela pra fazer a digestão acabando por pegar no sono. No meio da
tarde, com a temperatura mais amena, saímos de caiaque remando no rio Pedra
Caída, numa gostosura de navegação sem correnteza forte com Hanna nos seguindo
água adentro. Na volta, Alaô dá carona pra cadela que, cansada de tanto nadar, se
acomoda bem quieta na proa do caiaque. À tardinha, com o sol já se pondo, pegamos
a estrada retornando à cidade. Embora cansados eu e Bruno nos sentimos
revigorados daquela imersão na natureza. No último dia de minha estada em
Carolina, quinta-feira, me mando com Alaô pra conhecer a cachoeira do Talho e o
morro do Buda. A rodovia é a mesma BR 230 bem como é a mesma a estrada de
chão batido que nos levou ontem à Vereda Bonita. Em vez de seguir em frente,
dobramos à esquerda enveredando numa estreita estradinha que é puro arenal. A
do morro do Chapéu foi fichinha, essa sim é prova de fogo!! Alaô graças a deus
não me atormenta como Douglas o fizera. Aliás, ele nem fala nada, um alívio.
Dirijo me sentindo um tantinho nervosa mesmo estando com o carro traçado 2
vezes!! Embora sejam só 4 km até a cachoeira do Talho a distância me parece, sei
lá, interminável! Em chegando lá, atravessamos o estreito leito do rio Talho
onde foram escavadas pequenas bacias resultantes da ação erosiva da água na
rocha. Desce-se um barranco até o final do pequeno brete donde a cachoeira
jorra expressivo caudal espumoso. Os raios de sol filtrados pelas folhas das
árvores semelham labaredas líquidas quando incidem num tronco caído n’água. O
lugar é maravilhoso rodeado por farta e verdejante mata. Dali seguimos até o
morro do Buda, pertinho da estradinha arenosa, de onde se tem um visual
panorâmico da região. Várias serras e chapadões até onde a vista alcança, bem
como o encontro dos rios Tocantins e Pedra Caída. Tudo muito verde porque se
está recém saindo da época das chuvas. O morro do Olho bem pertinho me lança
sua indiferente mirada pétrea. No topo do morro, esplêndido conjunto de pedras
esculturais sobressai, entre elas as expressivas Buda e Disco Voador. No meio da
colina, um círculo de rochas forma como que um anfiteatro. Putz, baita esse
lugar pra acampar ou dar uma festa. Na tarde linda, quente, besouros dão
rasantes a um palmo de minhas orelhas como se fossem aviões supersônicos. Eis
que o silêncio da tardinha é rompido pela enérgica intervenção musical de Chico
Preto, ave que imita o gorjeio de vários pássaros, trinando, dessa feita, seu
próprio canto em alto e bom som. Ufa....custou mas enfim encontrei tudo o que
imaginava fosse a Chapada das Mesas, podicre!!
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