terça-feira, 4 de novembro de 2025

Portugal: Valença

Pesquisando roteiros pra continuar minhas andanças pela península ibérica, me interesso pela Galícia, não especificamente pela galega Santiago de Compostela, destino final dos peregrinos, pero pela localização daquela comunidade autônoma espanhola à beira do Atlântico. Deve, por isso, oferecer variedades de pratos à base de frutos do mar que curto à beça. Como Valença fica fronteiriça à Espanha, a poucos kms de Vigo, parto de Aveiro rumo ao norte. Decorridas quase 4 horas de viagem de bus, tendo visto de revesgueio Porto e Viana do Castelo, chego a Valença ou Valença do Minho. A histórica cidade, fincada no norte de Portugal, tem apenas 16 mil habitantes. Saio da estação de camionagem e sigo o google maps que indica estar meu hostal a 2 km de distância. Não tenho a mínima ideia do que irei encontrar, apenas sei que o hostal fica próximo à cidade histórica. Sigo firme e forte seguindo a orientação da bússola digital, atravesso um parque onde numa das várias bolas coloridas dispostas ao longo do caminho, lê-se a inscrição "Pedras no Caminho" (deve ser referência à peregrinação). De repente, eis-me na frente duma muralha que antecede outra muralha onde uma baita porta encimada por um brasão desemboca numa praça cujo chão está f0rrado das folhas caídas das árvores... afinal, estamos em pleno outono. No lado direito, a capela de São Sebastião. Estou boba de tão feliz!! Uma cidade histórica super preservada com uma muralha a guardá-la por inteiro!! Não são só ruínas daquela época medieval!! Mas todo um magnífico conjunto arquitetônico datado de séculos atrás! Continuo caminhando pelo que parece ser a rua principal, com lojas de roupas em ambos os lados das 2 calçadas. Num largo, a igreja de São Teotônio, padroeiro da cidade, rodeada por restaurantes. Meu hostal, um prédio antigo, construído em granito, fica numa viela perpendicular à principal. Pra entrar, o dono envia um código que digito no porteiro eletrônico e a porta se abre com um clique. Muito tri o hostal, parece casa de vó, super aconchegante. No 1° piso, sala e cozinha, tudo novo e bem equipado. No aparador de madeira, produtos para o desjejum estão à mostra, juntamente com louças, talheres, cafeteira e torradeira. Chocolates, vinhos e cervejas estão à venda. Sofá e poltronas num canto da sala além de enfeites nas paredes e sobre prateleiras. Um ambiente colorido e moderno num prédio que deve ter, sei lá, centenas de anos. No piso superior, um quarto com 5 beliches e 2 banheiros. No piso térreo, outro quarto com mais 5 beliches e 2 banheiros. O dono, argentino de Buenos Aires, radicado há muitos anos em Tui, pede que a gente não suba de sapatos pros dormitórios. Homem agradável, falante como um bom hermano que é. Guardo minha mochila no armário que fica no 1° piso e trato de explorar a cidadela. Famosa por suas impressionantes muralhas medievais que protegem um centro antigo rico em história, comércio e arquitetura, Valença situa-se na margem esquerda do Rio Minho, baliza geográfica entre Portugal e Espanha. O acesso pode ser feito a pé à espanhola Tui, bastando cruzar o Rio Minho pela ponte de ferro. Ao longo da rua principal, muitas lojas vendendo roupas de cama, banho e infantis além de artesanatos em palha e cerâmica. A maioria dos prédios antigos foram recuperados, incluido aí o do hostel onde estou hospedada. Só quero conhecer de Valença seu centro histórico e mais não me interessa porque a cidade me pareceu desinteressante durante o trajeto que fiz da estação de camionagem ao centro histórico. Tenho um mundo a explorar, a começar pelas estreitas ruelas assim construídas pra dificultar a passagem dos exércitos inimigos. Naquela época, Portugal e Espanha estavam divididas em reinos que viviam peleando entre si. Daí as cidades serem fortificadas. A maioria foi destruída, contudo esta se manteve intacta...aleluia!! Os seus 5 km de muralhas, que remontam ao século XVII, formam um complexo militar formado por expressiva rede de baluartes e de áreas que se comunicam entre si por meio de fossos, pontes e passagens inferiores, exibindo ainda bastiões e guaritas. Todo o conjunto permitia uma grande área de visibilidade e de fogo, constituindo-se assim uma “obra maior” da história militar portuguesa. A fortaleza divide-se em duas áreas interligadas pela denominada Porta do Meio. A área norte, chamada Magistral, envolve o núcleo medieval da vila e a área sul, menor e mais aberta, com função meramente militar, denomina-se “Coroada”, dá vista para o rio Minho e Tui. Há várias portas como a da Coroada, a do Sol, a da Vila, a da Gaviarra, a da Cadeia. Atravesso algumas delas e me delicio ao passear por seus corredores escuros desembocando em áreas claras como num passe de mágica. Ao ver a famosa concha dos peregrinos insculpida no chão da rua principal, diante da Porta do Meio, cai a ficha que Valença faz parte da rota portuguesa do Caminho de Santiago de Compostela, atraindo centenas de peregrinos. Aliás, conheço dois, um mexicano, pessoa agradável e de fácil trato, o outro, argentino também de Buenos Aires, é um tipinho arrogante que resolve implicar comigo. Por eu ser mulher, por ser brasileira? Ou pelos dois? Volta e meia faz questão de frisar que não entende nada do que eu falo em português. Comenta o boçal que também não entende o falatório da sua mulher, uma portuguesa, daí os 2 se comunicarem em inglês. Se diz professor de inglês mas não sabe o significado de bulwark (nome do hostal) tampouco de trendmill. Pode um profe de inglês ignorar o significado dessas 2 palavras no idioma de Shakespeare? Eu hein? Ronca que nem uma serra a noite toda, tanto que o mexicano na primeira noite me confessa que mal pode dormir por causa dele. Eu, na segunda noite, mesmo curtindo uma série na Netflix com meus fones de ouvidos, custo a pegar no sono por causa do roncador!! Fico 2 dias na cidade, um pouco porque chove e não adianta seguir viagem já que em toda a região o mesmo acontece, outro porque estou adorando a cidade e o hostal. Ah, a única coisa boa que deu pra aproveitar do argentino pelotudo foi que fico sabendo que há mais de 20 caminhos de peregrinação a Santiago de Compostela. Pela primeira vez, me interesso em fazer umas das caminhadas. No primeiro dia na vila, apenas passo pela frente da pequena e atraente capela do Bom Jesus, entretanto entro não só na igreja Matriz de Santo Estevão como na de Santa Maria dos Anjos que remonta ao século XIII. Bem preservado o marco miliário, construído pelos romanos e datado do século I DC, indicava a distância entre cidades. Na rua principal, uma das tantas lojas de roupas chama atenção pela sua fachada adornada com ricos azulejos: é a Casa Azul. Vagueio a esmo e numa das andanças, entro num bar e peço uma taça de vinho, sendo atendida pelo simpático garçon colombiano. Como tem gente deste país aqui em Portugal! Amanhã, se o tempo permitir, vou conhecer Tui e já tenho dica dum restaurante que me foi dado pelo Ernan, dono do hostal. 

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