segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Portugal: Aveiro

Nesta época do ano, tem de se consultar a meteorologia no planejamento das viagens. É o que faço. Constato que na segunda haverá bom tempo pra ir a Aveiro. A trip dura 2 horas e do outro lado da estação de camionagem, chama atenção a linda estação de trem com fachada branca, retratando em azulejos cenas da vida marítima. Localizada na região central de Portugal, com cerca de 70 mil habitantes, Aveiro é um importante centro urbano, portuário, ferroviário, universitário e turístico. A caminho do hostal, uma linda casa branca em estilo art nouveau se destaca: é uma pastelaria (confeitaria pra nós brasileiros). Apesar de ser 10 horas, entro e peço 2 ovos moles de aveiro acompanhados por um cafezinho que serve pra rebater o dulçor da iguaria. Este doce foi criado nos conventos femininos de Aveiro. A proximidade do mar inspiraram as freiras a criar uma crosta de massa de hóstia em forma de conchas, búzios, peixes ou amêijoas preenchidos com creme de gema de ovo. É de comer rezando, literalmente, de tão bom. Desde a Idade Média, Aveiro esteve sempre ligada ao comércio do mar, à pesca e à produção de sal porque se situa junto à Ria de Aveiro, braço de mar que penetrou na foz do Rio Vouga, misturando-se assim as águas salgadas do Atlântico às águas doces oriundas de vários rios que desaguam nesse rio. Reservo um dia apenas pra ficar na cidade, então faço um roteiro enxuto e adequados aos meus interesses: passear de moliceiro pelos canais, conhecer a Praia da Barra e a Costa Nova pois, pelo que li, o centro histórico não apresenta grandes destaques.O hostal, super bem localizado, está a uma quadra do canal central. Como falta um par de horas pro check in, deixo a mochila na recepção e vou dar uma banda pelos arredores. A dois passos do hostal, se encontra os Jardins do Rossio onde sobressai gigantesco letreiro AVEIRO feito em pedra imitando azulejos. Fincadas sobre pilares, numa das pontes sobre o canal, 2 estátuas retratam as atividades praticadas pelas salineiras e marnotos, mulheres e homens que trabalharam, em tempos idos, nas salinas. Passo ao largo delas porque, nesta época do ano, os terrenos se encontram alagadas, somente no verão, os montículos esbranquiçados de sal dão o ar da graça. Dezenas de assanhadas gaivotas voam graciosamente sobre o canal Central. Atracados nas docas, os tradicionais e coloridos barcos de madeira, com suas proas e popas alongadas, eram usados antigamente para coletar moliços (algas). Atualmente, os moliceiros são a principal atração turística da cidade, oferecendo passeios pelos canais da Ria de Aveiro, daí a cidade ser considerada a "Veneza portuguesa". Embarco num, defronte ao mercado do Peixe, e percorro durante 45 minutos os 5 canais urbanos da ria. O primeiro a ser percorrido é o Central onde se pode curtir os belos prédios em art nouveau, construídos no passeio diante do canal, sobressaindo o Museu de Arte Nova. O simpático guia vai descrevendo os pontos de interesse turístico e contando estórias sobre a cidade. Na proa, um roliço marinheiro dirige o barco, fazendo soar um apito a cada vez que se dobra num canal de modo a avisar aos outros moliceiros de sua entrada. Quando atravessamos o canal de São Roque, no bairro da Beira-Mar, além das casas usadas como armazéns de sal, muitas delas hoje transformadas em restaurantes, passamos ainda sob 2 pontes, a do Laço e dos Carcavelos, destacando-se contudo a dos Laços de Amizade, no canal do Cojo, onde milhares de fitas coloridas enroladas no gradeamento metálico dão um toque vivaz à ponte. Ao término da navegação pelos canais, vou a uma agência de aluguel de bikes. Embora eu possa alugar gratuitamente uma buga - bicicletas de utilização gratuita disponibilizadas pela Câmara Municipal de Aveiro -, prefiro alugar uma elétrica pra ir à Costa Nova porque será mais rápido pedalar este tipo de bike e já são 13 horas. No início, pedalo meio canhestramente porque é a primeira vez que ando numa bike elétrica mas logo logo já a estou dominando e adorando conduzi-la. Enquanto pedalo, vejo na laguna, patos e garças, ao longe a serra do Caramulo. A primeira parada é na Costa Nova, conhecida por seus palheiros, as casas cujas fachadas são pintadas com listras verticais em amarelo, verde, azul e vermelho com pequenos jardins protegidos por cercas de madeira coloridas diante de cada uma. Eram as antigas casas de pescadores onde eles guardavam as redes e materiais de pesca. Suponho que sua pintura era uma maneira de destacá-las aos olhos de quem vinha do mar. Num das casas, afixado ao muro uma carta assinada por Eça de Queiroz, datada de julho de 1853, destaca que "...E eu considero a Costa Nova um dos mais deliciosos pontos do globo. É verdade que estavamos lá em grande alegria e no excelente palheiro de José Estevão.". Depois do almoço, continuo a pedalada e passo por dunas que antecedem a chegada à Barra onde se encontra o mais alto farol do país. Pintado de listras brancas e vermelhas, ele se encontra no meio da larga faixa de areia da praia, diante de vários edifícios. No verão, a Barra deve ficar apinhada de veranistas. Bom que eu vim no outono onde se avista pouca gente...aleluia!! De volta ao centro da cidade, entrego a bicicleta e ando a esmo chegando à praça da República. Calçada com pedras formando desenhos circulares brancos e azuis, destaca-se o prédio da Câmara Municipal de Aveiro que exibe no topo de seu pórtico uma torre com sino e logo abaixo um gigantesco relógio. Na mesma praça, a igreja da Misericórdia cuja fachada é toda revestida de azulejos. Do outro lado do canal Central, num pequeno largo, a fumacinha cinzenta que sai da chaminé do carrinho vermelho das castanhas, indica que elas estão sendo assadas. E por fim, ainda conheço a Igreja de Nossa Sra. da Apresentação cujo atrativo são 2 enormes paineis em azulejo, representando cenas religiosas, que ladeiam a porta entrada. Antes de retornar ao hostel, passo por uma sorveteria e ali me delicio com o melhor sorvete da viagem. Numa casquinha crocante, 2 generosas bolas, uma de chocolate com amêndoas, a outra de creme ao vinho do porto...uma delícia!!

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